05/02/2024

Chegou ele, o famoso, o fatídico, o temido, o iminente, o dia de mudar o nome do blog.

Infelizmente blogueiras gostosas também passam por isso, acontece nas melhores famílias, esse dia chega pra todos etc.
Já tem um tempo que a vontade de mudar o nome do blog tava chegando de fininho e se anunciando na minha mente. Esse anglicismo ''lake'' já não faz mais sentido pra mim, além do que já fiz sim as pazes com a praia e gosto cada vez mais de virar um croquete na areia, mas não sou tão aquática assim pra ficar fazendo alusão a LAGUINHO.

Então vou mudar o nome do blog mas só de leve, sutilmente (pois sou assim discreta, uma moça, uma dondoca), pra combinar mais comigo.

Porém também sou #burra e não manjo de HTML e ESSAS COISAS DE COMPUTADOR, não sei como fazer pra redirecionar quem chegar no link antigo pro novo. Vou tentar fazer uns arranjos mas não sei se vai funcionar. Então tô aqui avisando com antecedência, e quem chegar nesse post chegou e vai saber que foi só a URL que mudou e ir pra nova (se quiser); e quem não tiver chegado a tempo e tentar chegar depois que? vai dar de cara com a mensagem de que o blog foi removido e ter a certeza de que eu tive a crise de identidade final e sucumbi ao impulso de deletar todos os rastros da minha existência na internet, finalmente, coitada, que descanse em paz.

Então o nome do blog e aquela URL ali vão mudar pra krahelin.blogspot.com, em breve eu faço as alterações definitivas.

Te espero do outro lado? Vendo pelo lado bom, agora ninguém vai precisar chegar lá (aqui) nadando.

23/01/2024

Berrando histérica no meio da avenida.

Eu passo muito tempo da minha vida pensando no tamanho do ABSURDO, da ATROCIDADE que é a gente ficar quarenta horas por semana OU MAIS (!!!!!!!!!!!!!) na droga do trabalho, vendendo nosso CORPO ENERGIA TEMPO ALMA em troca de um salário mínimo que não nos permite comprar um Subway de consolo (frango defumado com cream cheese, por favor) no fim de semana sem ficar contando moedas.

E tipo a gente só SEGUE A VIDA como se nada estivesse acontecendo, como se fosse super normal estarmos nessa roda de hamster do Jigsaw que nos MÓI aos pedaços dia após dia, como se ficar mais tempo no trabalho do que em casa não fosse uma VIOLÊNCIA, como se não fosse tão atroz quanto chutar barriga de grávida e atropelar idoso na calçada, como se a gente não devesse estar queimando pneu na rua agorinha mesmo.

I have a dream

Óbvio que sei que a gente segue porque não tem outra escolha mesmo, somos POBRES e é só o que o pobre pode fazer, seguir em frente nessa giromba pra sobreviver com o básico do básico até cair morto. Sei que tem gente em situações muito piores do que a minha (nem IDEIA de como conseguem) e que só o fato de poder me dar ao luxo (KK?) de estar aqui reclamando enquanto uma galera tá sendo prensada no transporte público ou levantando enxada abaixo de sol escaldante neste exato momento já pode ser considerado um desaforo. Mas é que isso me atormenta de verdade, e eu sei que a gente só pode continuar porque NÃO TEM OUTRA OPÇÃO, mas ainda assim não consigo me conformar com minha submissão a esse esculacho (por pura exaustão, é claro), porque o que eu tenho vontade mesmo de fazer todo dia em que já levanto da cama PODRE EXAUSTA ACABADA AOS PEDAÇOS às sete e pouca da manhã é ir pro meio da avenida ficar berrando HISTÉRICA até alguém chegar pra saber o que tá acontecendo?

-A GENTE PASSA MAIS DE QUARENTA HORAS SEMANAIS NA MERDA DO TRABALHOOOOOOOOOOAAAAAAAAAAAAAAAAOOOOOOOAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.

Isso ou não sei, começar algum motim no meio do ônibus às sete e quarenta da manhã.

Berrar não ia adiantar nada. Mas eu também fico inconformada com o tanto que a gente só pode seguir em frente, só aguenta, como se estivesse tudo bem, como se fosse normal vivermos podres de cansados o tempo todo, como se todo mundo estivesse ok e resignado com isso.

Mas é claro que não estamos, não é normal, ninguém tá bem, ninguém aguenta mais essa desgraça e as pessoas não conseguem ficar berrando no meio da avenida porque têm que correr pra bater o ponto. Mas se eu parasse qualquer um na esquina e começasse a falar sobre como me sinto PODRE o tempo todo sei que logo seríamos dois falando sobre como nos sentimos PODRES o tempo todo porque ninguém tá bem e ser pobre é a maior desgraça que tem vsf essa merd# ainda não me acostumei com essa porr@ e já são vinte e cinco anos dessa car*lha e contando.

Não aguento mais trabalhar.

É muito DIVERTIDO lidar com a armadilha diária de precisar trabalhar o dia todo pra poder fazer as coisas que quero fazer pra construir minha vida e não conseguir fazer nenhuma dessas coisas no fim das contas porque não tenho tempo já que trabalho o dia todo. Eu queria poder estudar pra poder dar um futuro melhor pra mim mesma mas preciso de dinheiro pra estudar então trabalho pra ter dinheiro pra estudar mas como estou trabalhando não consigo estudar pois estou trabalhando ou cansada demais depois de trabalhar o dia todo UM CICLO DE PURA ALEGRIA e esse parágrafo tem sido a história da minha vida e de quase todos nós salário é pouco não dá pra nada desempregado também não dá e desse jeito a vida segue sem melhorar.

E pra ter conforto e ganhar tempo (a moeda mais escassa na minha carteira e também a mais preciosa) nas idas e vindas casa > trabalho > estudos > casa que perpassam todo o meu dia eu queria fazer uma carteira de motorista porque já tenho vinte e cinco anos mas me diga COMO fazer isso se todas as horas do meu dia excetuando as de coma na cama entre meia-noite e sete e vinte da manhã já são completamente ATOCHADAS com as ocupações e compromissos inadiáveis de casa > trabalho > estudos > casa. E muitas outras demandas mais, todas impossíveis. Porque se tu não tá no trabalho tu tá exausto depois de ser consumido pelas extensas horas de trabalho.

É claro que o problema é a jornada. Eu nem gostaria de parar de trabalhar por completo gostaria sim, ficaria meio disfuncional sem esse compasso condutor que colocasse minha rotina nos eixos. O que eu não quero e ninguém deve querer é trabalhar ASSIM. O DIA TODO. E o antepenúltimo parágrafo tá impreciso, porque eu não gosto de trabalhar mesmo, tenho o mínimo de senso, amor próprio e instinto de autopreservação. Mas o que eu ODEIO é trabalhar ASSIM, ter todo o meu dia consumido pelo trabalho.

Esses tempos me dei conta de que eu não pegava sol há um tempinho, não conseguia parar pra sentar ao ar livre e tomar um solzinho por meia horinha, porque quando saio do trabalho (correndo como se não houvesse amanhã pra não perder o ônibus) em uma horinha ou menos o sol já se foi, e nesse horinha eu ainda não parei de correr pra chegar a tempo à aula.

O SOL, cara, não conseguir pegar SOL, que fica literalmente FLUTUANDO NO CÉU PRA TODO MUNDO O DIA TODO DE GRÁTIS. Não dá pra pegar sol, nem isso, porque o dia todo eu tô enfurnada no trabalho. Quão surreal é isso, sermos privados de sentir o sol sobre nossa cabeça porque estamos atucanados demais tendo que trabalhar à exaustão? Quer dizer, que merda é essa?

selfie

Mas volto, o que me mói é o capitalismo, óbvio a jornada. Ninguém nesse planeta, não importa quão tranquilo seja o trabalho que a pessoa exerça, NINGUÉM deveria trabalhar quarenta horas por semana ou mais, não entra na minha cabeça que a gente faz mesmo isso, mas meu corpo tá sim muito familiarizado com essa realidade. Porque trabalhando quarenta horas por semana eu não vivo no tempo que resta, eu vou LEVANDO, vou arrastando tudo, vou empurrando, tentando, resistindo, sobrevivendo. E eu sei que eu ainda sou uma das ''sortudas'' e que essa jornada, que já é absurda, nem é regra pra todos. Surreal.  

Sei que esse papo (meu pai bem diria) parece conversa de quem viveu no fim do arco-íris a vida toda e só descobriu agora que DÃÃ, as pessoas trabalham pra sobreviver, mas não é meu primeiro ano nessa labuta, nem o segundo, nem o terceiro, nem o quarto e contando e contando e contando. Mas eu tive uma experiência tenebrosa no meu emprego anterior e só tô conseguindo desenvolver esse texto agora, depois de sair dele.

Fiquei mais de cinco anos num trabalho que honestamente em uns três meses já começou a me fazer MAL, mal mesmo, mexia com a minha saúde e me derrubava física e psicologicamente de um jeito que nada deveria ser capaz. Nesses mais de cinco anos cheguei a me afastar duas vezes por motivos de saúde (colapso o nome), mas a verdade é que segurei a barra e paguei na pele pra não ter que me afastar AINDA MAIS, porque aquilo lá tava acabando comigo.

Não sei se todo mundo aqui já passou por experiência parecida, sei que aqui tem bastante gente ferrada então as chances são grandes, mas também espero que não, não desejo isso a ninguém. Mas eu vivi essa experiência com um trabalho horrível a ponto de sugar toda a minha alma, então mesmo quando eu não estava trabalhando, estava mal por causa do trabalho, um ciclo dos horrores sem fim. Foi das piores coisas que já vivi a sensação de morte (o termo nem é exagero, eu desenvolvi um quadro tenebroso de depressão e as bests andam juntinhas) ao acordar pra mais um dia de trabalho mal conseguindo levantar da cama de tão emocionalmente debilitada que aquele serviço me deixava. Eu não sei como conseguia tirar a cabeça do travesseiro, fisicamente falando, até, porque o peso, o peso absolutamente deprimente que aterrissava sobre mim toda vez que eu acordava sabendo o que me encarava em mais um dia, era insustentável.

É doido pensar que tenho 25 anos, minha vida é curta mas também já vivi algumas coisas, já sofri uma perda atroz e irreparável, já passei por doenças e internações hospitalares, conheço de perto os horrores da depressão na minha mente e os efeitos debilitantes da quimioterapia em um corpo amado, passei por crises de família e rompi dramaticamente, em meio a linchamentos online, com o núcleo social onde me criei e cresci depois de 2018, UMA PANDEMIA BOLSONARISMO FASCISMO... Enfim, já passei por coisas como todo mudo aqui; e mesmo em face a todas elas, o trabalho foi a pior experiência que já tive em toda a minha vida. Algo que deveria ser simplesmente uma fonte honesta de sustento se transformou num mecanismo sistemático de degradação da minha saúde física e psíquica. Quão doentio é isso, quão triste e horrível.

como que bate o ponto com as mãos imobilizadas

Já conversei com colegas de cargo a respeito, todos completamente ferrados como eu estava, e chegamos à conclusão de que não conseguiríamos fazer mais nada da vida enquanto não saíssemos daquele buraco, porque toda a nossa energia (necessária pra fazer outras coisas da vida) estava concentrada em chegar sãos ao fim da semana. Ano passado sinto que cheguei no poço mais fundo de tristeza com o trabalho, não conseguia fazer nada porque tava naquele lugar horrível mas pra sair daquele lugar horrível eu precisava fazer alguma coisa (estudar pra concurso, no meu caso), presa numa arapuca das piores. Lembro de ter essa conversa com meu melhor amigo, que conheci no trabalho, e dizer que em algum momento do futuro a gente ia olhar pra trás e ter a ciência de que esses foram os piores anos da nossa vida e ele concordou comigo, as chances são grandes.

E veja bem, eu estou falando de um cargo público, com toda a estabilidade do mundo, férias certas e salário caindo na conta no fim do mês custasse o que custasse (custava muito, mas ainda assim). Quer dizer, eu não tinha que lidar com todas as incertezas do trabalhador médio que nem sabe se vai chegar empregado ao fim do mês e nem com os desmandos do filho do dono da firma afetado por alguma síndrome maníaca de pequeno poder. Eu tava no fundo do poço, mas sei que ainda tava no lucro. Vá se ferrar.

E quando eu já tava quase deitando no meio da avenida em absoluto desespero gritando por DEUS, consegui, aleluia, sair do cargo, louvado seja meu Senhor Jesus Cristo Redentor e todos os seus anjinhos. Hoje estou num serviço muito modesto e que ainda me garante o título de Absolutamente POBRE, prazer, mas estou mais em paz, mais tranquila, melhor, indiscutivelmente melhor. E sou imensamente grata por isso.

Mas é aquilo, quarenta horas de trabalho semanais ainda são quarenta horas de trabalho semanais, então continuo odiando trabalhar - assim, tanto assim.

Quando era criança posso até ter tido uma fase em que idealizava fazer do meu trabalho a minha vida, a coisa mais importante pra mim, me matar pela carreira ou algo do tipo; mas agora, teje repreendido, JAMAIS. Foi só ter o primeiro emprego que eu me desfiz da ideia rapidinho kkkkkk. Deus me livre vestir a camisa da empresa, credo, eca. Tá certo que eu nunca trabalhei com algo de minha escolha, algo que eu quisesse realmente fazer, que me trouxesse alguma realização pessoal além do salário (risível) caindo na conta. Todo trabalho que tive foi o que deu pra fazer, por sobrevivência e nada mais. Mas já tive contato com gente workaholic (o anglicismo que assola nossa país tupiniquim tem que acabar, olha esses termos horríveis que a gente importa, um atentado ao pudor atrás do outro) e não consigo deixar de sentir certo desprezo pelo comportamento. Quer dizer, tanta coisa pela qual desenvolver compulsão, IMAGINA se vou fazer isso com o TRABALHO, com a EMPRESA. Eca. Eu quero é ficar na sombrinha lendo meus livrinhos e trabalhar só o suficiente pra garantir esse capricho com certo conforto e poder comprar um milho na praia sem tem que pedir pix pro pai (o Brasil está com você, Larissa).

Pesa em mim saber que por mais difícil que seja a minha realidade agora ela ainda é fácil se comparada a um cabogilhão de outras realidades e também se comparada ao passado. Faz eu sentir que não posso ''reclamar'', e ok, não preciso e nem quero ficar reclamando o dia todo, mas também não devo negligenciar a constatação de que algo me faz mal, como é com a jornada exaustiva de trabalho. Tendo em vista a trajetória de trabalho do meu pai, por exemplo, mesmo os piores dias no meu trabalho são brincadeira de criança.

Meu pai teve uma vida dessas que sairiam num filme da Globo com o Angelo Antônio e a Dira Paes nos papéis mais sofridos possíveis, de um jeito quase apelativo, drama tão pungente que pareceria mero exagero ficcional, mas não seria, naipe Dois Filhos de Francisco. O velho saiu da cidadezinha de interior onde vivia na roça com a família pra tentar a vida na cidade a pão e água, esse movimento de migração de pobres tão tradicional no nosso folclore brasileiro. Teve semanas em que as refeições mais consistentes dele provinham de uma sacola de laranja que ele catou não sei onde nem como. O pai dele, meu vô, alcoólatra e agressor, a mãe fragilizada num contexto geográfico e social que não lhe dava outra alternativa além de permanecer vítima, um irmão com problemas mentais graves que foi de manicômio em manicômio, o outro irmão morto num acidente de moto antes dos trinta deixando a família desolada. Isso tudo enquanto meu pai trabalhava igual um cavalo pra sobreviver com o mínimo.

o filme que tocou o brasil

Meu pai tem mais de sessenta anos e ainda trabalha. Levantando peso, na serralheria de casa, fazendo portões, grades, solda, construção. Eu tenho muitos problemas com ele, mas meu Deus, o homem trabalhou. Trabalhou mais do que devia, trabalhou mais do que qualquer pessoa deveria ter que trabalhar pra assegurar o mínimo de dignidade pra si e para a família. Já tem uns vinte anos que meu pai deveria estar passando o dia todo numa rede com as pernas pro alto e uma jarra de limonada do lado só aproveitando um merecido descanso depois de tudo, mas não, ele continua trabalhando todo dia, levantando peso pra caramba, isso mexe comigo.

E minha mãe? Por Deus, não fica muito atrás no roteiro de longa Oscar bait dela. Passou a vida sem pai nem mãe, criada pelos irmãos mais velhos numa família de sete filhos e teve que trabalhar desde criança naquelas casas de família em situação análoga à escravidão pavorosas com abusos físicos no pacote.

Eles nunca conheceram n a d a além do trabalho estafante, nunca puderam conhecer mais nada. Ambos concluíram o ensino fundamental e médio depois de adultos e com todos os filhos crescidos porque na juventude tiveram que dizer adeus à educação formal e qualquer outra oportunidade do tipo que os afastasse da carga esmagadora de trabalho. 

Então como é que eu posso reclamar, né? A minha vida é FÁCIL perto da deles.

Só que eu me sinto mal o tempo todo. Eu me sinto podre de exausta o tempo todo. Eu não consigo parar num cantinho sem desabar de cansaço porque o cansaço tá totalmente entranhando em mim o tempo todo. Cansaço físico e mental. Eu tô exausta. Eu não aguento mais.

Em 2022 eu tive a minha primeira experiência com cursinho presencial à noite depois de um dia inteiro no trabalho. Eu queria muito poder ter aulas presenciais depois dos anos de isolamento ead da pandemia, então estava animada................. Foi horrível. Uma dessas Piores Experiências da Vida em maiúsculas das quais a gente lembra por muito tempo. Porque todo o cansaço resultante da jornada de trabalho foi elevado à enésima potência quando fiquei sem ao menos um turno ''livre'' pra poder sossegar um pouco. A minha exaustão era total, constante, como uma coisa que corria nas veias, como uma parte integrante do meu corpo. Toda vez que eu tinha algum turno livre (porque não teria aula no dia, porque tive uma consulta em horário de trabalho e sobraram umas horinhas, porque tinha um feriado na semana GRAÇAS A DEUS) e pensava em fazer alguma coisinha, resolver alguma coisinha, porque finalmente ia ter um tempinho sobrando, eu só desabava de cansaço assim que parava em casa. Sempre, todas as vezes. Não teve uma pendência assim que consegui resolver nesses tempinhos livres esporádicos porque em absolutamente todos eles eu tive um blackout de cansaço extremo e desmaiei na cama, no sofá, na cadeira mais confortável do cômodo.

A minha experiência de cursinho foi detestável. Logo cedo na vida eu soube que era uma #pobre, e desenvolvendo o mínimo de consciência de classe na adolescência eu tive mais embasamento pra entender essa realidade e como ela afeta muitas áreas da nossa vida. Pensei que já tinha toda a noção da minha própria limitação econômica que eu seria capaz de adquirir, mas fazer cursinho pré-vestibular me fez assimilar isso com uma nitidez muito maior, porque todo santo dia eu era confrontada com o abismo social entre mim e, não todos, mas a maioria absoluta dos alunos que eu via lá.

A começar pelo fato de que só fazer cursinho, estar lá viva e respirando naquele espaço, já era algo entendido como ''coisa de rico'' na minha família, especialmente enquanto se cursa o terceiro ano do ensino médio. Ninguém lá em casa fez cursinho, nenhum dos quatro filhos, e que fosse algo completamente natural para algumas famílias matricular os filhos do terceirão direto no cursinho, pois óbvio, pagando uns 300 por mês (sendo otimista e chutando pra baixo) era uma coisa completamente fora da nossa realidade. Se o pai ou a mãe chegassem em casa com um comprovante de matrícula em cursinho enquanto um de nós cursava o médio e largassem o papel em cima da mesa no almoço seria o equivalente a ver um unicórnio bebendo água na pia da cozinha.

Eu consegui fazer cursinho (ainda a única de uma família de quatro filhos a passar pela experiência) depois dos vinte (extremamente frustrada por ainda não estar na faculdade, óbvio), porque já tinha meu próprio salário pra pagar a mensalidade. E o tempo inteiro em que eu estava lá eu ficava me perguntando se as pessoas, aquelas sentadinhas ali do meu lado na aula, sabiam de verdade como era impossível, verdadeiramente impossível, pra grande parte das famílias brasileiras dispor de cerca de 300 reais por mês pra dar essa oportunidade para os filhos. Porque na minha família esse dinheiro NUNCA sobrava, e 300 reais não é nenhuma fortuna, mas pra nós meio que era sim, pra muitas famílias meio que é sim. Meus pais nunca teriam como bancar isso, especialmente enquanto eu ainda estava no terceiro ano, não trabalhava e portanto ainda não ajudava em casa, e nem meus dois irmãos mais novos, hoje formados no E.M. e assalariados como eu. Nunca ia sobrar 300 reais depois de pagar o rancho, a água, a luz, a internet, os reparos de todo mês, os estragos, as despesas médicas, os remédios... De onde era pra gente tirar um dinheiro desses? Como é que tem gente que simplesmente TEM isso dando sopa??? É pouco mas é muito.

Às vezes fico sabendo de uma mensalidade de cursinho especial para medicina e fico sempre embasbacada, porque alguns chegam a mil reais e não consigo deixar de pensar QUEM são essas pessoas que simplesmente têm um dinheiro desses ''SOBRANDO'' a ponto de poder pagar um boleto assim pros próprios filhos. Onde vivem, como se reproduzem. Ter boas oportunidades deveria ser direito mas a verdade é que olhando daqui de baixo isso só parece meio obsceno mesmo - e é.

Eu sempre soube que as coisas eram desiguais e que, apesar de nunca ter vivido os horrores da miséria, eu tava numa camada mais desfavorecida da população, mas essa experiência de cursinho me fez absorver muito mais isso. Sei que sempre vou me culpar por coisas que sei que poderia ter feito melhor pra alcançar meus objetivos, mas eu entendi melhor a profundidade do abismo que separa uns de outros a ponto de poder ter um pouco mais de compreensão comigo mesma, e de me perdoar por não ter conseguido algumas coisas, depois de viver um ano lutando por elas ao lado de pessoas com menos da metade dos meus obstáculos na frente, e eu nem era a mais ferrada do cursinho - talvez fosse a segunda kkkk.

A experiência me fez entender de vez como conseguir as coisas é muito mais sobre ter condição material de conseguir as coisas do que sobre capacidade pessoal. Eu já sabia disso, é claro, mas agora sinto que sei de verdade? E eu detestei fazer cursinho especialmente por causa do cansaço contínuo que senti na época, mas muito pelo lembrete diário de que aquele lugar não era pra mim, que muitos lugares não são pra mim e que se eu quiser chegar lá vai ser só depois de muita dor e sofrimento. Uma dor e um sofrimento pelos quais nem eu e nem ninguém precisaríamos passar se as coisas fosse só um tiquinho mais justas. Eu só queria que fosse mais fácil pelo menos uma vez, uma vez só, umazinha.

Enfim, divaguei um pouco, estava falando sobre o trucidamento de alma diário (dramática) que é trabalhar quase o dia todo e não ter tempo e energia pra viver no que sobra e me estendi nesse papo sobre cursinho, mas tudo faz parte da lindo pacote de benefícios classe baixa que eu queria colocar pra fora.

Como eu ia dizendo muitos parágrafos atrás, troquei de emprego e tudo continua difícil mas muita coisa também melhorou #OTIMISMOOOOO \o/ Agora eu trabalho na secretaria de uma escola, tenho uma chefe querida (a diretora) e uma chefe terrível (a vice), alguns dias bisonhos e alguns dias tranquilos. E o mais legal de tudo, eu tenho uma SALA e uma MESA e um COMPUTADOR que só eu uso, uma experiência realmente fantástica nunca antes vivida na história. Só de ter um espacinho pessoal pra deixar minhas coisinhas, meu potão de café Iguaçu solúvel de 200g, minha relação com o trabalho melhorou bastante. Eu nunca tinha tido um espaço meu no trabalho além dos dois cm³ daqueles armários metálicos de filme colegial estadunidense, nunca tinha tido uma MESA. 😭

eu :D

Às vezes a vice me deixa maluca respirando MUITO fundo pensando o que Jesus faria em meu lugar? enquanto ela grita nos meus ouvidos (assédio moral que chama? 😍), mas nem nos piores momentos neste novo trabalho eu deixo de lembrar de como estou muito melhor agora. Putz, eu tenho uma mesinha. E a parte legal é que com acesso ao computador (90% do meu trabalho depende dele) eu consigo dar uma atençãozinha pro bloguinho, mas só quando sobrar um tempinho (juro) - como estou fazendo exatamente agora, montando post pro meu blog diarinho em horário de serviço. Eu venci, eu sei que venci.

Mas agora, falando muito sério, a melhor coisa do novo trabalho, disparada, é que posso ter um dia de home office, trabalhando em plantão/sobreaviso em casa. O TANTO que isso MUDOU MINHA VIDA, verdadeiramente MUDOU MINHA VIDA, um diazinho a mais na semana, é um ESCULACHO e me deixa feliz e desesperada ao mesmo tempo me dando conta de quão ferrados somos pra que só um diazinho a mais, poucas horinhas longe do trabalho a mais na semana, tenham um peso TÃO!!! grande assim. É só isso que a gente quer, queremos só umas horinhas a mais pra viver. Só isso, é pedir tão pouco. Mas nem isso temos, viver umas horinhas mais é um luxo.

Para mim, a mudança veio em boa hora, porque eu tava quase pulando de um prédio no segundo semestre de 2023 voltei a estudar à noite como na época de cursinho, só que em outra cidade, e por mais horas, e ficando literalmente o dia todo na rua das sete e meia da manhã à meia-noite, aproximadamente, numa rotina traiçoeira, e eu precisava de pelo menos um elemento de paz a mais na minha vida pra ter condição de encarar isso, como a troca de emprego pra melhor. Daqui a pouco, se eu conseguir, sei que vou aparecer aqui aos prantos pra mais uma sessão de descarrego porque essa rotina foi DEBILITANTE de exaustiva, muita coisa deu errado e desmoronou no meu colo e não sei mesmo como cheguei a 2024 com vida, apesar da quantidade obscena e vexatória de vezes em que chorei num ônibus intermunicipal voltando pra casa a altas horas da noite. Mas isso e demais peripécias no meu novo trabalho são outra história, outro post. Espero poder contá-la da minha mesa no serviço em pleno turno hehehehe.

Tempos atrás, em outras férias de verão, eu sentei no pátio da minha casa com uma xícara de café e o celular pra ver uns videozinhos, numa cadeira de praia perto das parreiras, entre o calor do sol e a sombra das árvores, e meus cachorros logo vieram me fazer companhia, descansar o fatigante peso do focinho deles sobre meus joelhos. Enquanto tava ali me atingiu do nada a consciência de que eu não fazia aquilo há meses, não conseguia fazer aquilo há meses, sentar no pátio da minha casa pra pegar um sol, com uma xícara de café e a companhia dos meus filhotes. Uma coisa tão simples, tão banal, tão ''fácil'', mas que fica simplesmente inviável na correria diária. Comentei com meu colega na época e ele disse algo parecido, ''não lembrava como era sentar à tarde pra tomar um café com meus pais, que loucura as férias, então isso é viver???''. Depois ele comentou sobre como o ano estava particularmente difícil porque conseguimos aproveitar bem nossas férias e aí a gente lembrou o que era respirar, diferente do sufocamento contínuo em que vivemos em tempos normais, e não tem como deixar de sentir o fardo diário depois que a gente se dá conta, a negação não é mais possível, a noção lancinante de que isso não é vida fica ensurdecedora.

Bom, eu comecei esse texto meses atrás, quando recém tinha trocado de emprego, mas assim que voltei a estudar à noite dias depois a rotina passou como um caminhão pipa por cima de mim deixando só uns farelos e só tô conseguindo terminar agora, nas férias. QUEM DIRIA NÃO É MESMO NEM PARECE QUE FOI JUSTAMENTE SOBRE ISSO QUE CHORAMINGUEI PELOS ÚLTIMOS DUZENTOS PARÁGRAFOS HA HA RISOS RISOS. Lindo jeito de encerrar esse post, uma paródia ilustrativa, uma caretinha debochada da vida tirando sarro do meu dramão. Mas eu não quero férias eternas quero sim, eu só quero poder sentar no pátio de casa com uma xícara de café e meus cachorros do lado de vez em quando, eu quero ter um tempinho de escrever os textinhos que me fazem tão bem no meio da rotina cotidiana sem ter que estar de férias, eu só quero respirar, eu quero poder viver mais, eu quero poder sentir o sol.

03/07/2023

Blogar ainda é uma das minhas coisas favoritas.

Cheguei aqui no último post pra falar de um biquíni e mil inseguranças depois de quase dois anos sem aparecer e depois saí andando como quem não quer nada, sem nem dizer um até mais, um com licença, um perdão por tudo. Eu não gosto desses “posts explicativos” tão comuns prestando satisfações depois de muito tempo sem publicar nada porque isso remete a obrigação e compromisso (efeito sonoro de gritos de horror ao fundo) e deve ser a ideia a que mais me oponho no blog desde que ele nasceu. Sempre foi essencial que este espaço fosse conforto e aconchego pra mim, como uma poltrona convidativa perto do fogão a lenha, uma coberta, uma xícara de chá esquentando em cima da chapa. Se o blog tivesse uma bíblia esse seria um dos dez mandamentos. Deus me livre deixar de ser divertido, virar obrigação, Deus me livre sentir que preciso dar satisfações.

Mas este texto é menos uma prestação de contas e mais uma conversa que eu queria ter há um tempinho. Pra quando chegar uma visita e eu não tiver dado sinal de vida há eras a pessoa leia e saiba que não abandonei o blog, em algum momento apareço de novo e tô sempre penadinho flutuando por aqui, dando reload na página só pra ficar admirando meu bloguinho cuticuti, os textos que já publiquei, os links na lateral, esse layout basicão que montei a trancos e barrancos há anos e que ainda me deixa com um quentinho no coração, porque amo esse tom azul-verde-acinzentado. Porque gosto mesmo de ter um blog, um cantinho, blogar ainda é uma das minhas coisas favoritas.

Eu queria poder passar boa parte dos meus dias por aqui, escrevendo e pensando sobre tudo que me faz sentir e acompanhando tanta gente legal, porque escrever é dessas coisas que devo fazer pra ficar em paz de vez em quando, prolongar sentenças ou colocar pontos finais. Sabe aquilo, propósitos de vida com os quais a gente nasce ou nos quais esbarramos (/tropeçamos) no caminho, ou chamados, ou sei lá como se queira nomear? É meio assim, e meio pretensioso pra quem não sentava a bunda na cadeira pra produzir um texto há mais de ano, eu sei, mas se eu pudesse faria isso o dia todo. Escreveria sobre o vento e sobre as folhas e sobre o tempo que embala os dois e sobre como isso tudo é feliz e também tão triste, triste e triste, e escreveria sobre todo o resto também, todos os dias, o dia todo.

Preciso de um lugar que sirva de abrigo pro acervo pessoal do que vivi/pensei/senti, meu cantinho.

E não é só escrever, gosto de estar aqui especificamente, na bLoGoSfErA. Sem querer ser purista ou pedante, mas criar TEXTOS(!!!) na era tiktok, escrever PALAVRAS que você tem que DIGITAR uma atrás da outra até formar um BLOCO de VÁRIAS PALAVRAS que você JUNTOU UMA POR UMA, é como preservar uma arte ancestral, não importa quão banal seja o tema, todo mundo fala sobre isso o tempo todo etc e é verdade. E estar aqui no meio de pessoas que ainda se prestam e se divertem espanando esse móvel antigo da internet chamado caixa de texto me deixa com um sentimento de pertencimento e camaradagem que afaga o cuoure. <3 Espalhados por tudo que é canto deste país continental, sinto que nos blogs somos vizinhos de cerca, desses pra quem pedir uma xícara de açúcar quando o de casa acaba no meio da receita de bolo. Talvez isso aqui seja a vila do Chaves.

Adoro visitar amiguinhos blogueiros, ver o layout que a pessoa escolheu, os posts sobre comédias românticas, rolês pobres, livros ruins ou colegas de trabalho insuportáveis, descobrir novos blogs no blogroll, escrever eu mesma sobre meus colegas de trabalho insuportáveis e todo o resto, enfim, fazer parte dessa linda rede de amor e ódio. =3 *-* ^-^ <3

Mas por que então eu sumi por tanto tempo, né?


Claro que a vida aconteceu como sempre acontece, mas sei que o motivo principal é que escrever, apesar de ser algo que amo profundamente, às vezes, quase sempre, é um processo bem penoso pra mim. É como escalar uma montanha, se tu me permite o clichê, e eu geralmente me acovardo; muito mais fácil ficar deitadinha na cama dando play em outro episódio da série da vez, minhas cobertas são confortáveis e quentinhas e a montanha é impiedosa e gelada. Sempre tenho receio de não conseguir transmitir o que quero dizer, não encontrar as palavras exatas que contornam esses sentimentos, por falta de raciocínio (talvez eu seja burra?) ou léxico ou talento (talvez eu seja medíocre?). Sempre acho que não vou chegar até o fim, que vou me perder entre os parágrafos, embaralhar tudo e ficar com um novelo emaranhado e irrecuperável no colo que vai ter que ir direto pra lata do lixo. Medo de descobrir que na verdade eu nem sou boa nisso, o que seria um baita fracasso pessoal, já que me importo com a escrita.

E por medo de não encontrar o texto e perceber que nem sei fazer isso direito eu me refugio no conforto da incógnita, do não saber, do talvez eu conseguisse escrever o que quero dizer hoje mas talvez não então é melhor nem tentar pra não descobrir. E aí não escrevo nada, e vou adiando, e os rascunhos mofam e dois anos se passam sem que eu digite uma palavra, mesmo pensando neste cantinho todos os dias.

É claro que estar exausta e sobrecarregada como todo mundo o tempo todo agrava esse desânimo. Perdi a conta das vezes em que pensei esse fim de semana vou escrever algo no bloguinho, porque quero e tô com saudade, mas quando o fim de semana chega e as quarenta malditas horas de trabalho já acabaram comigo eu vejo que só restou a vontade de descansar encarando o teto, eu mereço, eu preciso, o resto fica pra próxima... mas meio que não fica.

Outras pessoas já compararam a escrita ao parto, e pra mim a metáfora é perfeita, queria ter pensado nela antes, é assim que me sinto. Quando um texto nasce, tá pronto, eu o amo como um filho, mas antes disso teve perrengue; foi um pânico quando a bolsa estourou, a corrida até o hospital foi agoniante e as contrações eram terríveis. O parto é doloroso, mas é lindo quando o texto nasce, bem-vindo ao mundo, filhote (?????w????ww?????).

Nutro carinho por alguns posts daqui e os releio de vez em quando, congratulando a mim mesma de um jeito autoindulgente não porque ficaram ótimos, mas porque cheguei no fim, escalei a montanha, desemaranhei o novelo, consegui dizer exatamente o que eu queria dizer ou quase, ufa, deu tudo certo, ele tá pronto, agora já dá pra respirar aliviada porque consegui colocar pra fora. Às vezes abro o blog só pra ver eles publicados lindinhos ali na tela. Talvez seja vaidade; talvez eu só goste mesmo disso aqui. <3

Claro que essa resistência e o intervalo entre as publicações seriam menores se eu conseguisse levar os posts com mais leveza bem no estilo diarinho a que sempre me propus, mas tenho essa dificuldade, todo texto vira Um Grande Texto (na minha cabeça), em extensão e gravidade, não consigo só sentar e despejar as palavras sem pensar muito e publicar antes de reler mil vezes, revisar, encontrar sinônimos, termos mais apropriados. Quero ter o desprendimento de vir mais vezes pra postar qualquer bobalegrice, fazer trends (ainda usamos essa palavra?), falar como foi meu dia e o que estou pensando sem coesão alguma, como numa conversa com amigas numa mesinha de padaria ou comigo mesma no travesseiro antes de dormir. E quero ter ânimo pra escrever os ''outros textos'' também, escrever sobre o vento e sobre as folhas e sobre o tempo que embala os dois e sobre como isso tudo é feliz e também tão triste, triste e triste, e escrever sobre todo o resto também, todos os dias, o dia todo.

É por isso que fico anos sem dar as caras; partos são dolorosos, mas conversas de padaria não precisam ser. ;)

Mas eu tô aqui, é isso que quero dizer hoje. Mesmo se estiver há cinco anos sem postar, de um jeito ou de outro tô por aqui. Já escrevi antes, ''Este blog existe porque preciso de um cantinho assim pra mim. Apareço aqui muito menos do que gostaria, às vezes sumo por meses ou até anos, mas nunca vou embora de fato. Se um dia eu for, me despeço antes, porque eu não ia poupar o drama e perder a pauta.''.

Fico mexida quando clico num link de blog que eu costumava visitar e aparece aquela página dizendo que o site não tá mais lá, ou ocultado, ou substituído por um site bizarro de propaganda em uma língua com caracteres que desconheço?, porque é mais um cantinho que se vai, mais uma pessoa que se vai. Fico pensando pra onde, se tá bem, se vai voltar. E aí lembro que tô há tanto tempo sem escrever que quem entrar no blog agora vai achar que ele também tá abandonado juntando poeira e só esqueci de desativar a página, mas não, não pretendo que isso aconteça com o Krahelake, essa bagaça não vai sumir daqui tão cedo. =D

Escrevi um texto pro Blogueiros Raiz há pouco tempo, e se eu posso e se não for vergonhoso demais tarde demais kk ficar parafraseando a mim mesma sem escrúpulos, também vou deixar um pedaço dele aqui, outro resumo modesto sobre permanecer:

''[...] sei que vou seguir blogando porque preciso de um cantinho assim, algo que me proporcione muito mais liberdade criativa do que instagram, twitter e, Deus me livre e guarde, Facebook são capazes.

Eu preciso de um espaço pra escrever textos enormes sobre tudo e nada, qualquer coisa; pra modificar o layout à exaustão até deixar ele a minha cara e não uma página padronizada igual todas as outras da rede; um lugar que não apareça o tempo todo no feed de alguém e não me deixe desconfortável pensando que estou incomodando, porque acho que quem aparece no blog é menos por escorregão e mais de caso pensado disposto a encarar as consequências - muita vergonha alheia. E se eu preciso disso, deve ter muito mais gente como eu que precisa também, né? Quer dizer, não sou tão especial assim, rs.

Tem muitas formas de publicar textos e outros posts mega dinâmicos e cheios de personalidade na internet, é claro, e faço uso de várias delas. Mas blogar ainda é uma das minhas coisas favoritas.''

Não sei quando apareço novamente, se daqui a uma semana, um mês ou dois anos (espero que não), e nem se vou conseguir seguir qualquer uma das resoluções informais desse texto. Mas sei que apareço, quando a vida acalmar (rindo igual o Coringa) ou eu relaxar e escrever um post bobinho e despretensioso e amorzire e mais curtinho (posso ouvir um amém da igreja?) sem acabar transformando ele numa grande catarse em que sinto necessidade de esmiuçar todos os conflitos atuais da minha vida sem deixar passar nada, porque peloamordedeus, eu só queria fazer um meme e sentei no divã de novo. Ou talvez reapareça mesmo pra mais uma dessas grandes lavagens de roupa suja e terapia de sarjeta, se eu quiser. Porque se eu não puder fazer essas coisas, qualquer coisa, das totalmente desconexas às minimamente calculadas, aqui no meu blogspot.com de nosso senhor Jesus, onde mais faria, né? É pra isso que tenho o blog, afinal, sempre foi: pra que ele seja o que eu quiser. Pra que seja meu cantinho.

Eu apareço e não volto porque, me repito, dificilmente vou embora daqui de verdade, não num futuro próximo, e por enquanto nem poderia; a vida é um caos e eu sou meio dramática, tenho poucos amigos, sou pão dura e retraída demais pra ir pra terapia e gosto mesmo de escrever, então o jeito é ter blog diarinho.