Razão e Sensibilidade - Jane Austen
Infelizmente, para mim, uma decepção. Mas explico por quê.
Eu esperava encontrar um livro com pitadas filosóficas e
reflexivas acerca de sentimentos e do equilíbrio ou desequilíbrio entre essas
duas forças, razão e sensibilidade. Esperava algo tocante e profundo e, embora
eu não possa incluir como compartilhantes de opinião aqueles que iniciam a
leitura com expectativas diferentes das minhas, o livro se mostrou fútil diante
de tais preposições que tive sobre ele.
É o primeiro livro da autora que leio, e Orgulho e
Preconceito logo entrará na lista de lidos, podendo talvez mudar minha opinião
inicial sobre a escrita da autora. Fato é que o prestígio do nome Jane Austen a
colocou num patamar elevado demais em minha ignorante estima de alguém que
nunca havia lido uma linha sequer de suas palavras. Eu esperava mais d’A Jane
Austen, entende?
‘’Então o livro pode até ser bom, mas não foi sua impressão
porque pra ti foi uma decepção?’’
Sim, talvez esse seja o caso. Assim sendo, encorajo todos a
testarem a escrita da moça (que já era senhora quando o escreveu).
Mas falemos sobre o enredo.
O livro se ambientaliza no início do século XX, então somos
transportados para aquele meio de vestidos, educação e conservadorismo
demasiadamente rigorosos na visão sobre as mulheres, época de heranças, dotes,
ir ao teatro e passear de carruagem pelas ruas de Londres até chegar à casa de
uma família aristocrata para tomar chá e conversar sobre os maus modos e falta
de requinte condenáveis de beutrano e ciclano. E, principalmente, época de
casamentos arranjados quase unicamente com o fim de gerar lucro para ambos os
lados da relação.
E é basicamente em torno desse último tópico que o enredo
todo circunda. Casamento para as moças da família protagonista, as Dashwood,
Elinor, Marianne, Margaret e sra. Dashwood, a mãe das três. A filha mais nova,
Margaret, no entanto, tem uma participação mínima na história e importância
menor ainda, rendendo páginas unicamente em torno das desventuras amorosas, mas
tediosas, de Elinor, a mais velha, e Marianne, segunda filha.
Creio que o título do livro se refira às duas, sendo Elinor
a racional e Marianne a sensível. Mas não tenho certeza. As duas de fato
apresentam características e personalidades bem opostas em vários aspectos; Marianne
sente tudo desmedidamente e em excesso, se entrega sem reserva aos próprios
sentimentos e vontades, chegando a ficar literalmente doente em decorrência de
uma paixão em certo ponto do livro. Elinor, por outro lado, racionaliza tudo
com o intento de garantir a si mesma controle sobre as próprias emoções e
reações.
As duas se veem envolvidas, em níveis diferentes, com dois
rapazes: o gracioso, belo, galante e encantador Willoughby, por quem Marianne
cai perdidamente apaixonada; e o discreto, calmo e, há quem diga, simplório,
Edward, paixão de Elinor.
Obviamente não revelarei o desfecho das duas paixões pois,
desculpe a sinceridade, Jane, mas a leitura não teria nem um motivo mais para
ser feita, a meu ver –e saber esse resultado também não me parece motivo o
suficiente para que a leitura desperte interesse, mas vou parar de descer o
relho por aqui (sorry, fãs da Jane). Os amores do livro, em verdade, são fracos
em uma tarefa que considero fundamental num romance: despertar o amor do
leitor, que não chega a se envolver com os sentimentos dos personagens.
Como eu comentei, o que alimenta o enredo são as
expectativas sobre casamentos, das moças e conhecidos delas, e isso diz muito
sobre a época em que Jane Austen escreveu a obra. Entendi que, no contexto social
em que ela vivia, essas eram realmente as informações que fermentavam os dias
das pessoas. Ok, compreensível, ela cresceu cercada por esses mais variados
arranjos matrimoniais e nada mais natural do que escrever sobre isso para ela.
O que me decepcionou foi a inércia de perspectivas inovadoras sobre um assunto
tão batido em seus dias. Embora eu tenha gostado muito de Elinor e achado que,
se alguém no livro foi minimamente contra a maré de mulheres se casando com
homens que só visam seus dotes financeiros e o senso comum geral da época que
colocava o casamento como item de prioridade máxima na vida de uma mulher que
queria ter algum prestígio, esse alguém foi Elinor, por não se deixar abater
pelas decepções amorosas nem alimentar a ‘’rival’’ Lucy quando esta a provocava
por sua solteirice. Mas, mesmo com Elinor, essa quebra de paradigmas foi
mínima, quase inexistente. E essa foi minha maior decepção sobre o livro.
Pode-se dizer que a feminista que há em mim se desgostou com
o conservadorismo machista que inibia tanto as mulheres da época.
É, acho que definitivamente meu problema com Razão e
Sensibilidade é a falta de feminismo que há no livro –e num ambiente como
aquele, onde a mulher ainda era vista como um ser que apenas serve para
‘’cumprir seu dever’’, o feminismo precisava, sim, se fazer presente. Embora
não haja como concentrar a atenção em possíveis mostras de machismo no decorrer
da narrativa, uma vez que não se evidenciam em substância e não se possa dizer,
de maneira alguma, que o livro incita o machismo, me incomodei um pouco com
esse aspecto de ‘’apatia feminina’’.
‘’-E mostrava-se tão
calma, tão alegre! Como pôde suportar?
-Suportei porque sabia
que estava cumprindo o meu dever.’’
Outra fonte de desgosto para mim foram os personagens. Achei
a maioria odiosos por sua futilidade, falsidade, faro apenas parar fofocas e
mexericos que movimentassem minimamente a mesquinharia de seus dias. Se algum
leitor de Razão e Sensibilidade me dizer que gostou de Lucy, sra. Jennings e
personagens dessa linha, serei obrigada a pedir uma explicação detalhada que me
torne claro o motivo de sua opinião.
Bom, terminarei por aqui minha resenha repetindo que ainda
encorajo leituras de Jane Austen e que eu mesma as procurarei. São clássicos
que valem ser lidos pelo conhecimento acerca das épocas que a temática
proporciona. E, é claro, não é por que eu não gostei que ninguém vá apreciar a
leitura.
Leitura esta que, ao menos, me rendeu alguns trechos
singelos grifados, que com certeza vão para meu tumblr de trechos recolhidos:
‘’Em um momento sentia
uma indiferença absoluta ao que o mundo inteiro poderia pensar ou dizer, em
outro desejava tornar-se uma reclusa, escondendo-se de tudo e de todos, e em um
terceiro sentia-se capaz de resistir com energia.’’
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