22/09/2016

Orgulho e Preconceito

Eu já havia feito uma resenha sobre os escritos de Jane Austen, quando li Razão e Sensibilidade. E a experiência (desanimadora, como você verá se ler a resenha de ReS), desta vez com Orgulho e Preconceito, embora tenha sido um pouco melhor, de modo geral foi semelhante (conclui-se, um pouco desanimadora também).
Na Inglaterra do século XVIII, vemos desenrolar a história de Elizabeth Bennet e sua família de mais quatro irmãs (Jane, Kitty, Mary e Lydia -das quais Jane se destaca ao longo da narrativa), além do pai, Mr. Bennet, e da mãe, Mrs. Bennet (os pronomes de tratamento no início dos nomes, que diferem homem/mulher/senhor(a)/filho(a) apenas com umas letras, confundem bastante ao longo do livro, a propósito). Essa pacata família de classe média vive como todas as outras famílias daquele tempo, ao que parece. E com isso, como na resenha de ReS, quero dizer que do início ao fim vemos um objetivo mor na vida das personagens femininas desse contexto: arranjar casamento. Mrs. Bennet (mulher que me desgostou profundamente, diga-se de passagem) só quer isso para as filhas: que estejam casadas. E com a vinda de dois homens de boas posses que passam uns dias na cidade, Bingley e Mr. Darcy, não faltam motivos para que as expectativas de casamento comecem a fermentar no coração das senhoras, embora Bingley seja ‘’o sonho’’ e Darcy acabe por ser desgostado pela maioria, que o vê como demasiadamente orgulhoso.
Jane e Bingley logo começam a se aproximar, e Elizabeth, moça que se difere das outras por sua irreverência e inconformismo com o que todos parecem achar o certo para as mulheres da época, acaba por atrair a atenção de Darcy, que até então só havia se visto cercado de mulheres prontas a agradá-lo e bajulá-lo falsamente. E os encontros e desencontros, entendimentos e desentendimentos dos dois preenchem as páginas.
E por aí vai.
Eu até gostei de Elizabeth, sabe. Realmente era uma moça diferente das desmioladas fúteis a que somos expostos na totalidade do livro, mas eu esperava que suas posições contra aquele blá-blá-blá de ‘’toda moça precisa de homem senão não tá bem na vida’’ fossem mais expressivas e fortes. Então não entendo bem o posto de A Grande Feminista que alguns atribuem a ela. Bom, Mr. Darcy conseguiu me conquistar um pouquinho, sim. Mas não TANTO ASSIM. Simpatizei com ele pelo desprezo que ele acabava delegando às desnecessárias vaidades e comportamentos cerimoniosos daqueles que o cercavam. Gostei do cara, até. Mas também não consigo vê-lo como modelo de homem e cara dos sonhos, embora seja interessante observar o desenvolvimento de seu caráter, impulsionado pela atração que sentia por Elizabeth. Há também, como o título não deixa esquecer, os confrontos entre o orgulho e preconceito de ambos com relação ao outro, dado a diferença e contraste entre suas classes sócias –Darcy é muito rico, enquanto Elizabeth nem renderia dotes notáveis ao noivo se se cassasse.
Jane Austen é muito elogiada pelos que se referem a seus escritos como críticas àquela sociedade cheia de esnobismo, conformismo, e tolas vaidades, além daquela visão estreita sobre as mulheres, que ditava que elas só seriam alguém a partir do momento em que se casassem, e não incentivava qualquer independência por parte delas. Se é essa a intenção dos livros dela, ridicularizar aqueles hábitos, eu diria que conseguiu. O livro me encheu de asco ante a personagens tão mesquinhos e odiosos, vou te contar. Lady Catherine, Mrs. Bennet e Lydia são modelos ridículos e esdrúxulos de ser humano. No entanto, assim como não vejo Lizzy como ‘’grande feminista’’, também não percebi essa suposta crítica de forma explícita no livro. Não foi assim que ele me soou. Para mim pareceu mais um livro escrito por uma mulher que observava o seu meio e que decidiu passá-lo adiante através de relatos fictícios em seus livros. Não uma crítica premeditada, mas sim um relato.
Claro que posso estar errada, mas foi isso que o livro me passou. (Sorry
again, fãs da Jane.)
Ademais, Jane Austen tem sim uma escrita boa e fluída, de modo que até mesmo para mim que não me encantei tanto pelo livro, não foi de maneira nenhuma cansativo lê-lo. Embora a abordagem não tenha me agradado tanto, pude tirar proveito, sim, da leitura. E ainda recomendo. Às vezes é bom ler um clássico só pra tentar descobrir por que ele é um clássico. ;)
E uma citação referente aos incomuns modos de Elizabeth que demonstra a visão que eles levavam as pessoas da época a ter dela:

‘’-Andar três ou quatro milhas, ou cinco milhas, ou lá o que seja, com os tornozelos metidos na lama, e sozinha, inteiramente sozinha! Que significa isto? Parece-me mostrar um conceito abominável de independência, uma indiferença toda campestre à mais elementar decência.’’

(Acho que isso resume bem as coisas. Risos.)

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