27/06/2017

O Grande Gatsby

De Scott Fitzgerald
Eu nunca tinha lido um livro do Fitzgerald, e como ele é um baita nome da literatura, acabava me despertando um pouco de curiosidade; mas nunca o suficiente pra me fazer levar pra casa O Grande Gatsby (era o título mais frequente dele que aparecia na minha frente) quando eu o via nas estantes da biblioteca, visto que ele acabava tendo que competir com outros livros que me interessavam bem mais. Ainda assim, a curiosidade persistiu e cedi completamente a ela quando me propus a fazer o Desafio dos 50 Livros de 1900 Pra Ler Antes de Morrer e ele estava entre os listados.
R.I.P. unhas que eu quebrei semana passada.
Demorei umas duas semanas ou mais para lê-lo e considero isso um tempo absurdamente demorado, porque ele é pequeno e, pelo menos pra mim, fluído; porém eu fiquei meio doente nesse período e tive umas três semanas do meu mês ENGOLIDAS pelo desgraçamento e não conseguia pegá-lo pra ler tamanho era o desânimo e mal-estar, mas enfim.
Descobri que a escrita do moço Scott é bastante envolvente e melancólica, nada muito pragmático, cru ou superficial. Sabe aqueles escritores que começam a devanear em cima dos assuntos que estão sendo tratados, explorando eles ao máximo numa pegada bem reflexiva e vamos filosofar sobre a vida? Assim é a escrita dele nesse livro. Eu costumo simpatizar bastante com esse tom de melancolia, mas a verdade é que O Grande Gatsby não ficou nem perto de virar um livro favorito pra mim, e temo não ter conseguido aproveitar e ter me deixado envolver pelo que quer que o livro tinha a oferecer a mais porque o li nuns dias bem ruinzinhos e apáticos - e por um outro motivo que vou mencionar logo, logo. Talvez ele mereça uma releitura, porque não tinha grandes chances de me conquistar no tempo em que foi lido; mas isso certamente vai tardar a acontecer.
Começamos a ler o livro adentrando na perspectiva única do narrador personagem Nick Carraway, um moço que se muda para Nova York para trabalhar como corretor de títulos, e passa a morar num bairro meio rico, na casa ao lado de uma figura ilustre e muito conhecida, Jay Gatsby, um cara muito bacana e dono de um casarão que se tornou conhecido na região por promover festas de arromba com tudo a que se tem direito toda semana - mas, ainda assim, mantendo uma aura afastada e misteriosa diante de tudo aquilo. É numa dessas festas que, sem saber muito por que está lá, Nick acaba conhecendo Gatsby e ambos se aproximam. Além disso, na mesma cidade e só a alguns bairros de distância, também vivem a prima de Nick, Daisy, e marido dela, Tom.
A gente vai mergulhando cada vez mais na narrativa mas sempre com um sentimento um tanto incerto e confuso, sem saber aonde aquilo tudo quer nos levar, onde vamos parar, o que o Fistzgerald queria transmitir. Tem uma história acontecendo e um enredo se desenvolvendo, okay, mas a narrativa parece meio despropositada e sem uma nítida razão de ser... Até que chegamos próximos do fim.
Descobrimos (e isso aqui talvez seja um spoiler, embora não seja O SPOILER do enredo; mas enfim, considere-se avisado) que Scott (somos íntimos) queria escrever um livro sobre sonhos e expectativas que, alimentados a fio durante muito tempo, sem nada que os prenda à lucidez e doses mínimas de realidade, se tornam objetivos inalcançáveis, impossíveis, erráticos e que levam o sonhador em questão a cair num looping infinito de irrealidades tolas.
Descobrimos que Gatsby não mora onde mora por acaso ou por ter achado a mansão bonita, com um gramado legal; ele se mudou para aquele lugar, construiu uma reputação rasa, uma imagem e parte de uma vida com o propósito único de ficar perto e poder reconquistar a criatura amada, Daisy, que mora perto e que ele conheceu na adolescência e com quem teve um fugaz caso amoroso. Gatsby, esse homem rico e misterioso, de uma reputação respeitável, que promove festas das quais todo mundo quer participar, que certamente permanece constantemente no radar de dúzias de amantes em potencial, que é um cara respeitoso, educado, culto, até, bacana, se mostra patético em suas fantasias infantis, alimentando a perspectiva de poder ficar com a moça, seu amor juvenil conhecido no passado e agora casada (com um grosseirão, diga-se de passagem).
Nick começa a conhecer a situação real por trás de toda aquela fachada e fica meio perdido, como eu fiquei, vendo todo aquele drama recusável e triste acontecendo com o cara que ele passou a chamar de amigo.
Eu terminei o livro há mais ou menos uma semana, e antes de vir aqui escrever eu li uma resenha de outra pessoa, aleatoriamente na internet, pra checar alguns dados (não costumo fazer isso porque tento sintetizar minha visão sobre o livro antes de ler a de qualquer outra pessoa pra tentar ficar isenta de ‘’fatores externos’’, sabe?), e me deparei com uma moça que disse que Gatsby era uma criatura triste. Nossa, como isso é uma verdade, eu pensei. A partir do momento em que Nick e, consequentemente, nós também, passa a saber o que se passa na cabeça do cara, vemos como toda a situação é bem triste e patética. Como toda a fama, toda a riqueza, requinte, autoridade e poder do Gatsby acabam sendo descartados e reduzidos diante da consciência de que ele tem a cabeça de um adolescente desiludido e frustrado... E toda essa fantasia tem um desfecho um tanto catastrófico e errado.
Mas okay, vou parar de contar sobre o enredo diretamente e passar a um outro ponto que quero abordar nessa resenha.
Lembra quando eu disse, lá em cima, que além de ter ficado na bad durante o período da leitura, havia um outro motivo para eu não ter me envolvido tanto com o livro? Pois bem, o motivo é que o Fitzgerald (não aguento mais digitar essa bagaça) escreveu um livro que queria transmitir uma mensagem que ninguém que não tem uma graduação em literatura e pega o livro cru, assim, do nada, pra ler, conseguiria assimilar de maneira plena sem antes dar uma boa lida em alguns estudos, textos dissertativos ou introduções desenvolvidas em cima da obra. Porque o livro TODO (os personagens, o enredo, os acontecimentos) é uma alegoria que não está exatamente explícita entre as linhas do romance. Na verdade, S.F. (porque já disse que CANSEI DE DIGITAR ESSA JOÇA) estava falando sobre a colonização da América do Norte naquelas páginas todas, olha que louco. 
Jay Gatsby, criando expectativas irreais e se iludindo francamente com a hipótese de desenvolver de novo um romance com Daisy, e acabando quebrando a cara FEIO (*spoiler*) faz referência aos ingleses que foram para a América do Norte com a esperança de adentrar um ‘’novo mundo’’, certamente cheio de sonhos, realizações em cima das expectativas e conquistas... Mas que, fadado a todos os destinos nos quais a humanidade põe a mão, acaba se demonstrando uma tentativa falha de algo a princípio longe de qualquer suspeita mas que acaba, com o perdão da expressão, degringolando (ou ‘’indo pro brejo’’, se você preferir). O livro acaba sendo uma sátira em cima do ‘’American Way of Life’’ que foi de uma grande idealização para uma lorota patética.
Colonização da América do Norte, pois é; e eu achando que era só uma história sobre um único carinha iludido, e não uma NAÇÃO inteira, que acaba indo pra banha (por favor, me diga que você já ouviu essa). Só descobri isso porque li uma introdução no início do livro (depois de já terminar ele porque eu não queria spoilers e a  nota introdutória estava cheia deles) que elucidou a coisa toda. Sem ela, eu estaria fazendo suposições cegas até agora...
Mas enfim, isso tudo me faz pensar sobre a questão da arte que ‘’tem o que dizer’’. Sabe quando a gente vê uma pintura abstrata e fica especulando sobre o que raios o artista estava querendo dizer com aquilo? Eu penso que, putz, a arte é legal porque a gente pode transmitir coisas através dela (porque ‘’temos o que dizer’’ com ela), mas também é legal pelo desfrutar do simples ato de expressá-la, produzi-la e aproveitá-la. Quer dizer, às vezes o cara só queria tacar tinta num quadro sem uma GRANDE MENSAGEM por trás daquilo; às vezes só deu vontade de escrever e saiu aquele livro bonito com uma leitura gostosa que nos rende boas horinhas com as páginas em mãos; às vezes o ser humano só quis colocar as mãos nas cordas do violão e sair tocando, formando uma música e e TÁ TUDO BEM, porque é arte mesmo assim, é lindo, a gente gosta de produzir (vamos fingir que eu faço alguma coisa da minha vida nesse parágrafo, okay?) e usufruir.
Mas O Grande Gatsby, na verdade, realmente tem uma coisinha oculta (ou nem tanto) a dizer, haha. Não se encaixa nessa categoria acima. Isso acabou sendo engraçado porque eu terminei o livro pensando que ‘’bah, interessante, não me envolveu tanto, mas deu pra sacar que faz alusão a sonhos inatingíveis e tal...’’ e aí fui ler a introdução e GEN.TE., não é que essa bagaça era mais do que isso? Hehehe
Mas enfim, é isso, encerro essa resenha aqui porque é o que eu tinha pra falar. Fique agora com um trecho que fala bem sobre os sonhos estratosféricos do Gatsby... e boa sorte ao tentar entender como eu transformei um livrinho de 200 e poucas páginas numa resenha de 1500 e todas as letras no Word (e olha que a parte da citação, abaixo, ainda nem começou a contar...).

Quando levantei para me despedir, vi que a expressão de êxtase retornara ao rosto de Gatsby, embora lhe tivesse ocorrido uma vaga incerteza quanto à dimensão de sua felicidade atual. Quase cinco anos! Mesmo naquela noite, deve ter havido momentos em que Daisy não esteve à altura dos seus sonhos - não por culpa dela, mas pela vitalidade colossal de sua ilusão, que havia atingido um patamar além dela, além de tudo. Ele se rendeu a essa ilusão com uma paixão criativa, complementando-a o tempo todo, enfeitando-a com todo tipo de plumas coloridas que encontrava pelo caminho. Nem as maiores lufadas de fogo e vento seriam capazes de competir com aquilo que um homem pode guardar em seu coração etéreo.”


Esse livro faz parte da lista de 50 livros de 1900 que eu vou ler antes de morrer. Confira mais aqui (nossa, parece até frase de comercial).

6 comentários:

  1. até ler esse texto, especialmente a parte histórica e a citação, nunca havia pensado em ler esse livro. mas gostei bastante do trecho que voce postou, porque tenho familiaridade com essa paixão criativa enfeitada com plumas coloridas. adorei teu blog!

    Helen
    um velho mundo

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    1. ''Tenho familiaridade com essa paixão criativa enfeitada com plumas coloridas'' - que jeito mais amorzinho de sintetizar esse sentimento, haha <3
      Que bom que te levou a querer ler (eu vi que tu faz história, né!); acho que posso considerar meu trabalho aqui feito, haha
      Também adorei teu blog (eu gosto dos pessoais, sem tutorial de maquiagem e descaradamente diarinho = puro amor)! <3

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    2. Ah! <3 Isso, trabalho com história, e vou ler sim, só não sei quando :p
      Fico feliz que tenha gostado *-* também gosto dos sem tutorial de maquiagem hahahah e que bom saber que o meu pode ser considerado diarinho, porque nunca consegui classificá-lo! Diarinhos, melhores blogs! :D

      beijão

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    3. Nunca conseguiu classificá-lo; totalmente entendo esse sentimento. <3
      ME
      LHO
      RES
      EVER
      MES
      MO
      !
      ("Sem tutorial de maquiagem" acaba virando uma frase pronta pra definir o tipo de conteúdo bloguístico que [não] acompanhamos, haha)

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  2. Adorei sua resenha, muito legal! Esse livro está na minha listinha faz um tempo mas como você ele não é prioridade na minha lista sabe haha
    Pelo o que vi ele te faz pensar e é uma das razões que ele continua na lista, vamos ver se eu consigo gostar :)
    Beijos
    http://www.nomundodaluablog.com/

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    1. Então, eu não necessariamente AMEEEEEI o livro, sabe? Mas não me arrependo de tê-lo lido e é interessante a mensagem que ele passa, além da referência histórica.
      E também tem muitos clássicos que leio só pra saber o porquê de eles serem clássicos, e esse livro é um desses, haha

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