Fiz o Enem ontem e anteontem.
Eu estava preparada? Não. Definitivamente não. Do mesmo modo como não me sinto preparada para nada ultimamente, incapaz de tudo. Não me sinto confiante em tentar vencer minhas limitações, em encarar a perspectiva de conseguir entrar na faculdade ao ser aprovada num processo seletivo, em conduzir minha vida com autonomia e segurança daqui pra frente. Não me sinto pronta.
É difícil chegar nesse momento da sua vida em que você simplesmente cai, sem prévia antecipação, num redemoinho de responsabilidades, deveres e decisões a tomar, como creio que acontece com quase todos os jovens na minha fase atual, saída do ensino médio. Embora eu soubesse que o momento de correr pra faculdade e mercado de trabalho (já tinha trabalhado antes, mas em circunstâncias diferentes) fosse chegar, aqui estou numa estupefação apática, num desânimo que se mescla ao desespero de não saber o que (e como) fazer com minha própria vida.
O Enem acabou se tornando uma grande analogia com minha condição de existência atual -e chamo isso de existência porque há muito reconheço que não é ''viver''. Estou simples e secamente ''existindo'', apenas. Meu ano foi um borrão, um buraco negro em minha história, uma folha em branco. Um vazio. Não fiz nada que me levasse adiante, só me resignei a uma triste estagnação que vem me cercando desde que tive a última crise depressiva, sobre a qual já discorri tanto aqui. Não tive propósitos, não segui os propósitos que supostamente deveria ter. Não busquei meus objetivos, embora os conheça, de longe. Não estudei para o que deveria estudar, porque o sentimento que me tomou e toma é de falta de significado, em minha vida/futuro como um todo e em mim mesma, especialmente. Sei que esse texto está ficando subjetivo e metafórico demais, sei que seu nexo é questionável, mas esse é o meu texto de agora. Essas são as linhas que preciso escrever agora.
Minha vontade submerge no buraco da falta de razão de ser. Tudo o que devo fazer, tudo o que seria saudável e natural (estudar pra entrar na faculdade, arranjar um emprego, construir minha vida) não parece ter mais sentido pra mim, não tem razão, o que é um absurdo!, pois eu sei de seu valor. Mas simplesmente não consigo fazê-lo se impregnar em mim, entende? Sinto como se andasse ~ao lado~ de uma estrada, apenas na calçada, andando ao lado de todas as ambições que devo ter e estão na estrada em si. Somente a estrada leva a algum lugar, a calçada não. A calçada desemboca no vazio e sei disso. Mas continuo nela, apenas observando o caminho da estrada, apenas vendo meus objetivos e sonhos caminharem nela, mas sem mim. Até não nos reconhecermos mais.
Estou num vazio existencial -expressão tão banal mas que condiz comigo agora. Vejo meus colegas, meus amigos e conhecidos olhando pras possibilidades de seu futuro com alegria, empolgação e energia, e não consigo sentir isso. Fico me perguntando qual é meu problema, o que há de errado comigo, Carolina? Mas não sei.
Meus fracassos pesam sobre mim com toneladas a mais que qualquer conquista, eles me ferem e me atacam, e eu me deixo ferir e atacar porque não sei quais são minhas defesas, não sei onde elas estão. Vi, há alguns anos, que todo esse ódio de mim mesma que eu deixo me acometer é resultado de toda a recriminação pessoal com a qual passei a me enxergar depois de lidar com os comentários, os olhares, as risadas, os dedos apontados, as piadinhas e todo o bullying (detesto falar isso, mas não encontro outra palavra agora) pelo qual passei. Aprendi a me detestar, aprendi a ver o quanto sou tosca e medíocre, aprendi a me culpar por cada tropeço, e não toco a responsabilidade disso sobre ninguém. Minha baixa autoestima não é uma consequência de terceiros, é resultado de minha falta de estrutura emocional pra saber lidar com as pedras que foram jogadas contra mim e que são jogadas contra todos nós diariamente.
Essa péssima autoestima me faz perder as esperanças em mim mesma, me faz culpada e detonada a cada fracasso, me faz sentir vergonha, me derruba ante a cada nova tentativa e falha. Me faz viver com uma vontade constante de desistir.
No meu primeiro Enem esqueci de transcrever a frase do caderno do primeiro dia. Me odiei. Chorei, tive vontade de correr não sabia pra onde. Nesse Enem fiz ciências da natureza sem vontade alguma, e no segundo dia despendi tanto tempo em redação e linguagens que faltava menos de uma hora de prova quando comecei a fazer a tão temida matemática -especialmente temida por mim. Foi ridículo. Fui ridícula. Toquei tudo no cartão de respostas sem ordenação alguma e saí. Quando falei ao meu irmão sobre minha excedência no horário, ele também achou ridículo. À noite, ele e meus pais comentavam sobre minha falta sem saber que eu ouvia, mas ouvi. E chorei.
Não chorei pelo que eles disseram, chorei porque aquile só foi o motivo a mais que faltava para que o copo transbordasse, foi a última gota. Então transbordei. Meu copo já estava cheio de auto recriminação, decepção pessoal, ódio por minha imbecilidade, desgosto, culpa, vergonha.
Esse é o copo que venho carregando e do qual venho bebendo. Esse é o copo que afoga minhas vontades, minhas expectativas e meus sonhos.
Não sei como esvaziar esse copo, não sei mais o que é beber de outra fonte.
Eu estava preparada? Não. Definitivamente não. Do mesmo modo como não me sinto preparada para nada ultimamente, incapaz de tudo. Não me sinto confiante em tentar vencer minhas limitações, em encarar a perspectiva de conseguir entrar na faculdade ao ser aprovada num processo seletivo, em conduzir minha vida com autonomia e segurança daqui pra frente. Não me sinto pronta.
É difícil chegar nesse momento da sua vida em que você simplesmente cai, sem prévia antecipação, num redemoinho de responsabilidades, deveres e decisões a tomar, como creio que acontece com quase todos os jovens na minha fase atual, saída do ensino médio. Embora eu soubesse que o momento de correr pra faculdade e mercado de trabalho (já tinha trabalhado antes, mas em circunstâncias diferentes) fosse chegar, aqui estou numa estupefação apática, num desânimo que se mescla ao desespero de não saber o que (e como) fazer com minha própria vida.
O Enem acabou se tornando uma grande analogia com minha condição de existência atual -e chamo isso de existência porque há muito reconheço que não é ''viver''. Estou simples e secamente ''existindo'', apenas. Meu ano foi um borrão, um buraco negro em minha história, uma folha em branco. Um vazio. Não fiz nada que me levasse adiante, só me resignei a uma triste estagnação que vem me cercando desde que tive a última crise depressiva, sobre a qual já discorri tanto aqui. Não tive propósitos, não segui os propósitos que supostamente deveria ter. Não busquei meus objetivos, embora os conheça, de longe. Não estudei para o que deveria estudar, porque o sentimento que me tomou e toma é de falta de significado, em minha vida/futuro como um todo e em mim mesma, especialmente. Sei que esse texto está ficando subjetivo e metafórico demais, sei que seu nexo é questionável, mas esse é o meu texto de agora. Essas são as linhas que preciso escrever agora.
Minha vontade submerge no buraco da falta de razão de ser. Tudo o que devo fazer, tudo o que seria saudável e natural (estudar pra entrar na faculdade, arranjar um emprego, construir minha vida) não parece ter mais sentido pra mim, não tem razão, o que é um absurdo!, pois eu sei de seu valor. Mas simplesmente não consigo fazê-lo se impregnar em mim, entende? Sinto como se andasse ~ao lado~ de uma estrada, apenas na calçada, andando ao lado de todas as ambições que devo ter e estão na estrada em si. Somente a estrada leva a algum lugar, a calçada não. A calçada desemboca no vazio e sei disso. Mas continuo nela, apenas observando o caminho da estrada, apenas vendo meus objetivos e sonhos caminharem nela, mas sem mim. Até não nos reconhecermos mais.Estou num vazio existencial -expressão tão banal mas que condiz comigo agora. Vejo meus colegas, meus amigos e conhecidos olhando pras possibilidades de seu futuro com alegria, empolgação e energia, e não consigo sentir isso. Fico me perguntando qual é meu problema, o que há de errado comigo, Carolina? Mas não sei.
Meus fracassos pesam sobre mim com toneladas a mais que qualquer conquista, eles me ferem e me atacam, e eu me deixo ferir e atacar porque não sei quais são minhas defesas, não sei onde elas estão. Vi, há alguns anos, que todo esse ódio de mim mesma que eu deixo me acometer é resultado de toda a recriminação pessoal com a qual passei a me enxergar depois de lidar com os comentários, os olhares, as risadas, os dedos apontados, as piadinhas e todo o bullying (detesto falar isso, mas não encontro outra palavra agora) pelo qual passei. Aprendi a me detestar, aprendi a ver o quanto sou tosca e medíocre, aprendi a me culpar por cada tropeço, e não toco a responsabilidade disso sobre ninguém. Minha baixa autoestima não é uma consequência de terceiros, é resultado de minha falta de estrutura emocional pra saber lidar com as pedras que foram jogadas contra mim e que são jogadas contra todos nós diariamente.
Essa péssima autoestima me faz perder as esperanças em mim mesma, me faz culpada e detonada a cada fracasso, me faz sentir vergonha, me derruba ante a cada nova tentativa e falha. Me faz viver com uma vontade constante de desistir.
No meu primeiro Enem esqueci de transcrever a frase do caderno do primeiro dia. Me odiei. Chorei, tive vontade de correr não sabia pra onde. Nesse Enem fiz ciências da natureza sem vontade alguma, e no segundo dia despendi tanto tempo em redação e linguagens que faltava menos de uma hora de prova quando comecei a fazer a tão temida matemática -especialmente temida por mim. Foi ridículo. Fui ridícula. Toquei tudo no cartão de respostas sem ordenação alguma e saí. Quando falei ao meu irmão sobre minha excedência no horário, ele também achou ridículo. À noite, ele e meus pais comentavam sobre minha falta sem saber que eu ouvia, mas ouvi. E chorei.
Não chorei pelo que eles disseram, chorei porque aquile só foi o motivo a mais que faltava para que o copo transbordasse, foi a última gota. Então transbordei. Meu copo já estava cheio de auto recriminação, decepção pessoal, ódio por minha imbecilidade, desgosto, culpa, vergonha.
Esse é o copo que venho carregando e do qual venho bebendo. Esse é o copo que afoga minhas vontades, minhas expectativas e meus sonhos.
Não sei como esvaziar esse copo, não sei mais o que é beber de outra fonte.
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