05/07/2016

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Há muito eu tencionava ler esse livro. Meu interesse foi despertado assim que eu soube de seu último trecho, que achei de uma tragicidade sutil e violenta, simultaneamente. (Calma, vou escrevê-lo ao fim do post.)
Ainda sou uma tímida leitora de literatura brasileira; conheço poucas obras por falta de vergonha na cara e certa preguiça de parar para procurá-las, uma vez que me encontro sempre meio temerosa diante de possível ‘’prodigalidade excessiva’’ que experimentei em algumas obras e me desgostou. Embora eu tenha esse preconceito assumido (mas não com orgulho) diante da literatura do nosso país, a cada leitura a maneira de escrever característica a tantos autores que honradamente marcaram a história literária do Brasil vem me encantando mais. E foi assim também com nosso querido falecido Brás Cubas.

Comecei a leitura não sabendo bem qual era o intento de Machado de Assis ao escrever o livro, se despertar discussão acerca de alguma causa maior ou levar o leitor à reflexão sobre algo que me fugiu; só pude dizer que a narrativa era o relato de um homem que, no fim da vida, se vê compelido a destrinchar sua própria história, talvez para tentar descobrir um sentido ou propósito que não lhe veio em vida. 
Mas depois de uma breve pesquisa sobre o livro e o contexto em que o autor o escreveu, entendi um pouco melhor suas propostas, e a conclusão a que cheguei segue nos últimos parágrafos do post, após breves informações sobre o enredo e personagem.
Em primeira pessoa, é difícil não se sentir próximo de Brás Cubas ao fim da leitura, pois há infinitos trechos em que ele, escrevendo suas memórias póstumas, se põe a confrontar diretamente o leitor com opiniões e observações das mais variadas que lhe surgem à mente ao longo do relato de seus dias. É também divertido acompanhar a sagacidade cômica do personagem, que faz rir de leve com sua ironia e sarcasmo em algumas páginas.
Brás Cubas – e, gosto de pensar, o próprio Machado - é uma daquelas criaturas engraçadas que riem das desgraças da vida, pois lhes é preferível rir a chorar. E, humano como nós (e brasileiro como nós, diga-se de passagem), sofre pequenos e grandes martírios como toda criatura, embora o livro não dê muita ênfase a eles.
Como eu falava do que concluí após a pesquisa, o livro foi escrito em meio àquele romancismo exacerbado e irreal, que narrava histórias ilusórias de amor platônico em que vemos criaturas utópicas em situações belas e condições irreais de contentamento da alma humana. Memórias Póstumas de Brás Cubas vem para cortar essa linha, abrindo portas ao realismo que se seguiu, dando vista às imperfeições da sociedade e do meio em que se desenrola nossa real existência. MPdBC não é romântico como até mesmo o que o autor costumava escrever. É cru. Trás relatos reais (passíveis de acontecer em seu contexto), com personagens reais em situações e condições reais. E com essa realidade vêm os tormentos, tragédias e desprazeres que afligem o homem e sua sociedade.
Memórias Póstumas de Brás Cubas é, portanto, um livro histórico. Porque abriu portas ao realismo?
Sim, mas principalmente porque fez isso com uma coragem admirável de expor e abordar a, por vezes trágica e traumática, realidade de nossas vidas.


‘’Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.’’

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