30/09/2025

Lina sertralina Carolina

Tem pelo menos umas quinze coisas mais relevantes e urgentes e importantes e de adulto que eu deveria estar fazendo em vez de escrever este post, mas de algum modo a única coisa que faz sentido pra mim agora é jogar tudo isso pro alto pra estar aqui escrevendo este post. Que canseira de sumir por mais de ano e voltar aqui dizendo que a vida me atropelou, alguém ainda tem saco? Espero que sim, porque é só isso mesmo: a vida me atropelou. Estão deixando cada maluco tirar CNH hoje em dia (agora eu sou motokeiraaa \o/).

Passei por uns maus bocados, de novo, alguém ainda tem saco? O resultado foi correr pra psicóloga depois de dez anos sem fazer terapia e correr pro psiquiatra depois de um ano sem remédios. Tomar pílulas, afinal, é muito mais fácil, por isso a discrepância temporal. Corri pra eles num desespero absoluto e só voltei pra terapia porque o caso é grave mesmo e eu pensei que dessa vez vou ter que me agarrar a tudo que estiver ao redor, como um náufrago se debatendo à procura de um bote salva-vidas.

Estou tomando três remédios psiquiátricos, meua migo, minha miga. Nunca tinha me ocorrido. Um é quase regra, o mundo tá acabando e tá todo mundo mal. Dois não é bom, mas passa. Agora três? Outro patamar. Parece que desbloqueei uma nova fase. Parece que cheguei num novo chefão. Um comprimido de escitalopram e outro de bupropiona (também chamado carinhosamente de bup, como o pet simpático da família) pela manhã, dois comprimidos de carbolitium (também chamado de lítio) à noite. Antes eu tomava sertralina e achava legal que ela combinava com meu nome, Carolina, como se fôssemos feitas uma pra outra. Lítio me parece nome de coisa séria, de remédio proibido de adulto, de coisa de injetar na veia pra derrubar alguém. Mas o médico receitou ele pra potencializar o efeito do escitalopram. Então quer dizer que é um remédio pro remédio. Certo? Meu antidepressivo toma antidepressivo. Show.

Tenho uma queda pelo meu psiquiatra. Eu tenho um palpite de que ele não é inocente e sabe exatamente o que tá fazendo, mas o cara é realmente um ótimo profissional e sabe exatamente o que tá fazendo. Eu tava com lama até o pescoço e agora tô com lama até o joelho, no máximo, isso em uns dois meses. Mas ele podia ser menos charmoso. Menos atraente. Andei lendo que é relativamente comum nos sentirmos atraídos por psicólogos, psiquiatras etc, e que o fenômeno tem até nome, transferência. Isso me fez ficar pensando em quanta gente tá por aí fazendo terapia só pra superar a paixão não correspondida no último terapeuta.

Isso também me lembra que eu também tive uma queda pelo meu último psicólogo, aquele de dez anos atrás, do CAPS-I (pois é). Talvez eu só saia por aí tendo quedas pelas pessoas independente de seus exercícios profissionais? Talvez eu esteja mesmo cometendo transferência? Quem sabe. Tara comum ou não, me sinto mal de ficar sexualizando um profissional, um TRABALHADOR. Isso não é muito vamos tomar os meios de produção da minha parte. Eu deveria ter vergonha, e tenho.

Não estou vendo efeito em fazer terapia, não vejo sentido, não gosto. Infelizmente, acho que sou negacionista de terapia. Eu sei que estou errada, quase criminosa, mas o que posso fazer além de estender os braços e deixar que me algemem? Pelo menos ainda estou tentando, mesmo sem botar fé na coisa. É claro que é muito conveniente que eu não ache que terapia é pra mim, que vai dar certo. Afinal de contas, EU NÃO GOSTO. Aposto que meu pai também não acha que exame de próstata seja tão necessário assim.

Me prometi que vou continuar na terapia pelo menos até o final do ano. A questão é que fico pensando que poderia estar falando durante cinquenta minutos com qualquer um dos meus amigos sobre as mesmas coisas e daria na mesma, de quebra seria grátis. Não consigo me convencer do contrário. E minha psicóloga não é ruim, tá, não mesmo, tem anos de experiência e nem é a única com quem já me consultei. Mas sempre tive a mesma impressão. E eu realmente não fui de má vontade, eu tava desesperada de verdade. :)

Acho engraçado quando dizem que ''todo mundo deveria fazer terapia'' porque nunca senti que a coisa encaixava comigo. Acho curioso o fenômeno dos entusiastas da terapia, que recomendam pra todo mundo, uma comunidade cada vez maior (que bom) que admiro de longe. Eu sou uma pessoa com problemas psicológicos (27 anos lidando com isso, não tenho mais escrúpulos dando nome aos bois) que às vezes ficam bem graves, bem sérios, então se tem um grupo de pessoas no mundo que precisa de terapia, estou dentro. Mas por que parece que nunca funcionou e nunca vai funcionar? E será que não é exagero dizer que todo mundo precisa de terapia? Não é tão pretensioso quanto eu dizer que não preciso não? Talvez exista gente por aí que simplesmente consiga ficar Bem e tá tudo bem viverem sem. Absurdos maiores já ocorreram no planeta, inclusive este ano.

Será que um dia vou ser uma dessas pessoas que tem epifanias no meio da sessão? Isso rola mesmo ou é coisa de filme? Tenho até o fim do ano pra descobrir... Ou meses adentro em 2026, já que vai ser um parto pra mim dispensar a psicóloga. Eu tenho MUITA dificuldade com isso, em cortar algo, dizer não, não quero, não, não quero mais. Sou a vítima perfeita de todos os vendedores de rua que pulam na nossa frente com quinquilharias no centro da cidade. Eu compro cada porcaria que não quero e muito menos preciso só pra não magoar aqueles adultos pidões, só pra não dizer não, tomada pelo medo paralisante de decepcionar alguém... Talvez eu deva fazer terapia.

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