09/08/2016

Razão e Sensibilidade

Razão e Sensibilidade - Jane Austen
Infelizmente, para mim, uma decepção. Mas explico por quê.
Eu esperava encontrar um livro com pitadas filosóficas e reflexivas acerca de sentimentos e do equilíbrio ou desequilíbrio entre essas duas forças, razão e sensibilidade. Esperava algo tocante e profundo e, embora eu não possa incluir como compartilhantes de opinião aqueles que iniciam a leitura com expectativas diferentes das minhas, o livro se mostrou fútil diante de tais preposições que tive sobre ele.
É o primeiro livro da autora que leio, e Orgulho e Preconceito logo entrará na lista de lidos, podendo talvez mudar minha opinião inicial sobre a escrita da autora. Fato é que o prestígio do nome Jane Austen a colocou num patamar elevado demais em minha ignorante estima de alguém que nunca havia lido uma linha sequer de suas palavras. Eu esperava mais d’A Jane Austen, entende?
‘’Então o livro pode até ser bom, mas não foi sua impressão porque pra ti foi uma decepção?’’
Sim, talvez esse seja o caso. Assim sendo, encorajo todos a testarem a escrita da moça (que já era senhora quando o escreveu).
Mas falemos sobre o enredo.
O livro se ambientaliza no início do século XX, então somos transportados para aquele meio de vestidos, educação e conservadorismo demasiadamente rigorosos na visão sobre as mulheres, época de heranças, dotes, ir ao teatro e passear de carruagem pelas ruas de Londres até chegar à casa de uma família aristocrata para tomar chá e conversar sobre os maus modos e falta de requinte condenáveis de beutrano e ciclano. E, principalmente, época de casamentos arranjados quase unicamente com o fim de gerar lucro para ambos os lados da relação.
E é basicamente em torno desse último tópico que o enredo todo circunda. Casamento para as moças da família protagonista, as Dashwood, Elinor, Marianne, Margaret e sra. Dashwood, a mãe das três. A filha mais nova, Margaret, no entanto, tem uma participação mínima na história e importância menor ainda, rendendo páginas unicamente em torno das desventuras amorosas, mas tediosas, de Elinor, a mais velha, e Marianne, segunda filha.
Creio que o título do livro se refira às duas, sendo Elinor a racional e Marianne a sensível. Mas não tenho certeza. As duas de fato apresentam características e personalidades bem opostas em vários aspectos; Marianne sente tudo desmedidamente e em excesso, se entrega sem reserva aos próprios sentimentos e vontades, chegando a ficar literalmente doente em decorrência de uma paixão em certo ponto do livro. Elinor, por outro lado, racionaliza tudo com o intento de garantir a si mesma controle sobre as próprias emoções e reações.
As duas se veem envolvidas, em níveis diferentes, com dois rapazes: o gracioso, belo, galante e encantador Willoughby, por quem Marianne cai perdidamente apaixonada; e o discreto, calmo e, há quem diga, simplório, Edward, paixão de Elinor.
Obviamente não revelarei o desfecho das duas paixões pois, desculpe a sinceridade, Jane, mas a leitura não teria nem um motivo mais para ser feita, a meu ver –e saber esse resultado também não me parece motivo o suficiente para que a leitura desperte interesse, mas vou parar de descer o relho por aqui (sorry, fãs da Jane). Os amores do livro, em verdade, são fracos em uma tarefa que considero fundamental num romance: despertar o amor do leitor, que não chega a se envolver com os sentimentos dos personagens.
Como eu comentei, o que alimenta o enredo são as expectativas sobre casamentos, das moças e conhecidos delas, e isso diz muito sobre a época em que Jane Austen escreveu a obra. Entendi que, no contexto social em que ela vivia, essas eram realmente as informações que fermentavam os dias das pessoas. Ok, compreensível, ela cresceu cercada por esses mais variados arranjos matrimoniais e nada mais natural do que escrever sobre isso para ela. O que me decepcionou foi a inércia de perspectivas inovadoras sobre um assunto tão batido em seus dias. Embora eu tenha gostado muito de Elinor e achado que, se alguém no livro foi minimamente contra a maré de mulheres se casando com homens que só visam seus dotes financeiros e o senso comum geral da época que colocava o casamento como item de prioridade máxima na vida de uma mulher que queria ter algum prestígio, esse alguém foi Elinor, por não se deixar abater pelas decepções amorosas nem alimentar a ‘’rival’’ Lucy quando esta a provocava por sua solteirice. Mas, mesmo com Elinor, essa quebra de paradigmas foi mínima, quase inexistente. E essa foi minha maior decepção sobre o livro.
Pode-se dizer que a feminista que há em mim se desgostou com o conservadorismo machista que inibia tanto as mulheres da época.
É, acho que definitivamente meu problema com Razão e Sensibilidade é a falta de feminismo que há no livro –e num ambiente como aquele, onde a mulher ainda era vista como um ser que apenas serve para ‘’cumprir seu dever’’, o feminismo precisava, sim, se fazer presente. Embora não haja como concentrar a atenção em possíveis mostras de machismo no decorrer da narrativa, uma vez que não se evidenciam em substância e não se possa dizer, de maneira alguma, que o livro incita o machismo, me incomodei um pouco com esse aspecto de ‘’apatia feminina’’.

‘’-E mostrava-se tão calma, tão alegre! Como pôde suportar?
-Suportei porque sabia que estava cumprindo o meu dever.’’

Outra fonte de desgosto para mim foram os personagens. Achei a maioria odiosos por sua futilidade, falsidade, faro apenas parar fofocas e mexericos que movimentassem minimamente a mesquinharia de seus dias. Se algum leitor de Razão e Sensibilidade me dizer que gostou de Lucy, sra. Jennings e personagens dessa linha, serei obrigada a pedir uma explicação detalhada que me torne claro o motivo de sua opinião.
Bom, terminarei por aqui minha resenha repetindo que ainda encorajo leituras de Jane Austen e que eu mesma as procurarei. São clássicos que valem ser lidos pelo conhecimento acerca das épocas que a temática proporciona. E, é claro, não é por que eu não gostei que ninguém vá apreciar a leitura.
Leitura esta que, ao menos, me rendeu alguns trechos singelos grifados, que com certeza vão para meu tumblr de trechos recolhidos:

‘’Em um momento sentia uma indiferença absoluta ao que o mundo inteiro poderia pensar ou dizer, em outro desejava tornar-se uma reclusa, escondendo-se de tudo e de todos, e em um terceiro sentia-se capaz de resistir com energia.’’

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