De Vinícius Grossos
Outro livro emprestado, e esse é
brasileiro. Li com mais vontade porque estava precisando de uma coisinha mais
mamão com açúcar pra me distrair e era mais ou menos isso que eu esperava. Ele
é todo leve e descontraído, tem essa capa com uma ilustração simples e
bonitinha, letras grandes que vão rápido e cheirinho de novo - como de fato é,
a mãe do meu amigo tinha recém comprado pra dar pra ele (preciso de gente que
compre livros pra mim assim, do mais absoluto nada; interessados, enviem
currículo). Eu queria uma leitura fluída e leve e foi isso que encontrei entre
essas páginas.

Mas enfim, como eu ia dizendo, O Garoto
Quase Atropelado certamente é mais em conta ao público juvenil, tem uma
narrativa bem fácil de acompanhar e que é até mesmo infantil, em alguns
momentos. Ele é cheio de frases clichês que você lê pensando ‘’isso claramente
foi escrito pra alguém tatuar no antebraço ou colocar no seu perfil de citações
do tumblr (raise your hands if you have one, cause I do)’’, e alguns momentos e
ocasiões que seguem os mesmos termos. De maneira geral, eu achei superficial,
embora ele tente com afinco mergulhar no íntimo de cada personagem, explorando
suas emoções, passados, sonhos e expectativas. O autor é bem jovem, na casa dos
vinte, e publicou poucos romances até então; embora ele desenvolva a narrativa
de uma maneira que faz com que ela não canse, fatigue e consiga, no geral, nos
instigar a conhecer o resto da história, dá pra perceber, de alguma maneira,
que estamos lendo algo escrito por um romancista de início de carreira, sabem? Achei
a estruturação dos personagens, tal como suas reações, atitudes e diálogos,
meio irreais, quase absurdos. Seguidamente lia trechos que me faziam pensar ‘’isso
JAMAIS acontece com gente real’’. Sei que, réllou, isso é ficção e existe uma
coisa chamada licença poética que te permite pintar e bordar com qualquer
manifestação artística que você queira desenvolver, mas essa irrealidade
dificultou minha imersão na leitura. O livro é melancólico e AMO de paixão esse
clima na literatura porque ele dá muita margem a que eu sinta todas as emoções
dos personagens, me identifique com eles, sofra (eu gosto de sofrê com livros,
nunca vi...) com eles e sinta que tudo aquilo também está acontecendo comigo;
mas embora eu não tenha ficado impassível a tudo aquilo, faltou esse
envolvimento maior que eu poderia ter sentido. Apesar disso, cada personagem
tem uma história bem característica e memorável e você acaba simpatizando com
eles no final, pelo menos um pouquinho.
A história é contada em forma de diário, o
diário do Garoto Quase Atropelado, cujo nome real não conhecemos em nenhum
momento do livro. Ele começa a escrever num diário por recomendação de uma
psicóloga e incentivo de sua mãe, que acharam bom ele destrinchar os próprios
pensamentos e externar o que sente de alguma forma, depois de uma evento extremamente
traumático que lhe ocorreu. Mas a narrativa fica bem frenética e com capítulos
compridos o suficiente pra você esquecer que tá lendo tudo de um diário e
passar a achar que é só um desenrolar normal de enredo em primeira pessoa.
Ao passo que vai escrevendo sobre seus primeiros
dias tediosos com o diário, O Garoto cruza caminho com três adolescentes com os
quais passa a se envolver, desenvolvendo logo uma amizade de laços fortes
unidos pela sofrência experiência mútua com momentos e situações
traumáticas que marcaram a vida desses quatro jovens, de maneiras diferentes. A
Cabelo de Raposa, O James Dean Não-Tão-Bonito, a Cabelo Roxo e O Garoto Quase
Atropelado (a repetição frequente desses apelidos chega a irritar, em certo
ponto do livro) se unem, não ‘’apesar das diferenças’’, mas por causa delas, e embarcam numa
amizade (vê se essa frase não parece sinopse de filme clichê de aventura entre
adolescentes) que os leva a vivenciar diversas experiências juntos; são
momentos de superação, irmandade, tolerância, coragem e fé na amizade que os
une. Além de muita paixonite desesperada, como não poderia faltar num livro que fala sobre adolescentes imaturos e bobinhos. E tudo (MUITA coisa MESMO) acontece no intervalo de apenas 1 mês – um mês
que finda de maneira bem dramática, devo dizer (e só não digo mais pra não
spoilerar a coisa toda).
Uma das maiores lições que o livro procura
passar é a necessidade de não só existir, mas viver de fato, com o tempo que
nos é dado. O personagem central, depois do evento traumático que ocorreu em
sua vida, se tocou numa sucessão de dias vazios e inaproveitados, levados no
embalo da melancolia, tristeza e falta de propósito que o cercou depois da
tragédia. Após quase ser atropelado (por isso o apelido ‘’Garoto Quase
Atropelado’’), no momento em que percebe que se safou da própria deesgraça, ele
sente aquele alívio de quem teve uma segunda chance pra viver, enquanto o
coração bate frenético pelo quase fim da linha de vida que teria arrebentado se
ele não tivesse freado a bicicleta antes do carro ter a chance de passar por
cima dele. Ele não foi atropelado, só quase, e por isso sentiu que tinha mais
uma oportunidade de mudar o rumo que sua vida tinha levado. Se ele se tocou de
cara nesse propósito, se a sensação logo passou e foi esquecida pra nunca mais
voltar ou se ele começou a abrir espaço aos poucos a novas experiências e
oportunidades e como ele fez
quaisquer dessas opções acima é uma coisa que vou deixar quem quiser ler
descobrir.
Se eu recomendo o livro? Olha, não foi
nada excepcional para mim, como eu fiz questão de esclarecer ao apontar os
defeitos que observei (eu detesto adotar essa posição crítica de quem acha que
entende todos os paranauê do assunto que tá abordando, mas já era, desculpa) e
que me incomodaram ou afetaram o andar da carruagem narrativa pra mim,
de alguma maneira; mas eu também não me arrependi de ter gasto o tempo que li
nessa tarefa. O livro tem sua superficialidade, suas falhas e seus aspectos a
melhorar, mas também carrega boa parte das características que eu tava
procurando no momento em que fiz a leitura: leveza (o livro é cheio dos
desastre, então é engraçado citar ‘’leveza’’ aqui, mas como eu disse, a coisa é
abordada de uma maneira meio infantil, então tá tranquilo tá favorável SOCORRO
TÔ MENCIONANDO ESSA MERDA NUMA RESENHA), simplicidade, distração e
descontração. Ademais, eu nunca ouso antecipar a recepção que cada leitor terá
a cada livro diferente, porque os leitores, como os livros, variam demais.
Então, se você estava como eu, que havia
saído de uma bosta de livro de metafísica e logo entraria num relato histórico
denso sobre a Segunda Guerra Mundial (tô lendo agora) e queria procurar alguma
coisa mais neutra pra se encaixar entre eles e não explodir seus miolos ou, sei
lá, só é alguém atrás de novos nomes e títulos da literatura nacional atual,
vai nessa, leia. Garanto que as 270 páginas vão fluir e passar rapidinho – até mesmo
se você achar uma completa desgraça, ouso dizer.
''SABE AQUELE MOMENTO EM QUE VOCÊ REALMENTE É QUASE ATROPELADO POR ALGUMA COISA, E NUM LAPSO DE SEGUNDO VÊ A SUA VIDA PASSANDO RÁPIDO ATRAVÉS DOS SEUS OLHOS, MAS ENTÃO NADA DE GRAVE ACONTECE E VOCÊ ESTÁ APENAS LÁ, PARADO, OS OLHOS ASSUTADOS, O MEDO CANTANDO NOS OUVIDOS, E O CORAÇÃO MARTELANDO DE FORMA DOENTIA?
AÍ, É NESSE INSTANTE QUE VOCÊ PERCEBE QUE ESTÁ TUDO BEM, VOCÊ RESPIRA E É COMO SE TIVESSE MAIS UMA OPORTUNIDADE. E, NO FIM DAS CONTAS, TUDO SE RESUME A APENAS ISSO: VOCÊ REALMENTE SE SENTE VIVO!''
(Ah, o autor vive mencionando esse sentimento ao longo do livro, a ''sensação de ser quase atropelado'', e isso passa a ser uma referência constante entre os amigos; depois que deixa de ser meio irritante você passa a achar bonitinho, juro.)
P.S.: A Laís era louca de pedra, cara. Sério, eu e o Daniel (amigo que emprestou o livro - e que quer ser psicólogo, acho que isso empresta alguma credibilidade a esse julgamento, certo?) concordamos que aquela guria precisava de um tratamento seríssimo. PlmdD, ALGUÉM AJUDA AQUELA DISGRAÇA.
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