Hoje eu -e o Brasil inteiro- acordei com uma notícia triste pairando no ar. Num daqueles momentos que antecedem a hora de levantar da cama, em que você abre os olhos e, meio adormecido, meio acordado, ouve os burburinhos do que se está a falar por aqueles que já estão de pé encarando o novo dia, eu ouvi:
''-Tu viu? Resgataram um sobrevivente...'' -minha mãe dizendo ao meu pai. Pensei ''como assim?'', cogitei gritar da cama e perguntar ''do que tu está falando, mãe?'', mas o sono ainda estava tomando conta da maior parte do meu corpo e fiquei em silêncio, rolei pro lado e adormeci mais um pouquinho.
Quando acordei de fato e levantei da cama depois, já tinha esquecido, a lembrança daquela frase tinha se perdido em meio ao sono. Até que meu irmão veio da sala (onde fica a televisão e, consequentemente, os noticiários) dizendo ''que loucura, né? Tu viu o que aconteceu?'' Então eu soube que o avião de um time de futebol de SC que transportava oitenta e poucas pessoas, entre jogadores, técnicos, pessoas da imprensa, nutricionistas etc, despencou matando 76 delas.
Meu Deus, mais uma tragédia, pensei.
Entrei no facebook pra ver o que as pessoas estavam informando e repassando a respeito. Minha timeline estava tomada por publicações sobre o ocorrido. Fotos, artigos, notícias, números, vídeos, homenagens, despedidas e lamentos.
Não sou muito de acompanhar futebol, quase nunca sei das posições nas tabelas, nomes de jogadores, títulos. Nunca havia visto um único jogo do time em questão (Chapecoense), não torcia pelos jogadores especificamente, não torcia pelo clube, não torcia por aquele futebol.
Mas torço pelo ser humano e sempre torci. Amo torcer por nós, pessoas. Pelas coisas bonitas que fazemos, pelos objetivos que temos e pelas vitórias que conquistamos.
Então ver aquilo foi bem triste. Ver uma tragédia que calou uma torcida -não só do time, mas dos que torcem pelas pessoas, como eu- deixando um silêncio de luto. E respeito.
Chapecó estava indo disputar uma final. O clima era de comemoração, alegria, empolgação e esperança. Vi diversos vídeos mostrando a festa no vestiário quando o time viu que tinha conseguido chegar à final. Técnicos pulando, jogadores gritando, gente filmando tudo pra deixar gravado aquele momento de felicidade. Ninguém imaginava que depois ele seria usado pra lembrar que tristezas e tragédias acontecem e o fim chega pra todos, em qualquer momento. Vi um outro vídeo, dos jogadores já acomodados no avião, minutos antes de decolar, dizendo que estavam indo prontos para aquele momento, que o jogo já ia começar, que logo chegariam a seu destino, assim que o avião decolasse. Mas ele não aterrissou da maneira que todos esperavam. É triste, eu sei. E aí vi mais um vídeo, vários jogadores armando uma surpresa para outro membro do time, chegaram nele, entregaram um pacote que ele, desconfiado, não quis abrir. Mas eles insistiram e ele foi, futricou naqueles bilhetes e descobriu que ia ser pai. A festa foi instantânea e geral, pulou, comemorou, abraçou os amigos e fez o gesto de quem embala um bebê nos braços. Um bebê que agora ele não vai ter a chance de ver crescer. E foi tocante ver e saber disso. Repito: é triste, eu sei.
Não culpo a vida ou Deus por esse tipo de tragédia, tragédias das quais ninguém tem culpa. Essas coisas acontecem, a vida é assim. Todo mundo que chega, também parte. Todos que nascem, morrem.
Todos nós vamos morrer. É preciso aceitar isso, saber viver mesmo com essa consciência constante.
Vamos morrer, mas acho que o que nos faz humanos E vivos não é o fato de que um dia isso vai acabar, de que vamos partir -afinal de contas, só acaba o que já começou, só morre o que já viveu. O que nos faz vivos é
a capacidade de compreender isso e guardar na memória com carinho e respeito aqueles que já estiveram por aqui, andando ao nosso lado. É o sentir (também as coisas tristes). É recomeçar, reerguer-se depois das quedas e perdas e carregar consigo os sentimentos e lembranças que nem a morte leva. É saber que a vida é linda, sim, apesar de tudo de ruim que acontece nela -porque, justamente, algumas coisas ruins também fazem parte dela. Faz parte, é assim e as coisas tristes não precisam ser sempre feias, não. Em cima de cada corpo enterrado ficam as lembranças boas que eles deixaram pra quem fica e isso é lindo. É triste, mas também é lindo.
É viver, é a vida.
É preciso lembrar que antes de cada ponto final houveram vírgulas, exclamações, interrogações e palavras que valeram muito a pena.
''-Tu viu? Resgataram um sobrevivente...'' -minha mãe dizendo ao meu pai. Pensei ''como assim?'', cogitei gritar da cama e perguntar ''do que tu está falando, mãe?'', mas o sono ainda estava tomando conta da maior parte do meu corpo e fiquei em silêncio, rolei pro lado e adormeci mais um pouquinho.
Quando acordei de fato e levantei da cama depois, já tinha esquecido, a lembrança daquela frase tinha se perdido em meio ao sono. Até que meu irmão veio da sala (onde fica a televisão e, consequentemente, os noticiários) dizendo ''que loucura, né? Tu viu o que aconteceu?'' Então eu soube que o avião de um time de futebol de SC que transportava oitenta e poucas pessoas, entre jogadores, técnicos, pessoas da imprensa, nutricionistas etc, despencou matando 76 delas.
Meu Deus, mais uma tragédia, pensei.
Entrei no facebook pra ver o que as pessoas estavam informando e repassando a respeito. Minha timeline estava tomada por publicações sobre o ocorrido. Fotos, artigos, notícias, números, vídeos, homenagens, despedidas e lamentos.
Não sou muito de acompanhar futebol, quase nunca sei das posições nas tabelas, nomes de jogadores, títulos. Nunca havia visto um único jogo do time em questão (Chapecoense), não torcia pelos jogadores especificamente, não torcia pelo clube, não torcia por aquele futebol.
Mas torço pelo ser humano e sempre torci. Amo torcer por nós, pessoas. Pelas coisas bonitas que fazemos, pelos objetivos que temos e pelas vitórias que conquistamos.
Então ver aquilo foi bem triste. Ver uma tragédia que calou uma torcida -não só do time, mas dos que torcem pelas pessoas, como eu- deixando um silêncio de luto. E respeito.
Chapecó estava indo disputar uma final. O clima era de comemoração, alegria, empolgação e esperança. Vi diversos vídeos mostrando a festa no vestiário quando o time viu que tinha conseguido chegar à final. Técnicos pulando, jogadores gritando, gente filmando tudo pra deixar gravado aquele momento de felicidade. Ninguém imaginava que depois ele seria usado pra lembrar que tristezas e tragédias acontecem e o fim chega pra todos, em qualquer momento. Vi um outro vídeo, dos jogadores já acomodados no avião, minutos antes de decolar, dizendo que estavam indo prontos para aquele momento, que o jogo já ia começar, que logo chegariam a seu destino, assim que o avião decolasse. Mas ele não aterrissou da maneira que todos esperavam. É triste, eu sei. E aí vi mais um vídeo, vários jogadores armando uma surpresa para outro membro do time, chegaram nele, entregaram um pacote que ele, desconfiado, não quis abrir. Mas eles insistiram e ele foi, futricou naqueles bilhetes e descobriu que ia ser pai. A festa foi instantânea e geral, pulou, comemorou, abraçou os amigos e fez o gesto de quem embala um bebê nos braços. Um bebê que agora ele não vai ter a chance de ver crescer. E foi tocante ver e saber disso. Repito: é triste, eu sei.
Não culpo a vida ou Deus por esse tipo de tragédia, tragédias das quais ninguém tem culpa. Essas coisas acontecem, a vida é assim. Todo mundo que chega, também parte. Todos que nascem, morrem.
Todos nós vamos morrer. É preciso aceitar isso, saber viver mesmo com essa consciência constante.Vamos morrer, mas acho que o que nos faz humanos E vivos não é o fato de que um dia isso vai acabar, de que vamos partir -afinal de contas, só acaba o que já começou, só morre o que já viveu. O que nos faz vivos é
a capacidade de compreender isso e guardar na memória com carinho e respeito aqueles que já estiveram por aqui, andando ao nosso lado. É o sentir (também as coisas tristes). É recomeçar, reerguer-se depois das quedas e perdas e carregar consigo os sentimentos e lembranças que nem a morte leva. É saber que a vida é linda, sim, apesar de tudo de ruim que acontece nela -porque, justamente, algumas coisas ruins também fazem parte dela. Faz parte, é assim e as coisas tristes não precisam ser sempre feias, não. Em cima de cada corpo enterrado ficam as lembranças boas que eles deixaram pra quem fica e isso é lindo. É triste, mas também é lindo.
É viver, é a vida.
É preciso lembrar que antes de cada ponto final houveram vírgulas, exclamações, interrogações e palavras que valeram muito a pena.
(Nem sei bem por que escrevi esse texto, mas eu só queria falar, sabe?)
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