Há muito eu tencionava ler esse livro. Meu interesse foi despertado assim que eu soube de seu último trecho, que achei de uma tragicidade
sutil e violenta, simultaneamente. (Calma, vou escrevê-lo ao fim do post.)
Ainda sou uma tímida leitora de literatura brasileira; conheço poucas obras por falta de vergonha na cara e certa preguiça de parar
para procurá-las, uma vez que me encontro sempre meio temerosa diante de
possível ‘’prodigalidade excessiva’’ que experimentei em algumas obras e me
desgostou. Embora eu tenha esse preconceito assumido (mas não com orgulho)
diante da literatura do nosso país, a cada leitura a maneira de escrever
característica a tantos autores que honradamente marcaram a história literária
do Brasil vem me encantando mais. E foi assim também com nosso querido falecido
Brás Cubas.
Comecei a leitura não sabendo bem qual era o intento de
Machado de Assis ao escrever o livro, se despertar discussão acerca de alguma
causa maior ou levar o leitor à reflexão sobre algo que me fugiu; só pude dizer
que a narrativa era o relato de um homem que, no fim da vida, se vê compelido a
destrinchar sua própria história, talvez para tentar descobrir um sentido ou
propósito que não lhe veio em vida.
Mas depois de uma breve pesquisa sobre o
livro e o contexto em que o autor o escreveu, entendi um pouco melhor suas
propostas, e a conclusão a que cheguei segue nos últimos parágrafos do post,
após breves informações sobre o enredo e personagem.
Em primeira pessoa, é difícil não se sentir próximo de Brás
Cubas ao fim da leitura, pois há infinitos trechos em que ele, escrevendo suas
memórias póstumas, se põe a confrontar diretamente o leitor com opiniões e
observações das mais variadas que lhe surgem à mente ao longo do relato de seus
dias. É também divertido acompanhar a sagacidade cômica do personagem, que faz
rir de leve com sua ironia e sarcasmo em algumas páginas.
Brás Cubas – e, gosto
de pensar, o próprio Machado - é uma daquelas criaturas engraçadas que riem das
desgraças da vida, pois lhes é preferível rir a chorar. E, humano como nós (e
brasileiro como nós, diga-se de passagem), sofre pequenos e grandes martírios
como toda criatura, embora o livro não dê muita ênfase a eles.
Como eu falava do que concluí após a pesquisa, o livro foi
escrito em meio àquele romancismo exacerbado e irreal, que narrava histórias
ilusórias de amor platônico em que vemos criaturas utópicas em situações belas
e condições irreais de contentamento da alma humana. Memórias Póstumas de Brás
Cubas vem para cortar essa linha, abrindo portas ao realismo que se seguiu,
dando vista às imperfeições da sociedade e do meio em que se desenrola nossa
real existência. MPdBC não é romântico como até mesmo o que o autor costumava
escrever. É cru. Trás relatos reais (passíveis de acontecer em seu contexto),
com personagens reais em situações e condições reais. E com essa realidade vêm
os tormentos, tragédias e desprazeres que afligem o homem e sua sociedade.
Memórias Póstumas de Brás Cubas é, portanto, um livro histórico.
Porque abriu portas ao realismo?
Sim, mas principalmente porque fez isso com uma coragem
admirável de expor e abordar a, por vezes trágica e traumática, realidade de
nossas vidas.
‘’Não tive filhos, não
transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.’’
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