10/12/2016

O Beijo Da Morte

De Ira Levin
Eu só percebi a falta que sentia de um bom livro de investigação, assassinato e mistério quando já estava totalmente envolvida nessa obra de Ira Levin (mesmo autor de O Bebê de Rosemary). Ultimamente eu tenho embarcado em vários clássicos, e embora esse livro esteja entre eles, é um dos poucos com esse tipo de enredo. A maioria deles -os clássicos da coleção Grandes Sucessos- é sentimental, reflexivo e trás alguma lição de vida, uma moral inspiradora que o leitor deve assimilar. Então foi um pouco surpreendente me deparar com essa trilha de homicídios intrincados na mesma coleção que lista Orgulho e Preconceito, entendem? Uma boa surpresa.
O Beijo Da Morte (no original -e fazendo MUITO mais sentido, pra variar- A Kiss Before Dying) nos apresenta a um jovem de beleza notável, inteligência também considerável que lhe garante sucesso nos estudos, simpatia, cordialidade e, principalmente, ambição. Ele garante que está destinado a um futuro brilhante e nada menos que isso o satisfará. No entanto, sendo pobre e já que essa carreira promissora na qual ele tem tanta fé não engrena mesmo depois de seus 20 anos, ele acaba apelando a um atalho: vira um caça dotes. Se envolve com uma moça, Dorothy, filha do diretor de uma grande empresa nacional de cobre, com a certeza de que, inteligentíssimo e brilhante como é, um futuro entre a comissão dessa mesma empresa não é menos do que ele merece, ao se casar com a moça. Mas Dorothy fica grávida e ele sabe que não cairá nas graças de seu pai com essa surpresa; e sustentar ela e um bebê, ainda por cima, obviamente o privaria da oportunidade de seguir seu destino certamente fenomenal.
Então Dorothy precisa morrer. Ele faz com que ela escreva um bilhete de suicídio e a engana, dizendo estarem indo se casar no civil... e a toca de um prédio. Problema aparentemente resolvido. Simples assim. E na corrida pelo sucesso do jovem, ela acaba não sendo a única pedra em seu caminho nem a única morte em seu currículo -pelo contrário, uma teia de assassinatos a procedem.
E é nos mistérios dessa teia que o leitor se envolve.
Por que eu não disse o nome do ambicioso assassino?, você pode se perguntar. Pois então, aí está a mágica do livro. Ele é dividido em três partes: Dorothy, Ellen e Marion, as três irmãs. Na primeira parte, as primeiras noventa páginas, aproximadamente, ocorre o assassinato (suposto homicício) de Dorothy, e em NENHUM momento sabemos o nome de seu assassino, embora vejamos toda a coisa acontecer de dentro da cabeça dele -todos os pensamentos, os planos, o crime sendo executado, tudo. Menos seu nome. E isso foi genial! O autor foi muito esperto em arquitetar as coisas assim, porque na segunda parte Ellen, desconfiada e tendo percebido, através de alguns indícios que só ela nota, que a moça achava estar indo ao próprio casamento, volta ao local (uma universidade) pra procurar esse tal conhecido que se envolveu com ela.
E aí é que começa a coisa louca: Ellen começa a se envolver com alguns caras do passado de Dorothy pra investigá-los e vemos tudo acontecer...sem saber, assim como Ellen, qual deles matou a moça, já que embora tenhamos lido a coisa toda, também não temos o nome do infeliz! É frustrante e eletrizante, você se sente impelido a investigar junto com Ellen porque, caramba, vi/li o cara matando, sei que ele matou e sei como mas não sei quem é porque não tenho o maldito nome! Ellen conhece um, conhece outro e mais outro cara e nós, leitores, ficamos pensando ''tá, será que é ele? Ele parece pensar parecido com o assassino, pode ser..'' E não há jeito de sabermos (por um bom tempo). O autor nos oferece um doce (uma vista de camarote do assassinato) e sai correndo com ele, nos deixando ali babando, querendo descobrir a coisa toda. Genial!
Na terceira parte é Marion, a outra irmã, que entra em cena, e não vou dizer qual é a dinâmica do livro então, vou deixar você descobrir: LEIA.
Ira Levin me pegou de jeito com essa história, vou te contar...Conseguiu me enganar direitinho, mas não vou dizer nada além disso porque: spoiler. Eu me envolvi completamente naquele jogo de gato e rato em que o assassino sempre parecia ser o gato e, olha, que carinha desgraçado! O que ele acaba fazendo com a família Kingship, a manipulação que ele emprega, todas as artimanhas maquiavélicas que a gente vê acontecendo sem poder fazer nada...é de agoniar o leitor! E prender o leitor naquela leitura alucinante que você não quer largar até descobrir tudo.
Os sentimentos de grandeza do assassino também são uma coisa bem louca e interessante de se observar, fazem pensar no tipo de estrago que o envolvimento com uma pessoa assim poderia causar na vida de qualquer um, coisa que acontece na realidade. Os noticiários são cheios desse tipo de personalidade: maníacos convencidos que não poupam esforço para conseguirem o que querem, a qualquer custo. A qualquer custo mesmo.
Ira Levin me cativou, hein. E sugiro pra qualquer um que esteja lendo essa resenha se permitir cativar também.
Sério: LEIA. ;)

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