Eva Luna - Isabel Allende
Você já terminou um livro que te dexou com uma vontade pungente e intensa de poder chegar perto de cada um dos personagens, pegar suas mãos, olhar bem fundo nos olhos deles e abraçá-los profundamente? Já te aconteceu de os personagens entrarem e se fundirem tanto dentro de você que é uma surpresa abrir os olhos depois de uma pausa na leitura e não encontrar eles alí, ao seu lado, dizendo com o olhar tudo o que o autor disse com a escrita?
Já aconteceu?
Foi isso que aconteceu comigo quando li Eva Luna.
É incrível a profundidade e veracidade que Allende conseguiu transmitir em seus personagens.
Somos apresentados a Eva, menina diferente, de origens peculiares, sensível mas destemida e que perdeu a mãe (nem conheceu o pai, índio que não viveu com elas) logo cedo e acabou crescendo e colhendo vivências em uma sucessão variada de lares e pessoas diferentes, absorvendo de cada um estórias e pedaços, os quais fez parte de si mesma.
Isso tudo ocorre num período de transição de ditadura-"democracia" (que mais era uma roubalheira e opressão correndo abaixo do tapete de uma suposta democracia) em um país da América latina que Allende não chega a especificar e fica meio incerto, nem por isso deixando de nos tocar com intensidade real.
É um ambiente atribulado para nossa protagonista crescer, mas que lhe deu riqueza em variáveis de existência que ela, posteriormente, acaba usando em suas histórias: Eva, como sua mãe, é uma contadora nata de histórias, dom que lhe rende a simpatia daqueles que estão dispostos a ouví-la - o que muito ocorre ao longo da narrativa.
O encanto em Eva Luna é a admirável variedade de personagens com características únicas e singelas que prendem o leitor num afã de querer conhecer cada um deles plenamente, em suas belas singularidades - que são muitas vezes propiciadas pelo ambiente hostil e incerto em que se desenvolvem. E conhecer cada um deles é um luxo que Allende nos proporciona ao explorar ao máximo, ela própria, os personagens que criou, esmiuçando cada reminiscência de suas personalidades, passados, desejos e sonhos. A escritora desenvolve com maestria apaixonante cada figura de importância no livro, o que lhes dá esse tom real que faz com que tenhamos a sensação de estar lendo a história de pessoas que, na verdade, já conhecemos em algum momento da vida. E ela faz isso usando como pano de fundo um relato de protesto contra a realidade brutal em que cresceram os cidadãos naquela nação com líderes corruptos e cruéis que empregavam métodos abusivos para "manter na linha" o povo subjugado, isso com a finalidade de possibilitar a continuidade de seu poder tirânico.
Essa insatisfação implícita contra a realidade de uma sociedade decadente é temperada com os personagens encantadores de Allende, o que faz com que não seja apenas um livro com uma crítica real, e sim um BOM livro com uma crítica real, que não se limita a isso, sendo permeado por personagens com um maravilhoso senso de existência, lutando por causas honrosas de liberdade, paz e dignidade em um ambiente de opressão, ditadura, preconceitos e machismo.
Allende nos insere num contexto quase alucinante, onde os acontecimentos correm em ritmo vertiginoso, carregando os protagonistas para todos os lados e possibilitando a construção de um enredo com vários ângulos e pontos de vista.
Eu poderia ficar horas discorrendo a respeito do leque maravilhoso de personagens com histórias incríveis que Allende nos apresenta, mas falemos de detalhes técnicos: a narrativa ocorre um primeira pessoa nos capítulos em que Eva conta sua história; mas intercalados com esses, se desenvolve também a descrição da vida de Rolf Carlé, jovem cinegrafista e idealista que trabalha com jornalismo e que vem a conhecer Eva já quase no fim do livro, quando suas histórias se entrecruzam e eles têm muito a compartilhar um com o outro - especialmente os ideais de mudança e luta pela liberdade de expressão.
Além de instigar o leitor a pesquisar e conhecer melhor a história das ditaduras na América latina (acabei a leitura querendo correr para o google saber de cada pormenor sobre), esse livro não nos deixa apenas com um testemunho histórico, apesar de fictício; ele nos dá o gosto daquela literatura boa da qual falam os poetas, recheada de reflexões e retratos da beleza e simplicidade da vida, através de personagens que se impregnam irremediavelmente no leitor, dada a paixão que eles despertam.
Eva, Rolf, Humberto, Mimi, Vovó, Halabi e tantos outros ficarão sempre comigo, e quanta vontade tive de poder tocar, abraçar e conversar com cada um deles!
Eva Luna é um livro que nos faz não somente pensar na vida, mas senti-la.
Eu não tenho palavras para descrever o quanto me sinto contente em ter escolhido ler essa história; acabou sendo como um presente pra mim, mesmo que sem uma data que tornasse isso oportuno.
Livros bons como esse sempre serão um presente pra quem os lê.
Allende está oficialmente na minha estante destinada aos "Ainda Bem Que Li Antes de Morrer."
Já aconteceu?
Foi isso que aconteceu comigo quando li Eva Luna.
É incrível a profundidade e veracidade que Allende conseguiu transmitir em seus personagens.
Somos apresentados a Eva, menina diferente, de origens peculiares, sensível mas destemida e que perdeu a mãe (nem conheceu o pai, índio que não viveu com elas) logo cedo e acabou crescendo e colhendo vivências em uma sucessão variada de lares e pessoas diferentes, absorvendo de cada um estórias e pedaços, os quais fez parte de si mesma.
Isso tudo ocorre num período de transição de ditadura-"democracia" (que mais era uma roubalheira e opressão correndo abaixo do tapete de uma suposta democracia) em um país da América latina que Allende não chega a especificar e fica meio incerto, nem por isso deixando de nos tocar com intensidade real.
É um ambiente atribulado para nossa protagonista crescer, mas que lhe deu riqueza em variáveis de existência que ela, posteriormente, acaba usando em suas histórias: Eva, como sua mãe, é uma contadora nata de histórias, dom que lhe rende a simpatia daqueles que estão dispostos a ouví-la - o que muito ocorre ao longo da narrativa.
O encanto em Eva Luna é a admirável variedade de personagens com características únicas e singelas que prendem o leitor num afã de querer conhecer cada um deles plenamente, em suas belas singularidades - que são muitas vezes propiciadas pelo ambiente hostil e incerto em que se desenvolvem. E conhecer cada um deles é um luxo que Allende nos proporciona ao explorar ao máximo, ela própria, os personagens que criou, esmiuçando cada reminiscência de suas personalidades, passados, desejos e sonhos. A escritora desenvolve com maestria apaixonante cada figura de importância no livro, o que lhes dá esse tom real que faz com que tenhamos a sensação de estar lendo a história de pessoas que, na verdade, já conhecemos em algum momento da vida. E ela faz isso usando como pano de fundo um relato de protesto contra a realidade brutal em que cresceram os cidadãos naquela nação com líderes corruptos e cruéis que empregavam métodos abusivos para "manter na linha" o povo subjugado, isso com a finalidade de possibilitar a continuidade de seu poder tirânico.
Essa insatisfação implícita contra a realidade de uma sociedade decadente é temperada com os personagens encantadores de Allende, o que faz com que não seja apenas um livro com uma crítica real, e sim um BOM livro com uma crítica real, que não se limita a isso, sendo permeado por personagens com um maravilhoso senso de existência, lutando por causas honrosas de liberdade, paz e dignidade em um ambiente de opressão, ditadura, preconceitos e machismo.
Allende nos insere num contexto quase alucinante, onde os acontecimentos correm em ritmo vertiginoso, carregando os protagonistas para todos os lados e possibilitando a construção de um enredo com vários ângulos e pontos de vista.
Eu poderia ficar horas discorrendo a respeito do leque maravilhoso de personagens com histórias incríveis que Allende nos apresenta, mas falemos de detalhes técnicos: a narrativa ocorre um primeira pessoa nos capítulos em que Eva conta sua história; mas intercalados com esses, se desenvolve também a descrição da vida de Rolf Carlé, jovem cinegrafista e idealista que trabalha com jornalismo e que vem a conhecer Eva já quase no fim do livro, quando suas histórias se entrecruzam e eles têm muito a compartilhar um com o outro - especialmente os ideais de mudança e luta pela liberdade de expressão.
Além de instigar o leitor a pesquisar e conhecer melhor a história das ditaduras na América latina (acabei a leitura querendo correr para o google saber de cada pormenor sobre), esse livro não nos deixa apenas com um testemunho histórico, apesar de fictício; ele nos dá o gosto daquela literatura boa da qual falam os poetas, recheada de reflexões e retratos da beleza e simplicidade da vida, através de personagens que se impregnam irremediavelmente no leitor, dada a paixão que eles despertam.
Eva, Rolf, Humberto, Mimi, Vovó, Halabi e tantos outros ficarão sempre comigo, e quanta vontade tive de poder tocar, abraçar e conversar com cada um deles!
Eva Luna é um livro que nos faz não somente pensar na vida, mas senti-la.
Eu não tenho palavras para descrever o quanto me sinto contente em ter escolhido ler essa história; acabou sendo como um presente pra mim, mesmo que sem uma data que tornasse isso oportuno.
Livros bons como esse sempre serão um presente pra quem os lê.
Allende está oficialmente na minha estante destinada aos "Ainda Bem Que Li Antes de Morrer."
"De mim dependia a existência de tudo quanto nascesse, morresse ou acontecesse, nas areias imóveis onde meus contos germinavam. Podia colocar nelas o que quisesse, bastava pronunciar a palavra certa para dar-lhes vida. Em certas ocasiões, sentia que esse universo fabricado pelo poder da imaginação tinha contornos mais firmes e duráveis do que a região confusa onde perambulavam os seres de carne e osso que me rodeavam."

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