13/02/2017

História de Pobres Amantes

De Vasco Pratolini
Tirei da estante pelo título (eu sei, eu sei que normalmente é burrada) porque gostei do que ele insinuava...uma história talvez triste e melancólica retratando relações a dois meio conturbadas. Gosto dessas coisas, me fazem pensar.
Mas não foi bem isso que encontrei, não. O que se desdobrou à minha frente foram páginas e mais páginas de uma narrativa densa e um pouco confusa, com pouquíssimos diálogos a se observar. E sem a dose de melancolia que eu estava esperando.
Somos levados a Via Del Corno, uma ruazinha a princípio pacata, mas que abriga diversos moradores peculiares com histórias engraçadas e interessantes a compartilhar. Tem a Senhora, uma velha rica e dona da rua que nutre um interessa nada convencional por jovenzinhas que ela faz questão de hospedar; tem os jovens e homens amigos metidos a fascistas ou ferrenhos opositores dessa frente política que recorrentemente se envolvem em conflitos  que acabam chafurdando toda a paz das redondezas; tem Os Anjinhos, grupo de adolescentes amigas e próximas que com sua beleza, inocência (temporária) e simplicidade encantam todos da rua por onde passam; há também os diversos trabalhadores pobres e donos de empreendimentos pequenos que lutam pra levar a vida... Enfim, variadas histórias se desenvolvendo num mesmo enredo.
Acho que o diferencial do livro é justamente essa gama de linhas simultâneas correndo numa mesma trama. São vários pontos de vista distintos, várias personalidades a explorar, várias histórias a conhecer, e isso obviamente não ocorre em livros que centralizam-se num protagonista único. No entanto, o que é glória pode ser também desgraça, e isso torna difícil o aprofundamento dos personagens. Nós os conhecemos de maneira superficial, embora ampla em alguns aspectos.
Porque pensem só, vinte a trinta (sério) personagens a se fazerem conhecer em menos de 400 páginas. Não dá pra divagar muito em cima de cada um, individualmente. Ainda assim até conseguimos nos aproximar mais de uns do que de outros e desenvolver uma certa simpatia ao longo do enredo. MAS, e agora vêm minhas lamentações, todo esse envolvimento é dificultado pela densidade da narrativa.
De maneira geral, sinto afirmar, não gostei do livro. Principalmente porque só consegui me envolver um pouquinho em suas últimas 50 páginas, aproximadamente. A narrativa é meio confusa, pula de um observador pra outro do nada e é muito complicado pro leitor que pegou o livro começar a se situar naquela doideira de múltiplos ângulos. Um dos motivos pelos quais me interessei pelo livro (esse prisma infinito de histórias correndo simultaneamente) foi também o que acabou me fazendo desgostar dele. Mas, porém, todavia, entretanto, não obstante, a coisa poderia ter sido desenvolvida de uma maneira mais leve, com mais diálogos quebrando o número aparentemente infindável de PURA narrativa em cima de narrativa. Isso tornou o livro pesado e cansativo.
Na resenha de fundo de capa também somos levados a acreditar que a questão do fascismo também é bastante abordada. De autor italiano, poderíamos ler esse relato (embora fictício) sobre como pessoas simples em ambientes pacatos foram atingidas pelo fascismo na Itália. Mas tudo acaba sendo abordado de maneira meio superficial também. =/
Então vou ter que acabar essa resenha com um não recomendo bem o livro. Pois é.
Apesar de, no finalzinho, eu me deixar encantar um pouco por abordagens filosóficas do autor, em trechos melancólicos que divagam sobre diferentes retratos de vida, isso não chegou a valer as quase 400 páginas de muito patinar sem sair do lugar em cima do livro.
Ele se demonstra uma leitura mais maçante do que prazerosa, apesar da diversidade dos personagens que eu gostaria de poder conhecer melhor, em outras circunstâncias e, quem sabe, em outras páginas.

Uma citação:
''Somente quem não tem passado pode demorar-se na ilusão da felicidade. Quem tem uma história atrás de si, deve continuamente queimar detritos, acumular cinzas em seu caminho.''

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