De Brian Aldiss
Peguei aquela capinha empoeirada que há muito andava parada na minha estante e pensei ''o que será? Tem capa de livro meio chato e entediante''. Mas realmente levo a sério o ditado não julgue um livro pela capa e sei MUITO bem que as aparências enganam e enganam muito, então não devem ser lavadas muito em consideração. Aí me toquei de cara na leitura.
Entramos logo num mundo pós apocalíptico totalmente transformado e diferente daquilo que conhecemos presentemente. O globo não é mais o mesmo, a natureza está extremamente danificada, os animais foram extintos em grande escala e a existência humana é levada com sofrimento por cada sobrevivente dessa metamorfose pela qual a Terra passou. As civilizações em sua formação ''normal'' não mais existem, restando diferentes aglomerações de pessoas que se viram como podem e, vez ou outra, iniciam conflitos entre si. Comida, água e banho são luxo e roupas boas e moradias em bom estado inexistem.
Mas o que aconteceu?
O que temos achado, há muito tempo, que uma hora vai acontecer: com o crescente avanço do poder de destruição em massa dos homens na corrida armamentista constante que tomava conta da humanidade, diversas experiências nucleares foram empreendidas com o intuito de oferecer vantagem nas guerras e conflitos que frequentemente assolavam os países. Só que, por um abuso e inconsequência, a coisa saiu do controle. Aconteceu o que todos passaram a chamar de O Acidente. Testes nucleares realizados no espaço não acabaram bem e resultaram numa potente onda de radiação que passou a ser constantemente direcionada e absorvida pelo planeta Terra. Não preciso dizer que ferrou e ferrou muito, né?
O que temos achado, há muito tempo, que uma hora vai acontecer: com o crescente avanço do poder de destruição em massa dos homens na corrida armamentista constante que tomava conta da humanidade, diversas experiências nucleares foram empreendidas com o intuito de oferecer vantagem nas guerras e conflitos que frequentemente assolavam os países. Só que, por um abuso e inconsequência, a coisa saiu do controle. Aconteceu o que todos passaram a chamar de O Acidente. Testes nucleares realizados no espaço não acabaram bem e resultaram numa potente onda de radiação que passou a ser constantemente direcionada e absorvida pelo planeta Terra. Não preciso dizer que ferrou e ferrou muito, né?
A natureza e os animais começaram a morrer aos poucos, até minguarem ao extremo, sobrando pouquíssimas espécies e algumas novas que se transmutaram em pestes devoradoras: os arminhos. O câncer assolou por todo lugar e entre as vítimas dele, também houverem as vítimas de outra doença que eclodiu em todos os cantos, a cólera. Com mortes e destruição sem precedentes, a humanidade entrou em crise, fronteiras foram fechados no intuito de conter as doenças, guerras estouraram, autoridades caíram e a ordem se perdeu de todo, até que a organização da civilização, estados, cidades e países se extinguisse. Até que a humanidade se transformasse.
E não é só isso, a grande jogada do livro é outra: quem não sucumbiu ao câncer e à cólera, não se suicidou ou acabou morrendo na guerra teve outro preço a pagar: a esterilidade, total e completa.
A esterilidade humana. Já imaginou?
Bebês não nasciam mais; não era possível porque a radiação afetou de maneira contundente as gônadas humanas (órgãos reprodutores), tornando toda a população incapaz de ter filhos. E qual o resultado disso? A última geração humana habitando a terra. Uma geração majoritariamente idosa, ninguém abaixo dos quarenta e cinco anos. Olha que louca a coisa.
O título original do livro é Greybeard, barba cinza em inglês, porque ele ilustra justamente isso, os velhinhos que sobraram na terra, já que quando eclodiu O Acidente, a maioria dos bebês e crianças não resistiu; só os de vinte anos pra cima que, cerca de duas décadas depois, quando a narrativa do livro começa, já eram adultos quase velhos (hãn?) ou completamente idosos.

''Uma emoção próxima do júbilo tomou conta de Barbagris: uma espécie de deslumbramento ante a ideia de que talvez testemunhasse o fim do mundo. Não, o fim da humanidade. O mundo continuaria; talvez o homem morresse, mas a terra seguiria produzindo seus frutos.''
É interessante observar toda essa nova perspectiva, mas como o livro não é muito comprido, foi uma pena o autor não ter conseguido explorar tanto esse brave new world nas páginas de que ele dispunha.
Uma coisa legal do livro é que ele vai intercalando presente e passado, ao passo que os personagens vão recordando suas histórias, o que nos permite conhecer o processo que fez o mundo resultar naquilo tudo. O pai de Barbagris era dono de uma fábrica de brinquedos infantis, mas como fazer o negócio continuar vingando num mundo em que não nascem mais crianças? Vemos todo o crack no sistema e no comércio, consequência da inexistência de jovens e grande população idosa. Produtos para jovens não vendem mais e como resultado disso diversas empresas vão a falência. Idosos não tem a mesma disposição ao trabalho e, bom, pra que trabalhar se não temos mais uma geração de filhos e netos a suprir? Então não há mais mão de obra e o comércio é liquidado por isso. A humanidade muda, a economia muda, o mundo muda e as coisas acabam. É bem interessante pensar no que aconteceria com o mundo se, BUM, assim do nada, crianças parassem de nascer e a população só fosse envelhecendo, envelhecendo, envelhecendo. Desgraçamento total.
Ademais, a grande reflexão do livro não é nova, né? Qual vai ser o resultado de tanta exploração humana sobre a natureza? De tantas guerras e destruição? Qual é nosso limite, afinal? Porque aparentemente ainda não achamos um e vamos só consumindo tudo visando o lucro pessoal -ou nacional. Qual vai ser o fim disso? No que vai acabar? Que desgraça nos espera lá na frente se as coisas -se a nossa atitude- não mudarem e LOGO?
''Qual seria o fim de tudo aquilo?
Uma pergunta viscosa como poucas; era-lhe difícil livrar-se dela; cada vez mais, ele a sentia consigo.''
Sabe, embora no livro vejamos um final que realmente abre novas portas à humanidade e parece oferecer uma esperança longínqua (a grande sacada final do livro, o aprendizado, a reflexão, é muito boa, maravilhosa), não sei qual é o nosso fim de verdade. Talvez Brian Aldiss tenha adivinhado e Jornada de Esperança só é o relato de um futuro que ainda não chegou. Mas já está a caminho.
''Com fria objetividade, ele já percebia que sua espécie estava chegando ao fim. Ano após ano, à medida que os vivos fossem falecendo, os quartos vazios se multiplicariam por toda parte, à maneira dos alvéolos de uma gigantesca colmeia abandonada pelas abelhas, terminando por encher o mundo. Chegaria a época em que ele, Timberlane, se transformaria num monstro, perambulando solitário pelos quartos, perdido no labirinto das próprias passadas.''
''-O futuro não existe, lembra-se? Nós o liquidamos no passado.''
(Não consegui escolher só uma frase pro fim; as duas ilustram muito bem as coisas.)
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