Da Sue Monk Kidd
Que leiturinha do amor, já começo dizendo isso. Eu não tinha nenhum conhecimento a respeito do livro (que foi adaptado para um filme homônimo) quando o encontrei na estante, mas ele foi exatamente o que esperei ao ver a capa (porque elas fazem diferença, afinal), ler a sinopse e anotar o nome numa notinha de celular que, não me pergunte como, jamais emagrece um kg e engorda toneladas em toda visita que faço à biblioteca, embora a média de livros lidos seja um por semana.
Conhecemos Lily, uma menina de 14 anos, muito altiva e vivaz, que vive com o pai, um ogro brutamontes, e é basicamente criada por Rosaleen, uma empregada negra que acaba sendo quase uma mãe adotiva da menina, desde que sua verdadeira progenitora morreu num acidente trágico e controverso ocorrido dentro de casa. A história se passa nos EUA dos anos 60, quando a segregação racial ainda imperava e os negros recém haviam adquirido o direito (entre vários outros negados, naturalmente) de votar.
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Obviamente faceiríssima porque a coberta combinou com a capa do livro. |
Toda a trama do livro começa a se desenrolar quando Rosaleen, uma mulher incrível e o tipo de pessoa que não leva desaforo pra casa, decide ir à cidade se registrar como eleitora, depois de ficar semanas treinando a grafia do próprio nome. Lily vai junto e, acompanhando sua mentora não oficial, acaba parando na precária prisão da cidadezinha graças a um grupo de homens brancos que, racistas e bossais, se ''desentendem'' com Rosaleen, que cospe um bolo de tabaco mascado nos pés deles (eu tava falando sério quando disse que ela não leva desaforo pra casa) e acaba espancada (inclusive pelas próprias autoridades) e na cadeia.
Lily, por ser branca, é liberada e entra em conflito direto com o pai violento quando chega em casa, ouvindo palavras traumáticas de abandono que ele diz a respeito da mãe da menina. Essa discussão é um divisor de águas e Lily acaba fugindo com Rosaleen da cadeia e indo parar na casa de três irmãs negras, produtoras de mel, em uma cidadezinha pequena, graças a uma embalagem (da Maria Negra, símbolo do produto das irmãs) de um potinho de mel que encontrou entre os pertences da mãe dela, com o nome da cidade como referência.
As irmãs do calendário (August, June e May), famosas na cidade, abrigam a menina e a Empregada Que Passou a Ser Muito Mais Que Uma Empregada, desconfiando da história inventada que Lily cria sobre a origem das duas, e logo a menina é introduzida no mundo das abelhas e sua vida secreta e fascinante, enquanto ajuda na produção da substância vital juntamente com Zach, um moço também negro (naquela época, brancos viviam apenas com brancos e negros viviam apenas com negros), encarregado de boa parte da produção do mel.
Claro que muitas questões que a menina carrega sobre a própria mãe, que partiu (olha o eufemismo...) quando ela tinha 4 anos e virou personagem central dos pensamentos de Lily desde então, são desenvolvidas durante a estadia da moça no casarão, porque afinal de contas, a embalagem daquele mel ter sido um dos únicos bens guardados com esmero por sua mãe não poderia ser obra do acaso.
Uma coisa legal é que cada capítulo do livro é introduzido por uma informação sobre abelhas e seu incrível modus operandi (I MEAN IT: VIVA A GENIALIDADE E MAESTRIA DAS ABELHAS DO MUNDO, AMÉM), extraídas de diferentes livros sobre o assunto, devidamente creditados. Não por acaso (esse é um livro essencialmente sobre mulheres), sabemos logo que os machos da espécie (zangões) são criaturas meramente coadjuvantes e de importância secundária na colmeia, servindo quase que unicamente para meios de reprodução (RÁ) e com uma sobrevivência que depende TOTALMENTE das abelhas fêmeas, que os alimentam (!) e sustentam (!) se quiserem, pois VIVA FEMINISMO (RÁ RÁ). Sério, que orgulho dessas bichanas (leiam esse artigo, plmdds).
A Vida Secreta das Abelhas é um livro sobre racismo, preconceito, diferenças que geram desigualdade e segregação, sim; um livro que inclusive mostra como, mesmo depois de já ter direitos garantidos por lei, eles frequentemente continuam sendo terminantemente negados a certas minorias durante muitos anos.
''Nós não podemos pensar em mudar a cor da nossa pela. É preciso mudar o mundo, é assim que devemos pensar.''
Mas MUITO antes disso tudo, este é um livro sobre mulheres fortes. Fortíssimas. E incríveis. Todas as protagonistas são mulheres e cada uma tem suas nuances e peculiaridades: June é amarga e recusa pedidos de casamento que um cara (gente boa) tem feito a ela por anos porque ela tem medo do que o casamento e a vida podem fazer com uma mulher; May tem problemas psiquiátricos e é extremamente sensível porque carrega as dores do mundo sobre si e tem o próprio Muro das Lamentações, construído por ela e pelas irmãs, onde deixa bilhetinhos com palavras breves sobre o que a aflige; August é a abelha rainha do livro e mulher que encabeça todas as decisões e medidas tomadas na própria casa, que ela gere com louvor; Rosaleen é.. gente, É A ROSALEEN (sério, não tem muito como eu expressar minha admiração pela criatura aqui, então LEIAM). E Lily, claro, é uma menina forte e independente que não deixa, nem por um minuto, que os males do mundo a derrubem.
É engraçado eu ter percebido isso com nitidez só aqui e agora, escrevendo isso (coisa que mostra que às vezes, para que efetivamente entendamos algo, é necessário destrinchar esse algo através da escrita), mas a verdade é que temos dois grupos de abelhas fantásticas, incríveis, rainhas e independentes nesse livro: as próprias, listradinhas vivendo nos apiários e produzindo mel no pátio da casa, e as cinco mulheres incríveis que se unem, vivem juntas, comandam a própria vida, tomam as próprias decisões e não precisam de absolutamente nenhum zangão por perto (não que eles sejam necessariamente ruins SEMPRE) pra viverem muito bem, obrigada.
Se você gosta de ler sobre mulheres fortes e sobre como nós conseguimos ser maravilhosas, incríveis, fantásticas e divas num mundo tão desgracento pra quem não tem um pênis, esse livro foi escrito para você - tal como foi escrito para mim.
Então, sério, leia. Eu quase (porque nunca se sabe) posso prometer que você não vai se arrepender.
''O MUNDO TEM A PECULIARIDADE DE CONTINUAR GIRANDO POR MAIS TRISTES QUE SEJAM AS COISAS.''
Esse livro ♥ Esse filme ♥ ♥ ♥
ResponderExcluirEu li o livro e no meio dele descobri que tinha o filme. Baixei e deixei guardadinho pra assistir assim que terminasse, mas NÃO CONSEGUI porque fiquei emocionalmente exausta quando terminei o livro e não arrisquei assistir o filme e morrer de tanto chorar... hahahaha
Assisti uns dois dias depois com a minha mãe e nós duas quase morremos de tanto chorar. Claro.
Ainda não vi o filmeeeeee. ='( Mas quero MUITO (tem a Queen Latifah!!! - tenho quase certeza de que assim que se escreve o nome dela), só que no momento, só se eu recorresse à pirataria, rsrs </3
ExcluirMas o livrinho = <3
Nunca havia ouvido falar desse livro, mas já estou apaixonadíssima! ♥ Que coisa mais linda, guria.
ResponderExcluirEnquanto lia a resenha, estabeleci um paralelo com o filme "Histórias Cruzadas", que possui um enredo (aparentemente) com a mesma pegada. Você já assistiu? É maravilhoso!
Anotei o nome do livro aqui e, assim que o universo colaborar para que eu descanse um pouco (peloamor), irei ler! ♥
Beijos,
Attraversiamo.
Ele é a coisa mais lindinha mesmo, de verdade. Aquelas leiturinhas que quando você lembra te fazem pensar ''owwwn'', sabe? haha
ExcluirEu vi um pedaço de Histórias Cruzadas porque cheguei tarde e o filme já estava rodando há um tempo, mas fiquei interessada de cara, amo histórias que giram em torno de mulheres.
Quem sabe eu assisto em sequência, já que nem o filme d''A Vida das Abelhas'' eu vi ainda. ;)
=*
Gostei do tema do livro, mas acho que eu ficaria bem na bad de ler. Essas histórias me deixam muito puta e muito triste ao mesmo tempo :(
ResponderExcluirMas a parte boa é que conta a história de mulheres foda!
Eu ia lendo meio receosa por causa disso também, e, bom, realmente acontecem umas coisas de partir o coração da gente (sem falar nas cenas em que algum personagem sofre racismo, que me deixaram LOUCA de ÓDIO), mas de algum jeito as coisas ficam bem equilibradas e você (eu, pelo menos) acaba saindo da leitura com o coração quentinho.
ExcluirMas realmente não posso te garantir esse conforto absoluto, sabe? Hahaha