Certo dia estava eu a assistir vlogs livristicos, e em um vídeo específico um rapaz falava sobre 10 livros que lhe marcaram muito. Alguns títulos eu já havia lido, pois era uma coletânea bem variada. Entre eles o primeiro livro da saga A Torre Negra, de Stephen King, que li com 16 anos, e um livro do Zafón, que é um de meus escritores favoritos, juntamente com o King. Ia o moço falando sobre os livros quando ele pega o exemplar que vos encara abaixo em mãos e diz algo como:
-Ahh, o que dizer sobre esse livro? Como descrevê-lo? Quem já leu sabe o tormento que estou passando ao me deparar com tais questões...
Preciso lê-lo. Pensei na hora.
Porque este é o sentimento mais pungente que tenho ao final de uma leitura memorável: como descrever essa obra? Entendi com experiência o que o rapaz falava, pois me vi recordando as diversas vezes em que eu acabara um livro incrível e ficara estupefata, sem palavras encarando a última página com um vago sentimento de ''GEN-TE, o que foi isso que acabei de ler?!?!''.
Desde então este livro estava entre os tantos outros de minha lista de leituras pretendidas, apenas aguardando o momento em que eu me deparasse com ele em uma estante aleatória e sentisse que havia chegado a hora da leitura. E foi o que se sucedeu na biblioteca do colégio dia desses, quando dei de cara com ele.
O incrível 1984, de George Orwell, nos situa em uma realidade diferente da que se encontra a sociedade atual, mas que carrega suas notáveis similaridades, e são elas que dão sentido à obra. A história de passa num continente chamado Oceânia, resultado da anexação de diversos países após uma fatídica revolução mundial em que foi instaurado o que conhecemos no livro como ''uma deturpação do socialismo'' (ou o que se prega como tal, na conjuntura do que foi implementado como sendo esse modelo de comando na história). A Oceânia permanece em constante guerra contra dois outros continentes rivais, a Lestásia e Eurásia, intercalando rivalidade e aliança entre as duas potências. O novo estado que se instaurou é de métodos extremamente radicais e ditatoriais, e as ações -e isso inclui pensamentos, vontades e resquícios de sentimentos que sejam possíveis nutrir em meio a tanta rigidez imposta- dos cidadãos são rigorosamente policiadas pela Polícia das Ideias, que garante a dominação sobre todos perante O Partido, sem que seja possível notar tal forma de controle, uma vez que nenhuma forma de pensamento individual consegue mais ser concebida.
Dividindo a população em três esferas, os membros do Núcleo do Partido -os que realmente estão no encargo da forma ditatorial com que conduzem a sociedade e detém o conhecimento acerca do próprio método de comando-, os membros do Partido Exterior -uma subseção do Partido que trabalha às ordens do Núcleo, em sua maioria sem ter um conhecimento tangível da situação opressiva em que se encontram as coisas- e os proletas -classe social pobre obrigada a engolir goela abaixo o que o Partido lhe determina-, vemos ambos as duas últimas classes sendo vítimas do sistema opressor, embora um grupo subjugue outro.
Temos como personagem protagonista Winston Smith, um membro do Partido Exterior, não do Núcleo, instituição que rege com totalitarismo tudo e todos e que tem como símbolo principal O Grande Irmão, figura pintada como responsável por todas as maravilhas, privilégios (que inexistem) e ordem que vigoram no sistema político em que são inseridos os cidadãos. Winston, no entanto, não é um membro que ocupa seu cargo com muita notoriedade, uma vez que seu trabalho consiste numa tarefa que convenientemente não deve ser de conhecimento público: ele exclui, reescreve, edita e altera toda e qualquer informação divulgada em veículos de mídia que, de alguma forma, possa ir contra alguma das verdades que o Partido apregoa. Nessa função, Winston tem o dever de alterar ''mentindo em nome do Partido'' dados lançados anteriormente pela própria instituição, uma vez que ela é detentora de todo o controle sobre o que é propelido pela da mídia. Coisas pequenas, como detalhes acerca do número de sapatos que foram produzido para se distribuir à população, meta que foi estabelecida mas não atingida, portanto a informação originalmente divulgada precisa ser alterada, uma vez que o ocorrido demonstra a infalibilidade e erro do sistema através do qual o tão aclamado Partido gere suas ações.
-Ahh, o que dizer sobre esse livro? Como descrevê-lo? Quem já leu sabe o tormento que estou passando ao me deparar com tais questões...
Preciso lê-lo. Pensei na hora.
Porque este é o sentimento mais pungente que tenho ao final de uma leitura memorável: como descrever essa obra? Entendi com experiência o que o rapaz falava, pois me vi recordando as diversas vezes em que eu acabara um livro incrível e ficara estupefata, sem palavras encarando a última página com um vago sentimento de ''GEN-TE, o que foi isso que acabei de ler?!?!''.
Desde então este livro estava entre os tantos outros de minha lista de leituras pretendidas, apenas aguardando o momento em que eu me deparasse com ele em uma estante aleatória e sentisse que havia chegado a hora da leitura. E foi o que se sucedeu na biblioteca do colégio dia desses, quando dei de cara com ele.
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~Detalhe da grama em que eu estava sentada lendo ele quando tirei a foto.~ |
''A realidade existe apenas na mente do Partido. Tudo o que o partido reconhece como verdade é a verdade. É impossível ver a realidade se não for pleos olhos do Partido.''
Temos como personagem protagonista Winston Smith, um membro do Partido Exterior, não do Núcleo, instituição que rege com totalitarismo tudo e todos e que tem como símbolo principal O Grande Irmão, figura pintada como responsável por todas as maravilhas, privilégios (que inexistem) e ordem que vigoram no sistema político em que são inseridos os cidadãos. Winston, no entanto, não é um membro que ocupa seu cargo com muita notoriedade, uma vez que seu trabalho consiste numa tarefa que convenientemente não deve ser de conhecimento público: ele exclui, reescreve, edita e altera toda e qualquer informação divulgada em veículos de mídia que, de alguma forma, possa ir contra alguma das verdades que o Partido apregoa. Nessa função, Winston tem o dever de alterar ''mentindo em nome do Partido'' dados lançados anteriormente pela própria instituição, uma vez que ela é detentora de todo o controle sobre o que é propelido pela da mídia. Coisas pequenas, como detalhes acerca do número de sapatos que foram produzido para se distribuir à população, meta que foi estabelecida mas não atingida, portanto a informação originalmente divulgada precisa ser alterada, uma vez que o ocorrido demonstra a infalibilidade e erro do sistema através do qual o tão aclamado Partido gere suas ações.
O ofício de Winston nos revela explicitamente e com justiça os meios pelos quais o Partido age: tudo que representa, mesmo que minimamente, uma possível ameaça a sua credibilidade é exterminado completamente, de modo que o modo de governo siga inexpugnável e resista sem dificuldade alguma às consequências geradas por suas decisões errôneas, uma vez que o conhecimento geral acerca das mesmas é totalmente impossibilitado por setores tais quais aquele em que Winston faz parte, administrados rigorosamente pelo totalitarismo ditatorial em voga, que ocultava seus erros do povo.
O que impera em cada indivíduo é a rigidez a que foi submetida toda a população; não existem mais sentimentos próprios, expressões pessoais de contrariedade nem liberdade de pensamento, que é plenamente condenada pelo poder do Partido, uma vez que controlando instintos e comportamentos básicos que caracterizam um ser humano, sua natural propensão a questionar os meios pelos quais é controlado é suprimida.
Em meio a tantas pessoas subjugadas por esse mesmo sistema, Winston se vê como um solitário e possível lunático, o único em meio à massa ainda dotado de alguma capacidade de formular ideias e opiniões próprias, tais como contestar o que é imposto pelo Partido... até conhecer Julia, semelhante a ele em sua condição de mantenedora da individualidade humana. Juntos, os dois iniciam um relacionamento, nesta sociedade em que até mesmo o impulso sexual e a pura atração física e/ou mental entre duas pessoas é considerada abominável, sendo admitido o intercurso somente com o fim natural da reprodução.
Escondendo dos demais sua maneira de encarar a realidade em que viviam, os dois alimentam a esperança de que em algum momento, em algum lugar, seja possível a ocorrência de uma revelia contra o sistema. Mas como, se todos têm cada aspecto de suas vidas controlados e castrados de modo a permitir a manutenção do poder absoluto do Partido? A resposta estaria na mítica sociedade secreta, a Confraria, fundada por um famoso personagem, Goldstein, sobre o qual se ouvia muito no cotidiano normal de todo cidadão da Oceania, uma vez que não cansava de se pregar odiosamente contra a lendária sociedade, posto que ele ia contra o Partido e seus ideais e buscava, justamente, romper tal controle.
E é vivendo abaixo de tamanha tensão, expectativa, conflitos e medo que nos inserimos dentro do universo temeroso criado por Orwell.
Este livro nos faz pensar -e temer- até que ponto pode ir a ganância pelo poder absoluto, e do que ele é capaz quando alcançado, subjugando as massas. E juntamente com essa reflexão nos pomos a indagar a nós mesmos até que ponto conseguimos carregar nossa individualidade e essência humanas, sem se deixar corromper por toda uma sociedade e controle que vão contra nossas características pessoais mais básicas, julgando-nas erros, falhas a serem reparadas. Até que ponto somos nós mesmos? Quando chegamos ao limiar do que podemos ser livremente e do que é imposto a nós? Até onde somos controlados pelo sistema no qual somos inseridos -e todos somos inseridos em sistemas dos mais variados- e delimitados por ele, passando a corresponder a um protocolo que faz de nós criaturas robotizadas e sem autonomia alguma, em meio a uma miríade de outras pessoas condicionadas na mesma rotina que a nossa? Até onde conseguimos defender nossos valores pessoais, nossas verdades e convicções, se tudo e todos estiverem contra eles?
Um controle total tal como é descrito no livro não é tão difícil assim de se imaginar, principalmente se levarmos em conta os avanços tecnológicos na era da comunicação e difusão de informações as quais somos submetidos sem sessar por uma mídia inquieta. Vale lembrar que no livro, o poder do Partido era resultado mor de uma mídia sempre ativa e inquisitiva, que regia tudo o que chegava à população, dominando suas ideias.
Embora eu não seja nem um pouco inclinada a vir aqui com teorias da conspiração e, de fato, ache isso meio bobagem, o cenário total do livro nos faz pensar em coisas como a espionagem por parte de grandes governos que já é uma realidade, os diversos ataques de hackers, o totalitarismo que alguns líderes políticos vêm demonstrando etc.
Só nos resta torcer, zelar e lutar por nossa individualidade, e orarmos pela possibilidade de mantê-la.
Em meio a tantas pessoas subjugadas por esse mesmo sistema, Winston se vê como um solitário e possível lunático, o único em meio à massa ainda dotado de alguma capacidade de formular ideias e opiniões próprias, tais como contestar o que é imposto pelo Partido... até conhecer Julia, semelhante a ele em sua condição de mantenedora da individualidade humana. Juntos, os dois iniciam um relacionamento, nesta sociedade em que até mesmo o impulso sexual e a pura atração física e/ou mental entre duas pessoas é considerada abominável, sendo admitido o intercurso somente com o fim natural da reprodução.
''O que o Partido fizera de terrível fora convencer as pessoas de que meros impulsos, meros sentimentos, não servem para nada, destituindo-as, ao mesmo tempo, de todo e qualquer poder sobre o mundo material. A partir do momento em que você caísse nas garras do Partido, o que você sentia ou deixava de sentir, o que fazia ou deixava de fazer, não fazia nenhuma diferença.''
E é vivendo abaixo de tamanha tensão, expectativa, conflitos e medo que nos inserimos dentro do universo temeroso criado por Orwell.
Este livro nos faz pensar -e temer- até que ponto pode ir a ganância pelo poder absoluto, e do que ele é capaz quando alcançado, subjugando as massas. E juntamente com essa reflexão nos pomos a indagar a nós mesmos até que ponto conseguimos carregar nossa individualidade e essência humanas, sem se deixar corromper por toda uma sociedade e controle que vão contra nossas características pessoais mais básicas, julgando-nas erros, falhas a serem reparadas. Até que ponto somos nós mesmos? Quando chegamos ao limiar do que podemos ser livremente e do que é imposto a nós? Até onde somos controlados pelo sistema no qual somos inseridos -e todos somos inseridos em sistemas dos mais variados- e delimitados por ele, passando a corresponder a um protocolo que faz de nós criaturas robotizadas e sem autonomia alguma, em meio a uma miríade de outras pessoas condicionadas na mesma rotina que a nossa? Até onde conseguimos defender nossos valores pessoais, nossas verdades e convicções, se tudo e todos estiverem contra eles?
Um controle total tal como é descrito no livro não é tão difícil assim de se imaginar, principalmente se levarmos em conta os avanços tecnológicos na era da comunicação e difusão de informações as quais somos submetidos sem sessar por uma mídia inquieta. Vale lembrar que no livro, o poder do Partido era resultado mor de uma mídia sempre ativa e inquisitiva, que regia tudo o que chegava à população, dominando suas ideias.
Embora eu não seja nem um pouco inclinada a vir aqui com teorias da conspiração e, de fato, ache isso meio bobagem, o cenário total do livro nos faz pensar em coisas como a espionagem por parte de grandes governos que já é uma realidade, os diversos ataques de hackers, o totalitarismo que alguns líderes políticos vêm demonstrando etc.
Só nos resta torcer, zelar e lutar por nossa individualidade, e orarmos pela possibilidade de mantê-la.
''O fato de ser uma minoria, mesmo uma minoria de um, não significava que você fosse louco. Havia verdade e havia inverdade, e se você se agarrasse à verdade, mesmo que o mundo inteiro não o contradissesse, não estaria louco.''
-1984
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