11/01/2017

Embaixo das Parreiras

Hoje, chorei por causa de você novamente.
Chorei por você, por mim, por nós. Pelo que éramos e não somos mais... Quer dizer, já fomos alguma coisa? Alguma vez eu deixei? Acho que não. Desculpa. Ou melhor: perdão. Aprendi que quando é de propósito, você diz ''perdão''. E foi. Perdão.
É engraçado, eu estava lendo um livro em que o moço dispensa a moça, descompromissadamente, como quem não quer nada. ''Porque o tempo passou'', ele diz. Não foi o que aconteceu com a gente. O nosso tempo nunca existiu, certo? Eu tava empacando o ponteiro e sabia que, se deixasse ele girar, uma hora empacaria você também nesse monte de problemas.
O moço dispensa a moça no livro e eu comecei a chorar sem querer, sem ver, sem perceber, porque pensei na gente (isso tem acontecido bastante nos últimos séculos dias), o que é meio irônico porque com nós a coisa foi ao contrário, certo? Que coisa estranha isso, dizer que eu ''dispensei'' alguém; principalmente porque sabemos que não foi no afã de uma futilidade (realmente espero que você saiba) assim, e estranho porque, bom, na minha cabeça as coisas sempre aconteceriam comigo de maneira muito diferente.
Você nunca esteve na minha cabeça antes, sabia? Nunca como um daqueles ''cara dos sonhos'' pré-moldados. Ela -minha cabeça- não tinha a capacidade de compreender alguém como você -às vezes acho que ainda não tem.
Fiquei lá, sentada numa cadeira dura debaixo da sombra das parreiras que, desde os últimos temporais, estão semi-despencadas aqui em casa (e que minha mãe insiste em querer arrancar e começar de novo, mas eu amo e tenho dó de ficar sem aquele verde, mesmo por pouco tempo), olhando a rua e quem passava por ela. Chorando em silêncio. Tirei os óculos e coloquei no colo também, junto ao livro, porque aprendi que quando eu choro as gotículas ficam marcadas nas lentes como uma cicatriz que denuncia o pranto -metáfora bem apropriada, por sinal- e que se eu tirasse ele momentaneamente podia entrar dentro de casa depois, como quem não quer nada e não tava chorando embaixo das parreiras dois segundos atrás.
Chorei por nós, B. Porque, como tu disse, isso tudo é uma droga. E não tem como não ser. Desculpa (dessa vez é desculpa, mesmo, não perdão; não é de propósito).
Eu não queria que fosse assim -embora esse seja o contra-argumento mais antigo que humanidade já conheceu, não é mesmo? Às vezes o clichê, vejam só, é a maior verdade a ser dita. Como quando eu disse algo próximo do Não é você, sou eu, lembra? Nossa, como aquilo era verdade... Você não tem ideia.
Acho que consigo lembrar pontualmente das vezes em que chorei por nós. Com exceção da primeira (um desespero contido), as outras foram todas (vide a de hoje) aquele lamento que escorre contínuo e lento, sabe? Em silêncio. Quando você tem a certeza de que a dor pela qual chora não tem remédio nenhum, pelo menos não um que você conheça.
Isso está soando pretensiosamente dramático, não está? (O sim aqui indicaria plausibilidade.) É uma droga eu detestar tanto dramas e ser viver num dos maiores dramas existenciais que eu conheço -e que você agora conhece também, né? Mais uma ironia da vida, como a de que eu, logo EU, ia atrair um cara como você.
Juro que às vezes não entendo isso...mas aí penso um pouco em como tudo se encaixava com a gente (em como as conversas iam de suco de uva a psicologia, Pringles a minha autoestima de merda, filmes, livros, meu hábito de comer batom infantil e ração, teu gosto por mulheres, meu gosto por homens e o seu dedo anelar que é maior que o indicador; você lembra disso tudo? Eu lembro) e a questão me parece mais simples que 2+2 (lembremos que sou péssima em matemática; eu já te disse?).
Nem sei mais o que esse texto tá virando -já tô nele há mais de uma hora, veja só. É choro reprimido ou nostalgia gostosa? Não sei se alguém vai ler, mas sei que precisei e quis muito escrever. Isso basta nesse blog. É a filosofia barata disso aqui.
Também sei que não é o primeiro texto que existe só por causa de ti e certamente não será o último.
Mas o fato é que chorei por você hoje. E sabe de uma coisa? Quero chorar mais.
Desde que seja por você.

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