21/10/2016

Luther

Chega outubro e todo mundo (todo mundo quem?) já começa a pensar em certas datas específicas que marcam esse mês, como dia das crianças, dia do professor, halloween e até mesmo o outubro rosa, campanha em prol da conscientização a respeito do câncer de mama. (Inclusive eu fiz uma pesquisa rápida no Google sobre datas pseudo comemorativas desse mês e descobri que, além da que vou tratar aqui, também se incluem o dia da música, dia da natureza e dia do livro -três coisas que eu amo mas havia esquecido que tinham seu próprio espaço no calendário nacional. Enfim.)
Mas há uma data importantíssima (importância indiscutível, me desculpe, mesmo que você não seja ligado em história ou religião) que passa batida em praticamente todos os meios -dificilmente é discutida nas escolas (apesar da sua notoriedade óbvia na construção da sociedade), provavelmente no intento de ''não transgredir'' o Estado Laico (é o único argumento que me vem à mente, realmente não sei por que não se fala dessa data): o dia da reforma protestante.
Curiosamente, uma data tão fatídica para a cristandade divide espaço com o mesmo dia do halloween, 31 de outubro. Mas não vou falar sobre isso aqui, apenas deixarei a indicação de um filme que vi recentemente e que me encantou muito sobre a história dessa data e sua repercussão e resultado na sociedade.
Lutero, ou Luther, no original, é um filme alemão produzido em 2003 (embora ele pareça bem mais antigo) e dirigido por Eric Till.
Ele conta a história de ninguém mais, ninguém menos que o próprio Martinho Lutero (ahh, jura? pensei que se chamava Lutero mas retratava a história dos Jonas Brother's), desde seus primórdios como monge germânico até seu envio, ocasionado por seu superior no convento, a Wittenberg, onde deveria dar aulas na universidade e trabalhar como pregador na igreja da cidade. Após uma ida a Roma, o jovem volta decepcionado com tudo que vê lá, no que se referia a ação dos religiosos que regiam os cidadãos ditando seus dogmas abusivos -com destaque à compra de indulgências- e em contraversão com a bíblia na qual o monge tanto acreditava. A partir de então ele começa a questionar pra si mesmo esses ditames da igreja com base no seu conhecimentos das escrituras, e conclui que o catolicismo da época estava totalmente subversivo, atolado em dogmas religiosos irreais que se baseavam em explorar os simples com o medo do inferno para render riquezas à igreja na forma da venda de indulgências (pedaços no céu e passagem de saída do purgatório -o filme aborda esse absurdo de maneira quase cômica).
É então que ele começa sua luta ''pública'', digamos, contra toda essa heresia, publicando livros sobre a questão e pregando, na porta da igreja de Wittenberg, suas 95 teses, as quais contestavam, com base nas escrituras, a procedência da igreja ante seus fiéis. E então vemos desenrolar todo o conflito ocasionado por esse homem que se tornou figura central na reforma protestante.
Eu vi o filme no grupo de jovens, na igreja (sou cristã), e estava esperando uma coisa totalmente monótona e massante -até o líder fez piada daquele filme ''super emocionante estilo Tom Cruise em seus longas de Hollywood -sqn e o pessoal todo já começou a olhar com aquela cara de ''me acordem quando acabar'', e talvez tenha sido justamente por isso -essa total inexistência de grandes expectativas- que ele me surpreendeu e encantou tanto. Eu fiquei fascinada pelo filme, vidrada -lá pelas tantas já tinha tomado uns quinhentosenoventaenovemil copinhos de suco mas não fui ao banheiro porque bexiga, se acalme amiga, NÃO QUERO PERDER NADA!
Sério, ele nos expõe um desenvolvimento tão bom da construção da figura Lutero que torna tudo bastante interessante e assistível, apesar de sabermos que retrata uma época em que as pessoas tocavam seus queridos baldinhos de cocô pela janela por motivos de ainda não inventaram saneamento básico nessa desgraça.
Aí você pensa, bom, ela é cristã, deve estar ''puxando a brasa pro assado dela'' (alguém realmente usa essa expressão?) dizendo que o filme é bom porque fala num dos caras que encabeçou a principal reforma do cristianismo porque esse é o tipo de coisa que crente fala mesmo.
Mas amigo, venho te dizer que, apesar de ser realmente fascinada por esse tema, tendo em vista que, por ser cristã, eu de certa forma ''faço parte'' dele, numa perspectiva atual, o que eu mais acho louvável no filme não é bem o tema cristão retratado, e sim a personalidade do homem Lutero.
Sério. O cara era IN-CRÍ-VEL.
Pra começar, sabem por que o responsável dele no convento o enviou a Wittenberg? Para fazer com que aquele menino que vivia sempre afundado nos próprios pensamentos, fazendo mil reflexões por minuto e ''vivendo no munda da lua'' tivesse uma distração, uma ocupação que o libertasse de seus profundos momentos de introspecção (isso está na biografia de Lutero). Já amei porque IT'S ME CAROLINA MARIO. Eu sou muito assim, tô sempre perdida nos meus próprios pensamentos e isso vive preocupando quem convive e lida comigo -oi, mãe.
Mas o mais incrível é a convicção e força que ele tinha -e que vemos no filme- pra defender essa verdade na qual ele tanto acreditava e que viraria DO AVESSO a sociedade da época, se fosse exposta e levada adiante. Algo tão grande assim, claramente não seria de graça, e ao longo da trama vemos todas as ameaças (principalmente morte) que cercaram Lutero e às quais ele resistiu, perseverando apesar de todo o medo e tensão que certamente o cercaram -em certo ponto ele tem que abandonar tudo, a universidade em que lecionava, a igreja em que pregava, seus amigos e vida para viver confinado num quarto, escondido para fugir daqueles que queriam seu pescoço.
E O QUE ELE FEZ DURANTE ESSE TEMPO DE CONFINAMENTO?, eu te pergunto. Ficou chorando as pitangas e lambendo as feridas? Não! (embora talvez um pouco, né?) O cara ficou estudando latim, grego, hebraico e sei lá mais que língua pra traduzir A BÍBLIA (não um gibi da Mônica, minha gente, A BÍBLIA) para que as pessoas, os simples como eu e você talvez fôssemos se estivéssemos naquela época, pudessem, simplesmente, entendê-la, lê-la. Eles não dispunham desse privilégio, na época, motivo pelo qual era tão fácil pra qualquer pregador tomar o púlpito e enfiar goela abaixo dos cristãos que ''se você não colocar quarenta moedas de ouro nesse baldinho sua vovó querida vai ficar tricotando casaquinhos no purgatório pra sempre'' -era isso que eles viviam. Só os religiosos e monges podiam entender aquele livro que para os fiéis era cercado de ordens impossíveis de cumprir pra quem não tivesse dinheiro pra comprar seu pedacinho no céu. E foi Lutero que possibilitou isso a essas pessoas, enfiando a cara em trezentos livros de idiomas e rachando a cuca enquanto estava confinado numa masmorra (não sei se era uma masmorra, mas vamos fingir que era porque esse termo é legal) para não morrer queimado pela inquisição como um peru no ano novo.
Eu li bastante sobre ele e o conteúdo ao qual tive acesso só me fez achá-lo ainda mais incrível do que o filme relatava. Enfim, amei o cara.
Uma coisa muito bonita também é ver como sua visão de Deus vai se modificando ao passo que ele para pra ler a bíblia com sinceridade (sem a obrigação de ''tenho que fazer isso porque sou um monge''), singeleza e delicadeza, realmente buscando sua verdade. Lutero, no início, tinha medo de Deus e vivia atormentado por conta disso -uma das aflições que o faziam ficar imerso nos próprios pensamentos de culpa e castigo-, mas ao passo que vai se aprofundando em conhecimentos sobre a bíblia, passa a conhecer o Deus de amor que acalenta suas aflições e medos, e conhecer esse Deus tão bom sobre o qual ninguém na época parecia ouvir falar inflamou sua vontade de dividí-lo com todas as pessoas que viviam embaixo do mesmo medo, culpa e aflição.
A reforma aconteceu porque alguém conheceu, realmente conheceu, Deus. E quis contar isso ao mundo.
Enfim, é isso. O texto ficou enorme (pra variar), vish... Mas that's it. Contra várias expectativas, gostei do filme e espero que, se alguém for assistir por ler isso, goste um pouco (ou muito) também.
Até porque OLHEM ESSE LUTERO.
(No filme o penteado tá horrível -coisa de monge-, mas o rosto é esse.)

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