25/12/2017

Crisis

Tive mais uma crise das brabas, à qual esse blog não sobreviveu... Não plenamente, pelo menos; ele não morreu, mas levou um tombinho, sim. É a primeira vez que isso (esse espaço sofrer consequências diretas) acontece.
Eu ainda não tenho ânimo condições capacidade vocabular mínima estrutura emocional pra discorrer sobre isso de maneira concisa e nítida, mas basta dizer que o término de 2017 reservou desgraças e tristezas o suficiente pra que o último ciclo de 365 dias fosse elevado ao posto de Pior Ano Entre Os Últimos Anos, surpreendentemente ultrapassando 2016, coisa que eu achei que não aconteceria tão cedo.
O homem faz planos e a vida ri de escárnio, mastiga e cospe eles na nossa cara, como diz aquele dito popular, mais ou menos...
Eu tive uns dias que, olhando em retrospecto (e com moderada incredulidade, porque tive depressão e desde então adquiri uma consciência implícita de que nada poderia ser pior do que aquilo...), têm sério potencial de elencar Os Piores Dias da Vida de Um Ser Humano (no caso eu; não tenho nem 20 anos, então esse título é meio pretensioso, mas entendam).
E com piores MESMO dias da vida, não tô falando daqueles dias zoados num nível cômico que beira o teatral, que você poderia jurar que ganhariam espaço no trecho fracassado da vida da heroína de uma comédia romântica, com salto do sapato quebrando e fazendo ela tropeçar dentro de uma poça enquanto o vento vira o guarda-chuva do avesso no meio de uma tempestade que ela, coitada, pega no caminho de uma entrevista de emprego com a qual sonhou durante meses. 
Tô falando de ficar dias na cama, direto, sem ter ânimo pra levantar e tentando fingir pros conhecidos que é só mais uma cólica menstrual. Tô falando de passar o dia inteiro só com uma xícara de café e um pão seco com chimia que você comeu por pura encenação, porque a tristeza era tanta que a fome, esse instinto tão primitivo e natural, virou um conceito vago e descabido.
Tô falando de, basicamente, querer morrer. Ou dormir por um longo, longo, looooongo tempo, sem pausa pra comida ou banheiro que pudesse aflorar os pensamentos cotidianos agora insuportáveis.
Dormir, dormir, acordar e querer dormir, adormecer, acordar, lamentar, dormir, despertar, pesar, acordar, deitar, dormir. E assim 24, 48, 72 horas se passaram.
Pra poder dar a quem lê (tem alguém aí?) uma noção, estou escrevendo isso porque sou incorrigível da sala de espera do bloco cirúrgico de um ótimo e bem conceituado (graças a Deus; eu espero) hospital de grande porte aqui em Porto Alegre. 
Sala de espera é aquele lugar aflitivo em que você, sabendo da situação delicada e crítica de alguém que te é próximo e querido (afinal de contas, você não iria ficar parado por horas - mais de quatro, até agora - numa cadeira que não chega perto do conforto de um lar familiar por alguém que não é querido em algum nível), só pode parar e... Esperar. 
Incrível como a espera dói mais que muitas feridas. Mais que quase todas, ouso dizer.
Esses parágrafos acima contam um pouco (pouquinho mesmo) da história que desencadeou meu pequeno colapso, embora essas linhas breves não consigam transmitir um terço sequer do drama todo.
Mas o que eu estava falando é que me vi afundada numa crise horrível como poucas são, e como esse blog, de um jeito que é até bonito e querido pra mim, tem representado boa parte do que sou e sinto, quase como uma segunda entidade Carolínica pairando no mundo, ele acabou absorvendo isso de maneira contundente.
É engraçado como nossos perfis na internet acabam refletindo e abrigando uma parte tão significativa de nós, até mesmo nossa essência do momento, e viram alvos diretos de nossos despejos emocionais em meio a tribulações. Eu já excluí várias redes em momentos de crise existencial, e de um jeito quase bobo que só a geração millennial (por criação ou opção) habitante da internet deve entender, aquilo servia como uma fuga real que, de alguma forma que nem sei, suavizava uma guerra interna. Eu queria poder excluir minha existência por um tempo, mas como isso era impossível (sem recorrer ao suicídio, quer dizer), meus perfis na internet é que recebiam o golpe e eram eliminados.
Foi o que aconteceu com esse blog, por mais ou menos uma semana (não consegui aguentar o buraco da inexistência por muito tempo, notem).
Junto à minha crise com a existência, a vida e tudo mais, acabei pensando nesse endereço online despretensioso (really) que você, pessoa estranha, está acessando agora. 
Quer dizer, eu levo muito a sério (embora de maneira espontânea e inconsciente) o escrever pra mim mesma, acima de tudo. Porque é bom e porque me faz bem. Porque preciso.
Mas se é pra mim, faz sentido publicar publicamente (ignoremos a redundância, por favor)? Faz sentido sequer continuar? Não é idiota estar falando sozinha? E se na verdade for pros outros, como eu me sentiria sabendo que, com algo tão pessoal e íntimo para mim (a escrita), releguei meu contentamento a segundo plano, mesmo acreditando fielmente que esse deve ser o foco principal? E se for pros outros e poucos entre esses outros lerem, ainda faz sentido escrever? E se ninguém ler? Não é pretensioso demais? Não é tolo? Não é idiota achar que tem alguém aqui quando na maior parte do tempo essa página é um deserto?
Não sei. Eu ainda não consigo definir nitidamente o porquê de estar aqui, com esse espaço sendo o que ele é. Eu também estava convicta de que a existência dessa parte de Carolina na internet não seria abalada e seguiria plena e inexpugnável, com uma constância intocável até mesmo por mim.
Não queria tocar todo esse grande pouco no lixo por causa de uma crise qualquer, como vejo que acontece com muitos blogs extintos por aí (ocorrências sempre lamentadas por mim). Eu pensava (e queria pensar) nesse espaço como a única representação de mim na internet que seria plena e autônoma, uma espécie de porto seguro inabalável, porque esse blog me é necessário e fundamental demais pra ser esdruxulamente eliminado como uma conta no twitter, facebook ou ask.fm. Ele é intrínseco a mim demais.
Ele sou eu e somos um, é assim que eu queria que as coisas fossem. É assim que eu pensava nelas, por mais presunçoso que isso seja. 
Também não queria migrar pra outro blog na mesma plataforma, mudando de nome, endereço e tudo mais, nem para uma newsletter (que, francamente, fica aquém do veículo bloguístico em todos os sentidos, formato e praticidade, e eu não sei que raios de benefícios conseguem ver nelas além do aconchego da caixa de entrada, mas ok), médium ou sei lá, porque minha intenção era que o blog, esse website que já é um Pseudo Ser para mim, incorporasse minhas nuances e oscilações, minhas inconstâncias e até mesmo minhas crises (fail), e as reciclasse, afinal de contas assim é a vida, assim sou eu e assim eu quero que isso aqui, que vejo como uma extensão de mim, seja.
Então mesmo que tudo estivesse mal e errado, colapsando; ou ótimo, bom, maravilhoso... Do jeito que fosse, assim KraheLake ficaria e se manifestaria.
Não quero extinguir esse lugar. Quero que, apesar de tudo, ele permaneça. Sempre.
Mas não posso ter garantias, não é mesmo? Ninguém faz um blog pensando em excluí-lo, e as certezas de outrora são diluídas com o girar do ponteiro e o trocar do calendário.
Como dito e a despeito da prolixidade nesse texto, não sei elucidar com precisão e concatenar as palavras certas pra expressar graficamente as razões de manter isso aqui. Mas sei que verdadeiramente preciso disso. Pelo menos por enquanto (e espero que esse enquanto se prolongue indefinida e, ouso, infinitamente - tanto quanto a efemeridade a que estamos condenados permitir), eu preciso. Muito. 
E por mais que eu o encare com uma abordagem demasiadamente particular, não me incomodaria se alguém mais precisasse dele, nem que fosse um pouquinho, também.
Então permaneço.

2 comentários:

  1. Permaneça sim! O que quer que esteja acontecendo, espero que melhore, que seja reversível.
    Não sei se algum dia na vida tive sintomas de depressão ou ansiedade, já que nunca fui diagnosticada... Mas me identifiquei muito com esse estar deitada. Nesses últimos dias me forcei a dormir, reclamei por acordar cedo porque não sabia ou queria fazer nada até a hora de dormir novamente... E quando acordava tarde achava horrível também. Enfim, talvez seja diferente e muito mais potente o que você sentiu, mas de alguma forma imagino... E espero que não aconteça mais. Que a escrita te ajude, é um desabafo maravilhoso. E faça assim mesmo, despretensiosamente, para ver no que dá, se desafoga o peito e a mente... Se a escrita não ajudar, sempre há alguma outra coisa, espero.

    Um grande beijo e que 2018 nos seja mais leve, porque por muitos momentos (muitos mesmo) 2017 pareceu um pesadelo de dias de febre.
    Beijo, Carolina! Melhoras! A você e aos seus!

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    1. Agradeço, de coração, pela gentileza do teu comentário. Aquece de verdade a gente ler uma mensagem assim, de alguém assim, quando as coisas parecem tão feias. :)

      Ficar por aqui (e acompanhar tantas outras pessoas em seus respectivos ''aquis'' também) tem sido uma verdadeira terapia e vejo com verdadeiro pesar uma realidade paralela em que eu não tivesse esse espaço.

      E sim, que 2018 seja mais leve para todos nós. Fique bem também! =)

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