07/11/2016

Vazio Transbordante

Fiz o Enem ontem e anteontem.
Eu estava preparada? Não. Definitivamente não. Do mesmo modo como não me sinto preparada para nada ultimamente, incapaz de tudo. Não me sinto confiante em tentar vencer minhas limitações, em encarar a perspectiva de conseguir entrar na faculdade ao ser aprovada num processo seletivo, em conduzir minha vida com autonomia e segurança daqui pra frente. Não me sinto pronta.
É difícil chegar nesse momento da sua vida em que você simplesmente cai, sem prévia antecipação, num redemoinho de responsabilidades, deveres e decisões a tomar, como creio que acontece com quase todos os jovens na minha fase atual, saída do ensino médio. Embora eu soubesse que o momento de correr pra faculdade e mercado de trabalho (já tinha trabalhado antes, mas em circunstâncias diferentes) fosse chegar, aqui estou numa estupefação apática, num desânimo que se mescla ao desespero de não saber o que (e como) fazer com minha própria vida.
O Enem acabou se tornando uma grande analogia com minha condição de existência atual -e chamo isso de existência porque há muito reconheço que não é ''viver''. Estou simples e secamente ''existindo'', apenas. Meu ano foi um borrão, um buraco negro em minha história, uma folha em branco. Um vazio. Não fiz nada que me levasse adiante, só me resignei a uma triste estagnação que vem me cercando desde que tive a última crise depressiva, sobre a qual já discorri tanto aqui. Não tive propósitos, não segui os propósitos que supostamente deveria ter. Não busquei meus objetivos, embora os conheça, de longe. Não estudei para o que deveria estudar, porque o sentimento que me tomou e toma é de falta de significado, em minha vida/futuro como um todo e em mim mesma, especialmente. Sei que esse texto está ficando subjetivo e metafórico demais, sei que seu nexo é questionável, mas esse é o meu texto de agora. Essas são as linhas que preciso escrever agora.
Minha vontade submerge no buraco da falta de razão de ser. Tudo o que devo fazer, tudo o que seria saudável e natural (estudar pra entrar na faculdade, arranjar um emprego, construir minha vida) não parece ter mais sentido pra mim, não tem razão, o que é um absurdo!, pois eu sei de seu valor. Mas simplesmente não consigo fazê-lo se impregnar em mim, entende? Sinto como se andasse ~ao lado~ de uma estrada, apenas na calçada, andando ao lado de todas as ambições que devo ter e estão na estrada em si. Somente a estrada leva a algum lugar, a calçada não. A calçada desemboca no vazio e sei disso. Mas continuo nela, apenas observando o caminho da estrada, apenas vendo meus objetivos e sonhos caminharem nela, mas sem mim. Até não nos reconhecermos mais.
Estou num vazio existencial -expressão tão banal mas que condiz comigo agora. Vejo meus colegas, meus amigos e conhecidos olhando pras possibilidades de seu futuro com alegria, empolgação e energia, e não consigo sentir isso. Fico me perguntando qual é meu problema, o que há de errado comigo, Carolina? Mas não sei.
Meus fracassos pesam sobre mim com toneladas a mais que qualquer conquista, eles me ferem e me atacam, e eu me deixo ferir e atacar porque não sei quais são minhas defesas, não sei onde elas estão. Vi, há alguns anos, que todo esse ódio de mim mesma que eu deixo me acometer é resultado de toda a recriminação pessoal com a qual passei a me enxergar depois de lidar com os comentários, os olhares, as risadas, os dedos apontados, as piadinhas e todo o bullying (detesto falar isso, mas não encontro outra palavra agora) pelo qual passei. Aprendi a me detestar, aprendi a ver o quanto sou tosca e medíocre, aprendi a me culpar por cada tropeço, e não toco a responsabilidade disso sobre ninguém. Minha baixa autoestima não é uma consequência de terceiros, é resultado de minha falta de estrutura emocional pra saber lidar com as pedras que foram jogadas contra mim e que são jogadas contra todos nós diariamente.
Essa péssima autoestima me faz perder as esperanças em mim mesma, me faz culpada e detonada a cada fracasso, me faz sentir vergonha, me derruba ante a cada nova tentativa e falha. Me faz viver com uma vontade constante de desistir.
No meu primeiro Enem esqueci de transcrever a frase do caderno do primeiro dia. Me odiei. Chorei, tive vontade de correr não sabia pra onde. Nesse Enem fiz ciências da natureza sem vontade alguma, e no segundo dia despendi tanto tempo em redação e linguagens que faltava menos de uma hora de prova quando comecei a fazer a tão temida matemática -especialmente temida por mim. Foi ridículo. Fui ridícula. Toquei tudo no cartão de respostas sem ordenação alguma e saí. Quando falei ao meu irmão sobre minha excedência no horário, ele também achou ridículo. À noite, ele e meus pais comentavam sobre minha falta sem saber que eu ouvia, mas ouvi. E chorei.
Não chorei pelo que eles disseram, chorei porque aquile só foi o motivo a mais que faltava para que o copo transbordasse, foi a última gota. Então transbordei. Meu copo já estava cheio de auto recriminação, decepção pessoal, ódio por minha imbecilidade, desgosto, culpa, vergonha.
Esse é o copo que venho carregando e do qual venho bebendo. Esse é o copo que afoga minhas vontades, minhas expectativas e meus sonhos.
Não sei como esvaziar esse copo, não sei mais o que é beber de outra fonte.

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