De Christiane Rochefort
Eu amo livros sobre mulheres escritos por mulheres. E amei O Repouso do Guerreiro - também, mas não somente, por isso.
Eu amo livros sobre mulheres escritos por mulheres. E amei O Repouso do Guerreiro - também, mas não somente, por isso.

Genevieve, antes tão dedicada à própria vida e a seus deveres e compromissos, se vê, de súbito, deixando tudo para trás, esquecido, perdido e abandonado em segundo foco ante a seu envolvimento intenso com Renaud. Seus dias passam a girar em torno dele, somente. Ela se prende na vontade de mantê-lo ali, sempre e irremediavelmente com ela, e para tanto não poupa nenhum tipo de esforço diante das exigências (bastante excêntricas) do moço em todos os aspectos, especialmente sexual e psicológico. A tudo ela consente para manter constante esse amor e paixão desenfreada, que só ela parece se dar ao trabalho de alimentar, uma vez que de Renaud só vemos, no quesito emocional, a indiferença complacente.
Genevieve se entrega por inteiro, não mais existe sem Renaud. Sua vida se transmuta no suprimento daquele voraz instinto apaixonado. Tudo muda para ela. Genevieve muda, Genevieve se transforma. Descobre, com Renaud, a própria sexualidade, os desejos e vontades de sua carne, que antes desconhecia serem tão irrefreáveis e exigentes. E com essas descobertas se lança na viagem vertiginosa que são seus dias de entrega a esse homem.
A forma com que a autora explora esse desenvolvimento da personagem feminina é muito interessante de acompanhar. A construção de seus quereres e sensualidade é vista crescendo poupo a pouco, de um jeito bastante envolvente.
O personagem Renaud em si também é muito curioso. Ele é um pessimista que desdobra sua visão negativista sobre a vida e si mesmo de uma forma filosófica ao longo de vários diálogos do livro. Descobrimos que ele desacredita no amor porque desacredita em si mesmo e na humanidade como um todo. Suas perspectivas sobre a simples existência que corre sobre a Terra são bem intrigantes de um jeito dramático e fatalista. Ele é um alcoólatra inveterado porque com isso tenta fugir da própria função de ser.
Não vou dizer qual foi o desfecho dessa paixão arrasadora pra evitar spoiler, né? Mas, bom, não foi trágico; digamos que nossos personagens se encontraram. Renaud, perdido em si mesmo e Genevieve, perdida nesse amor, por fim, se acharam. E foi bonito ver.
Mas deixando o enredo em si um pouco de lado, o que tenho a dizer sobre o livro é que ele me causou certa preocupação. Porque aquela paixão que a autora despe de simbolismos e enfeites românticos pode acontecer comigo, pode acontecer com qualquer um. Sem olhar para o belo fim aqui, e discutindo apenas o desenvolvimento de tudo, posso dizer que a ideia de me entregar totalmente a uma paixão que me consome em todos os aspectos, como acontece a Genevieve, me deixa temerosa. Porque tenho orgulho e nela o orgulho é total e completamente abandonado, posto de lado, ignorado. Não há espaço para ele em tamanha entrega, e isso é meio preocupante, não? Porque você deixa de se importar consigo mesmo e passa a olhar somente para o próximo, e, embora essa condição seja essencial para manter um amor vivo muitas vezes, ela também pode ser autodestrutiva. Porque você esquece de si e só lembra do seu amor, você se deixa ser usado mas se recusa a usar o outro. E se esses sentimentos não forem recíprocos em igual medida, você é esmagado. E isso preocupa, porque pode ser seu fim.
Ademais, sei que pode acabar sendo muito fácil, para mim, me entregar dessa maneira. Isso assusta.
Aqui entra toda aquela discussão de "mas isso não é amor, ninguém deve se submeter a tal coisa, não é saudável!", e eu sei, não é mesmo. Mas não sejamos hipócritas, por mais que você se ame, por melhor que seja sua autoestima e valor que atribui a si mesmo(a), pode acontecer. A gente às vezes se perde em paixões que nos envolvem de todo e nelas, às vezes, a ideia de se entregar e se render não nos parece tão ruim assim. Porque você está amando e nas paixões isso acontece. Nas paixões você se perde, você se rende, você se entrega e, de vez enquando, você diz dane-se a si mesmo. E vai ter quem diga que isso não é ''se dar ao respeito'', e talvez essas pessoas até estejam certas. Mas acontece. Às vezes, acontece.
E saber que pode - que provavelmente vai, um dia (se já não aconteceu) - acontecer comigo me preocupa muito, sim. Eu posso querer me precaver agora e me munir de proteções, de autodefesa e de amor próprio desmedido, mas pode ser que isso não baste, pode ser que eu acabe me perdendo mesmo.
Pode acontecer. E tenho que viver com isso - todos temos. E, sabe, embora pareça ser falta de amor próprio e blábláblá, desde já, embora me perturbe, a ideia não me parece distante ou improvável; muito pelo contrário. Me envolver numa paixão como me envolvi nesse livro e como os personagens do livro se envolvem entre si? É bem possível que aconteça, e acho que desde já isso mostra que estou mais perdida de mim mesma do que deveria.
Aqui entra toda aquela discussão de "mas isso não é amor, ninguém deve se submeter a tal coisa, não é saudável!", e eu sei, não é mesmo. Mas não sejamos hipócritas, por mais que você se ame, por melhor que seja sua autoestima e valor que atribui a si mesmo(a), pode acontecer. A gente às vezes se perde em paixões que nos envolvem de todo e nelas, às vezes, a ideia de se entregar e se render não nos parece tão ruim assim. Porque você está amando e nas paixões isso acontece. Nas paixões você se perde, você se rende, você se entrega e, de vez enquando, você diz dane-se a si mesmo. E vai ter quem diga que isso não é ''se dar ao respeito'', e talvez essas pessoas até estejam certas. Mas acontece. Às vezes, acontece.
E saber que pode - que provavelmente vai, um dia (se já não aconteceu) - acontecer comigo me preocupa muito, sim. Eu posso querer me precaver agora e me munir de proteções, de autodefesa e de amor próprio desmedido, mas pode ser que isso não baste, pode ser que eu acabe me perdendo mesmo.
Pode acontecer. E tenho que viver com isso - todos temos. E, sabe, embora pareça ser falta de amor próprio e blábláblá, desde já, embora me perturbe, a ideia não me parece distante ou improvável; muito pelo contrário. Me envolver numa paixão como me envolvi nesse livro e como os personagens do livro se envolvem entre si? É bem possível que aconteça, e acho que desde já isso mostra que estou mais perdida de mim mesma do que deveria.
''Chorei longa e copiosamente, chorei mais e mais, vi que tudo era uma comédia absurda sem o menor sentido, e perguntei-me se, de fato, eu amava Renaud, ou se toda aquela história não era, por acaso, desde o começo, um delírio de interpretação romântica, encenado pelas circunstâncias, o suicídio patético, a mudança de lugar, o estranho encanto de Renaud, a simples ruptura de meus hábitos; a novidade, vejam só. A tese era tão sedutora quanto meu coração, no momento, estava vazio e frio; e ele a acolheu sem qualquer revolta.''
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