Esse texto contém vários spoilers de Gilmore Girls. E alguns de mim também.
(E provavelmente vai ser um textão enorme do tipo que você vai ter que fragmentar em parágrafos até chegar ao final. Fica o aviso.)
Gilmore Girls não mudou minha vida. Eu não me apaixonei à primeira vista, não fiquei viciada sem saber o que era viver sem aqueles 42 minutos (aproximadamente) de episódios diários ou releguei a ela o posto de minha comfort série número 1 (Todo Mundo Odeia o Chris), e, embora eu tenha me tocado numa montanha de textos e mais textos sobre, ao concluí-la (foi significativo pra mim ver o que as pessoas pensavam na hora de tentar organizar melhor e de maneira mais lúcida o que eu mesma penso, já que depois da maratona meu cérebro saiu virado numa papa, embora algumas impressões fossem detectáveis nitidamente), reparei que não compartilho do mesmíssimo entusiasmo que muitos fãs têm (e é bem engraçado ver como o pessoal leva a sério esse ofício) em desenvolver teorias e discutir e rediscutir vários aspectos da série over and over again (até porque acho que já fiz isso o suficiente aqui, nas mescelâneas durante o período em que vi a série), esmiuçando cada temporada vista, cada personagem em tela e cada diálogo sagaz do script (foram vários).
Não é uma série que eu veria e sobre a qual teria, por mim mesma, MUITA vontade de escrever (aquele impulso irrefreável que me acomete com meus favoritos), se não fosse a quantidade de questões que vejo outras pessoas levantando sobre ela - as quais eu contesto, muitas vezes. Eu me envolvo nesses textos, mas não consigo me livrar do sentimento de ser uma expectadora distante que observa o show de fora, mas não participa ativamente dele, sabe? Não tanto quanto muitas pessoas que vejo falando da série na internet. (Talvez isso se deva ao fato de que ela não foi uma produção que eu cresci vendo, como sei que ocorreu com grande parte dos fãs; só fui ouvir falar de GG nos meus 18 anos pra cima.)
Quer dizer, Gilmore Girls não virou A Série da Minha Vida, que é Todo Mundo Odeia o Chris (pois é, uma série sobre um guri afro-americano que mora numa comunidade afundada na marginalidade, fica perdido numa escola de brancos que fazem bullying com ele e com seu único amigo, igualmente nerd, é A Série da Minha Vida, olha que louco) - e não acho isso tão ruim, porque cada um é cada umamor é amor e um lance é um lance e GG já tem uma porrada de corações apaixonados pra sonhar com ela (uma possível retomada depois do revival, será?) todos os dias, além de já ser A Série da Vida de muita gente (gente cujos textos a respeito eu adorei ler, inclusive).
Veja bem, não estou dizendo que não gostei da série; sei que meu monólogo desconexo (vocês ainda não viram nada) pode estar soando assim. Preciso deixar claro que ela ficará guardada num cantinho especial e quentinho do meu coração, sim, porque é uma série muito amorzire - e eu só relego esse adjetivo a pouquíssimas coisas, só às verdadeiramente amorzires mesmo.
Eu gostei de Gilmore Girls; eu ri e sorri com Gilmore Girls; eu achei o Kirk hilário; eu tive muita vontade de abraçar o Luke porque, de um jeito estranho, acho ele um fofo; eu conseguia sentir o cheiro da comida da Sookie e sonhava em encontrar uma pousada tão aconchegantemente perfeita quanto a Dragonfly; eu me via carregando caixas e mais caixas de livros pra cima e pra baixo como a Rory; eu me permiti detestar vários dos namorados delas e acho que Lorelai Gilmore é um dos melhores personagens já inventados na cultura pop, em todos os tempos (SIM).
Gilmore Girls só não foi TUDO AQUILO pra mim, tal como é pra muita gente - e tal como eu esperava que ela fosse se tornar também para essa que vos fala. Não virou uma eterna referência para os meus dias (eu já falei de Todo Mundo Odeia o Chris?) e nem me deixou naquele estado de êxtase e completo encantamento, com um sentimento desesperado de qq eu vou fazer da minha depois de ter visto isso mds? - sensações que me acometeram ao término das minhas produções favoritas (aconteceu com Chris, com Breaking Bad, com House...) de todos os tempos. É a vida, essas coisas acontecem and no problem, the show must go on.
Uma frase que repeti bastante nas outras vezes em que falei sobre GG por aqui foi "meus sentimentos pela série são meio conflituosos", e essa sentença tão "chavão popular" resume muito bem as coisas, porque é a melhor maneira de dizer que eu gostei de Gilmore Girls mas, olha, às vezes (varias vezes) não gostei tanto assim não.
Esse texto está aqui pra que eu possa destrinchar essa incoerência.
Entre outras coisas, percebi com GG que desaprendi o que é desfrutar com tranquilidade de algo que se enquadre na categoria comfort (comfort série, no caso). Fazia tempo que eu não parava diante de uma sitcom ou de uma série despretensiosa simplesmente pra anuviar a cabeça e passar o tempo, e fazendo isso agora com GG, percebi que parece que se não houver alguma coisa bem pesada e dramática rolando (gente quase morrendo, conflitos com a sociedade do tráfico e a Narcóticos, uns zumbis aqui e ali, mortes, perdas, traumas, dramas terríveis etc; não que esses sejam temas superiores ou que GG seja tediosa, minha cabeça só aprendeu a reagir de maneiras diferentes a cada abordagem) arrematando as tramas do enredo, eu fico... Cansada. Exausta.
Maratonar GG foi extremamente exaustivo para mim. Quando eu disse no primeiro parágrafo desse texto que eu saía da maratona de episódios com o cérebro transformado numa papa disforme e cansada, que precisava de uns bons minutos olhando pro horizonte com cara de paisagem pra voltar ao ritmo normal, eu estava falando sério. Só que não era aquela exaustão de arrebatamento, consequência da maravilhosidade que recém se presenciou... era uma exaustão cansada mesmo.
Quer dizer, Gilmore Girls não virou A Série da Minha Vida, que é Todo Mundo Odeia o Chris (pois é, uma série sobre um guri afro-americano que mora numa comunidade afundada na marginalidade, fica perdido numa escola de brancos que fazem bullying com ele e com seu único amigo, igualmente nerd, é A Série da Minha Vida, olha que louco) - e não acho isso tão ruim, porque cada um é cada um
Veja bem, não estou dizendo que não gostei da série; sei que meu monólogo desconexo (vocês ainda não viram nada) pode estar soando assim. Preciso deixar claro que ela ficará guardada num cantinho especial e quentinho do meu coração, sim, porque é uma série muito amorzire - e eu só relego esse adjetivo a pouquíssimas coisas, só às verdadeiramente amorzires mesmo.
Eu gostei de Gilmore Girls; eu ri e sorri com Gilmore Girls; eu achei o Kirk hilário; eu tive muita vontade de abraçar o Luke porque, de um jeito estranho, acho ele um fofo; eu conseguia sentir o cheiro da comida da Sookie e sonhava em encontrar uma pousada tão aconchegantemente perfeita quanto a Dragonfly; eu me via carregando caixas e mais caixas de livros pra cima e pra baixo como a Rory; eu me permiti detestar vários dos namorados delas e acho que Lorelai Gilmore é um dos melhores personagens já inventados na cultura pop, em todos os tempos (SIM).
Gilmore Girls só não foi TUDO AQUILO pra mim, tal como é pra muita gente - e tal como eu esperava que ela fosse se tornar também para essa que vos fala. Não virou uma eterna referência para os meus dias (eu já falei de Todo Mundo Odeia o Chris?) e nem me deixou naquele estado de êxtase e completo encantamento, com um sentimento desesperado de qq eu vou fazer da minha depois de ter visto isso mds? - sensações que me acometeram ao término das minhas produções favoritas (aconteceu com Chris, com Breaking Bad, com House...) de todos os tempos. É a vida, essas coisas acontecem and no problem, the show must go on.
Uma frase que repeti bastante nas outras vezes em que falei sobre GG por aqui foi "meus sentimentos pela série são meio conflituosos", e essa sentença tão "chavão popular" resume muito bem as coisas, porque é a melhor maneira de dizer que eu gostei de Gilmore Girls mas, olha, às vezes (varias vezes) não gostei tanto assim não.
Esse texto está aqui pra que eu possa destrinchar essa incoerência.
Entre outras coisas, percebi com GG que desaprendi o que é desfrutar com tranquilidade de algo que se enquadre na categoria comfort (comfort série, no caso). Fazia tempo que eu não parava diante de uma sitcom ou de uma série despretensiosa simplesmente pra anuviar a cabeça e passar o tempo, e fazendo isso agora com GG, percebi que parece que se não houver alguma coisa bem pesada e dramática rolando (gente quase morrendo, conflitos com a sociedade do tráfico e a Narcóticos, uns zumbis aqui e ali, mortes, perdas, traumas, dramas terríveis etc; não que esses sejam temas superiores ou que GG seja tediosa, minha cabeça só aprendeu a reagir de maneiras diferentes a cada abordagem) arrematando as tramas do enredo, eu fico... Cansada. Exausta.
Maratonar GG foi extremamente exaustivo para mim. Quando eu disse no primeiro parágrafo desse texto que eu saía da maratona de episódios com o cérebro transformado numa papa disforme e cansada, que precisava de uns bons minutos olhando pro horizonte com cara de paisagem pra voltar ao ritmo normal, eu estava falando sério. Só que não era aquela exaustão de arrebatamento, consequência da maravilhosidade que recém se presenciou... era uma exaustão cansada mesmo.
Durante umas boas temporadas eu fiquei pensando se era só impressão minha, se aquilo não acontecia com todas as séries que eu via, se assistir a sete episódios diretos na verdade sempre me deixava MORTA, com qualquer série... Mas aí eu terminei GG e vi toda a última temporada de Bates Motel e mais umas três de GoT em menos de cinco dias, pedindo mais e sem nada daquela exaustão toda. Parece que meu cérebro foi condicionado a tramas mais... pesadas?, dramáticas?, e eu passei a estranhar o conceito de comfort série. What a sad thing. São questões.
Mas uma coisa a que esse tópico me remete é o estereótipo de ''coisa [série] de mulherzinha'', ao qual muitos reduzem produções como Gilmore Girls.
Não estou dizendo que ela não é uma série voltada majoritariamente ao público feminino, porque bom, eu acho que é sim. Não consigo imaginar meus irmãos Tiago e Mateus assistindo à série empolgadíssimos, por exemplo (embora eles tenham rido quando eu disse que o Luke falou que beber o drink rosa, doce e fofinho que os avós da Rory fizeram para o aniversário dela era como beber um My Little Pony). O problema é assumir que isso seja indicativo de superficialidade, besteirol, futilidade e falta de conteúdo.
Embora esteja lá pra corresponder à necessidade do puro e simples entretenimento, GG carrega muitos questionamentos sérios e reais no pacote, principalmente a respeito do papel da mulher na sociedade - conversa na qual os homens também precisam ser introduzidos pra deixarem de falar e pensar certas merdas.
Há vários momentos na série em que nos vemos subitamente envolvidos nas questões pessoais da tríade principal - Lorelai, Rory e Emily -, e meio sem perceber caímos num mar de reflexões em que as cenas, os diálogos e os personagens em tela nos inserem.
Eu percebi muito disso com o arco da Emily na série. Em diversos momentos do enredo ela se pega em conflito com o que é ser a mulher que ela é na sociedade em que ela está. Como quando o novo sócio do Richard (marido dela) organiza uma espécie de viagem (não lembro bem os detalhes, então pequenas informações podem estar meio trocadas aqui) pra comemorar o sucesso da empresa que eles fundaram juntos e Emily fica frustrada e decepcionada, porque sempre ficava a cargo dela organizar essas confraternizações que envolviam o trabalho de Richard, e ela sempre fez isso com maestria: porque ninguém cuidava da manutenção, da ordem e dos afazeres de uma casa como Emily Gilmore, que sabia onde cada talher e cada arranjo de flor deveria ficar; sabia qual era a ordem dos pratos e qual era a comida adequada para servir aos convidados em cada ocasião; sabia a quem convinha enviar o convite e tinha em mente o comentário certo a proferir em recepção a cada um dos diferentes visitantes.
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Essa imagem não se encaixa no texto de nenhuma forma, mas sempre há espaço para pizza. |
Não estou dizendo que ela não é uma série voltada majoritariamente ao público feminino, porque bom, eu acho que é sim. Não consigo imaginar meus irmãos Tiago e Mateus assistindo à série empolgadíssimos, por exemplo (embora eles tenham rido quando eu disse que o Luke falou que beber o drink rosa, doce e fofinho que os avós da Rory fizeram para o aniversário dela era como beber um My Little Pony). O problema é assumir que isso seja indicativo de superficialidade, besteirol, futilidade e falta de conteúdo.
Embora esteja lá pra corresponder à necessidade do puro e simples entretenimento, GG carrega muitos questionamentos sérios e reais no pacote, principalmente a respeito do papel da mulher na sociedade - conversa na qual os homens também precisam ser introduzidos pra deixarem de falar e pensar certas merdas.
Há vários momentos na série em que nos vemos subitamente envolvidos nas questões pessoais da tríade principal - Lorelai, Rory e Emily -, e meio sem perceber caímos num mar de reflexões em que as cenas, os diálogos e os personagens em tela nos inserem.
Eu percebi muito disso com o arco da Emily na série. Em diversos momentos do enredo ela se pega em conflito com o que é ser a mulher que ela é na sociedade em que ela está. Como quando o novo sócio do Richard (marido dela) organiza uma espécie de viagem (não lembro bem os detalhes, então pequenas informações podem estar meio trocadas aqui) pra comemorar o sucesso da empresa que eles fundaram juntos e Emily fica frustrada e decepcionada, porque sempre ficava a cargo dela organizar essas confraternizações que envolviam o trabalho de Richard, e ela sempre fez isso com maestria: porque ninguém cuidava da manutenção, da ordem e dos afazeres de uma casa como Emily Gilmore, que sabia onde cada talher e cada arranjo de flor deveria ficar; sabia qual era a ordem dos pratos e qual era a comida adequada para servir aos convidados em cada ocasião; sabia a quem convinha enviar o convite e tinha em mente o comentário certo a proferir em recepção a cada um dos diferentes visitantes.
Tendo crescido num meio que ditavam serem estes os deveres de uma mulher e esposa, Emily se apropriou do que lhe foi dito e aprendeu a exercer sua função como nenhuma outra conseguiria e pra ninguém botar defeito, sempre com total e ab.so.lu.ta perfeição e destreza. Quando alguém a privava da oportunidade de exercer a função a que ela acreditava ser incumbida e na qual ela havia se especializado, ela ficava frustrada (compreensivelmente), porque parte de sua razão de ser era descartada no processo, fazendo com que ela se debatesse com o pensamento de que não tinha utilidade e que tudo que ela podia oferecer havia se tornado obsoleto com o passar das gerações.
Não sou do time I <3 EMILY RAINHA porque achei completamente desprezíveis muitas atitudes dela durante a série, movidas pelo esnobismo (uma das coisas que eu mais odeio nesse mundo) e pela arrogância; mas, por causa de vários outros aspectos, parte de mim olha pra ela com a admiração que ela merece por tudo o que construiu - e gosto dela, sim.
Temos esse exemplo e muitos outros envolvendo as três protagonistas (desde os primeiros episódios, embora ela apareça menos, percebi que era essencial inserir a Emily nesse ciclo principal) durante a série.
GG não é uma série fútil, vazia, tosca e superficial. Não foi por nenhuma ''falta de conteúdo'' que ela me exauriu um pouco, porque isso ela tem de sobra e evidencia ao trazer questões muito válidas e reais para a tela. É ridículo, preconceituoso e sexista assumir que por ser voltada ao público feminino (embora, para alguns, isso ainda seja discutível) ela é uma produção frívola em que só vemos reclamações sobre penteados que deram errado ou experiências ruins no salão de beleza (estereotipagem pura).
Então, digo que Gilmore Girls é uma série de mulheres, sim (ou mesmo ''de mulherzinha'', se o diminutivo te faz sentir maior e melhor em sua santa ignorância), e ISSO É ÓTIMO. Porque coisas de mulheres são ótimas. É uma série de mulheres sendo incríveis e fazendo coisas incríveis (apesar das incontáveis falhas e do meu perrengue pessoal com cada personagem), oferecendo ao expectador um vislumbre de todo o complexo, rico e fascinante universo que nós criamos e ocupamos - nós, mulheres -, e que deve ser reconhecido e bem representado.
Saindo um pouco dessa questão mais crítica, quero falar sobre a minha identificação pessoal com a série.
Eu fui assistir GG pronta pra me encontrar na Rory, por causa de toda a faceta mais nerd diferentona (desculpa por usar esse termo, sociedade) dela. Nem pensei muito na Lor. Tal foi a minha surpresa quando vi que a Lorelai É A MINHA CABEÇA.
Sabe como ela não cala a boca, vive fazendo comentários bizarros sobre tudo que a cerca, deixando as pessoas sem entender nada e sem conseguir acompanhar o fluxo de raciocínio, porque parece incompreensível e não dá pra assimilar como ela faz aqueles links entre ocorrências cotidianas e as milhares de informações que povoam a mente dela? Eu me vi bastante nisso, nesse fluxo de pensamentos bizarros que ela propele - e eu, por minha vez, me policio pra conter.
Estava falando com um amigo esses dias, e depois do quinto ''hãn?'' dele, com a expressão de confusão que se seguiu a um comentário rápido meu durante o assunto que ele desenvolvia, pensei algo do tipo ''Carolina, SI ACALME, não dá pra exigir que as pessoas entendam essa baderna da tua cabeça em tempo real e sem um tempinho pra tomar fôlego, então deixa ele falar o que tem pra falar e fica quietinha durante o processo, pra soltar a enxurrada de pensamentos que tu tem só no final, quando vai dar tempo de explicar tudo''. Literalmente preciso mandar o meu cérebro calar a boca.
Isso vive acontecendo. Eu vivo tendo que parar o que estou dizendo pra adotar outra abordagem (ou encerrar de todo minhas participações nos diálogos, que normalmente me cansam mais do que me satisfazem) na minha forma de expressão porque percebo que as pessoas simplesmente tão com cara de wtf sem entender nada do que eu estou dizendo.
Não sou do time I <3 EMILY RAINHA porque achei completamente desprezíveis muitas atitudes dela durante a série, movidas pelo esnobismo (uma das coisas que eu mais odeio nesse mundo) e pela arrogância; mas, por causa de vários outros aspectos, parte de mim olha pra ela com a admiração que ela merece por tudo o que construiu - e gosto dela, sim.
Temos esse exemplo e muitos outros envolvendo as três protagonistas (desde os primeiros episódios, embora ela apareça menos, percebi que era essencial inserir a Emily nesse ciclo principal) durante a série.
GG não é uma série fútil, vazia, tosca e superficial. Não foi por nenhuma ''falta de conteúdo'' que ela me exauriu um pouco, porque isso ela tem de sobra e evidencia ao trazer questões muito válidas e reais para a tela. É ridículo, preconceituoso e sexista assumir que por ser voltada ao público feminino (embora, para alguns, isso ainda seja discutível) ela é uma produção frívola em que só vemos reclamações sobre penteados que deram errado ou experiências ruins no salão de beleza (estereotipagem pura).
Então, digo que Gilmore Girls é uma série de mulheres, sim (ou mesmo ''de mulherzinha'', se o diminutivo te faz sentir maior e melhor em sua santa ignorância), e ISSO É ÓTIMO. Porque coisas de mulheres são ótimas. É uma série de mulheres sendo incríveis e fazendo coisas incríveis (apesar das incontáveis falhas e do meu perrengue pessoal com cada personagem), oferecendo ao expectador um vislumbre de todo o complexo, rico e fascinante universo que nós criamos e ocupamos - nós, mulheres -, e que deve ser reconhecido e bem representado.
Saindo um pouco dessa questão mais crítica, quero falar sobre a minha identificação pessoal com a série.
Eu fui assistir GG pronta pra me encontrar na Rory, por causa de toda a faceta mais nerd diferentona (desculpa por usar esse termo, sociedade) dela. Nem pensei muito na Lor. Tal foi a minha surpresa quando vi que a Lorelai É A MINHA CABEÇA.
Sabe como ela não cala a boca, vive fazendo comentários bizarros sobre tudo que a cerca, deixando as pessoas sem entender nada e sem conseguir acompanhar o fluxo de raciocínio, porque parece incompreensível e não dá pra assimilar como ela faz aqueles links entre ocorrências cotidianas e as milhares de informações que povoam a mente dela? Eu me vi bastante nisso, nesse fluxo de pensamentos bizarros que ela propele - e eu, por minha vez, me policio pra conter.
Estava falando com um amigo esses dias, e depois do quinto ''hãn?'' dele, com a expressão de confusão que se seguiu a um comentário rápido meu durante o assunto que ele desenvolvia, pensei algo do tipo ''Carolina, SI ACALME, não dá pra exigir que as pessoas entendam essa baderna da tua cabeça em tempo real e sem um tempinho pra tomar fôlego, então deixa ele falar o que tem pra falar e fica quietinha durante o processo, pra soltar a enxurrada de pensamentos que tu tem só no final, quando vai dar tempo de explicar tudo''. Literalmente preciso mandar o meu cérebro calar a boca.
Isso vive acontecendo. Eu vivo tendo que parar o que estou dizendo pra adotar outra abordagem (ou encerrar de todo minhas participações nos diálogos, que normalmente me cansam mais do que me satisfazem) na minha forma de expressão porque percebo que as pessoas simplesmente tão com cara de wtf sem entender nada do que eu estou dizendo.
Interações sociais são um tanto dramáticas e traumáticas pra mim por isso, já que além de não ver muito significado no que grande parte das pessoas ao meu redor discute (uiiii, diferentona - sou mesmo), eu deixo todo mundo meio confuso (não por ser transcendental, genial ou superior, mas por motivos de ESQUISITICE CONGÊNITA mesmo) quando surge algo de meu interesse e eu decido opinar.
Me sinto um alien nas rodinhas de diálogo, e pra evitar todo esse estranhamento e inadequação, opto por me eximir de ter qualquer participação mais significativa quando essa atividade surge, e acabo sendo uma pessoa de monossílabos (aham, sim, sei, bah, pior, verdade isso aí, hahaha, também acho, será? não sei...) pra evitar as caras de ''o que raios você tá falando?!'' quando abro a boca pra externar meus pensamentos.
Então foi meio engraçado pra mim não me perceber somente em uma ou em outra, mas como um híbrido entre as duas personagens: por fora eu sou a Rory e todo o seu comedimento calculado; por dentro, a bagunça Lorelai toma conta.
Fico imaginando quem mais teve o mesmo sentimento, e até considero um traço meio intencional pensado pelos roteiristas e criadores das duas, porque o dualismo é bastante óbvio e gritante.
Ainda falando sobre identificação, mas esquecendo um pouco a Lorelai para falar da minha conexão (ou falta de) com a Rory: talvez o principal motivo pelo qual fui assistir à série (além de não aguentar mais ver referências a ela e outras pessoas falando sobre sem entender nada) foi pela promessa de que eu me encontraria demais na Rory, e a personagem poderia vir a ser o epítome da minha representação pessoal num seriado de TV.
Eu ouvia que a Rory era uma leitora compulsiva que carregava livros pra cima e pra baixo, fazia melhores amigos dentro das páginas e era o tipo de pessoa que acabava virando BFF de bibliotecários(as) pela frequência com que se encontrava com eles(as) entre as estantes (David, meu bibliotecário, te venero); ouvia que ela era uma das melhores alunas da turma e o tipo de pessoa a quem os colegas pagariam para fazer seus trabalhos (semanas atrás escrevi um texto pra faculdade da minha vizinha, que pediu minha ajuda, e eu cobrava 3,50 por trabalho - normalmente resenhas - feitos na nona série; vários pastéis foram custeados com essas somas ilegais no recreio, então digamos que esse tipo de coisa acontece na minha vida); li que ela era meio deslocada por viver mais dentro dos livros (e outras referências culturais) do que na vida real, e que normalmente causava estranhamento nas pessoas, que não conseguiam entender a acidez dos comentários dela; eu soube que a Rory tinha dificuldades de interação (TÃO EU que vou me poupar de maiores comentários, porque plmdds) e que era aquela pessoa que ficava com um livro no recreio, enquanto todo mundo fazia guerra de comida na cantina ou whatever...
Me sinto um alien nas rodinhas de diálogo, e pra evitar todo esse estranhamento e inadequação, opto por me eximir de ter qualquer participação mais significativa quando essa atividade surge, e acabo sendo uma pessoa de monossílabos (aham, sim, sei, bah, pior, verdade isso aí, hahaha, também acho, será? não sei...) pra evitar as caras de ''o que raios você tá falando?!'' quando abro a boca pra externar meus pensamentos.
Então foi meio engraçado pra mim não me perceber somente em uma ou em outra, mas como um híbrido entre as duas personagens: por fora eu sou a Rory e todo o seu comedimento calculado; por dentro, a bagunça Lorelai toma conta.
Fico imaginando quem mais teve o mesmo sentimento, e até considero um traço meio intencional pensado pelos roteiristas e criadores das duas, porque o dualismo é bastante óbvio e gritante.
Ainda falando sobre identificação, mas esquecendo um pouco a Lorelai para falar da minha conexão (ou falta de) com a Rory: talvez o principal motivo pelo qual fui assistir à série (além de não aguentar mais ver referências a ela e outras pessoas falando sobre sem entender nada) foi pela promessa de que eu me encontraria demais na Rory, e a personagem poderia vir a ser o epítome da minha representação pessoal num seriado de TV.
Eu ouvia que a Rory era uma leitora compulsiva que carregava livros pra cima e pra baixo, fazia melhores amigos dentro das páginas e era o tipo de pessoa que acabava virando BFF de bibliotecários(as) pela frequência com que se encontrava com eles(as) entre as estantes (David, meu bibliotecário, te venero); ouvia que ela era uma das melhores alunas da turma e o tipo de pessoa a quem os colegas pagariam para fazer seus trabalhos (semanas atrás escrevi um texto pra faculdade da minha vizinha, que pediu minha ajuda, e eu cobrava 3,50 por trabalho - normalmente resenhas - feitos na nona série; vários pastéis foram custeados com essas somas ilegais no recreio, então digamos que esse tipo de coisa acontece na minha vida); li que ela era meio deslocada por viver mais dentro dos livros (e outras referências culturais) do que na vida real, e que normalmente causava estranhamento nas pessoas, que não conseguiam entender a acidez dos comentários dela; eu soube que a Rory tinha dificuldades de interação (TÃO EU que vou me poupar de maiores comentários, porque plmdds) e que era aquela pessoa que ficava com um livro no recreio, enquanto todo mundo fazia guerra de comida na cantina ou whatever...
Ao ler todas essas coisas sobre a personagem, fui induzida a pensar e fui me convencendo de que, quando eu encontrasse a Rory na tela, ela seria, basicamente... eu.
Comecei a ver Gilmore Girls, entre outras coisas, porque na minha cabeça Rory Gilmore me representaria dentro da cultura pop melhor do que ninguém, e toda vez que eu precisasse de uma referência externa pra ilustrar algo do meu cotidiano, era a GIFs dela no tumblr que eu recorreria.
Pode parecer meio nonsense, mas enfim, espero que tenha dado pra entender o pensamento.
Só que, em vez disso, o maior motivo pelo qual fui assistir à série se tornou também o que mais quebrou meu encantamento com ela. Porque eu esperava me ver muito em Rory Gilmore, e quando nosso encontro finalmente ocorreu, a Rory com quem me deparei era... perfeita demais.
...Até o fim da quinta temporada.
Eu sei que a vida já é bem complicada e difícil por si só, fora das telas de TV, computador, smartphone ou das páginas de um romance, e que a gente recorre a seriados, filmes e livros pra fugir de toda essa merda que é jogada no ventilador diariamente. Mas, como eu disse, eu não consigo mais comprar a ideia de perfeição (ainda mais quando ela se apresentaria em sete temporadas seguidas, com 22 episódios cada) e isso passou a ser algo incompatível pra mim.
Comecei a ver Gilmore Girls, entre outras coisas, porque na minha cabeça Rory Gilmore me representaria dentro da cultura pop melhor do que ninguém, e toda vez que eu precisasse de uma referência externa pra ilustrar algo do meu cotidiano, era a GIFs dela no tumblr que eu recorreria.
Pode parecer meio nonsense, mas enfim, espero que tenha dado pra entender o pensamento.
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Rory com os livros é meu espírito animal. |
Passei os primeiros episódios me vendo nela, especialmente por causa da ~coisa com livros~, mas isso se rompeu quando percebi que ela era a melhor filha do mundo, a melhor neta do mundo, a melhor
amiga do mundo, melhor vizinha do mundo (Stars Hollow inteira venerava a Rory), melhor aluna do mundo, melhor pretendente do mundo (víamos caras, literalmente, saindo no soco por ela), melhor tudo do mundo. Ela era uma garota
modelo em praticamente todos os aspectos (até fisicamente, porque a atriz parece um anjo; mas não quero entrar nesse mérito aqui, é algo secundário).
Rory era perfeita. Perfeita demais... e eu não consigo mais comprar a ideia de perfeição, porque já
tentei muito sustentar esse estigma e isso só me rendeu frustração e
desapontamento. A figura de menininha perfeita me cansava, não me convencia e eu passei a achá-la um saco.
Muita gente que olha de longe me vê como uma espécie de modelo em
certos aspectos – quase na mesma intensidade em que causo estranhamento por outros aspectos socialização cof cof. Porque leio muito e todo mundo
sabe disso, porque tiro boas notas (ou tirava; já concluí o ensino médio,
afinal), porque alguma coisa em mim parece gritar que eu sou a intelectual, esperta e esforçada da
turma (devo ter uma BAITA cara de nerd, porque basta me verem pra concluírem automaticamente que eu sou muito CDF e dizerem coisas do tipo "pergunta pra ela, ela é esperta e sabe" ALL THE TIME; não preciso nem dizer nada, é incrível). E eu sou algumas dessas coisas, sim, em certa medida. Mas não é a medida real
que as pessoas veem, e sim algo muito mais idealizado e distante, que eu (e
aparentemente apenas eu) sei que está além da realidade.
Eu vivo muito debaixo da expectativa de terceiros nos ciclos
sociais que frequento, e gasto um bocado de energia tentando fazê-los perceber
que em incontáveis aspectos eu não sou o que eles acham.
Ver a Rory sendo tão perfeita, se
vendo tão perfeita (e isso fica ainda mais claro no revival) e sendo vista
como tão perfeita acabou sendo cansativo, extenuante e inverossímil demais pra
mim, porque é uma ilusão recorrente na minha vida e eu trabalho muito para desconstruí-la.
Lá pelo começo da segunda temporada, eu comecei a ficar genuinamente incomodada e até um pouco irritada com aquela superestimação toda, com a maneira com que todo mundo gritava que RORY GILMORE É UMA GAROTA PERFEITA (as primeiras cenas em que ela aparece, logo no primeiro episódio, são visivelmente projetadas pra que essa seja a nossa primeira impressão, e todos sabemos que gealmente é ela que fica), e comecei a me perguntar se algum outro expectador tinha visto isso e se incomodado com esse olhar idealizado tanto quanto eu. Quer dizer, SERÁ QUE NINGUÉM MAIS TÁ VENDO QUÃO ERRADO ISSO É?!
Lá pelo começo da segunda temporada, eu comecei a ficar genuinamente incomodada e até um pouco irritada com aquela superestimação toda, com a maneira com que todo mundo gritava que RORY GILMORE É UMA GAROTA PERFEITA (as primeiras cenas em que ela aparece, logo no primeiro episódio, são visivelmente projetadas pra que essa seja a nossa primeira impressão, e todos sabemos que gealmente é ela que fica), e comecei a me perguntar se algum outro expectador tinha visto isso e se incomodado com esse olhar idealizado tanto quanto eu. Quer dizer, SERÁ QUE NINGUÉM MAIS TÁ VENDO QUÃO ERRADO ISSO É?!
Mais tarde, lendo alguns textos, vi que isso incomodou
muita gente além de mim e esse ponto ainda é uma das coisas mais discutidas da série. Que bom.
Eu vi muita gente adotando a trama de GG como se fosse sua própria narrativa e tomando partido das personagens para, se não defendê-las, no mínimo, entendê-las, e é legal quando é possível ocorrer essa imersão no conteúdo que consumimos; indica qualidade e competência no que foi produzido. Tendo isso em vista, acho que as pessoas levantam tantas questões e desenvolvem tantos textões (como eu estou fazendo agora, mesmo não me sentindo tanto parte do "clubinho Gilmore Girls", essa comunidade tão unida e doce) em cima da série porque ela retrata muitos conflitos com os quais vários de nós nos deparamos - inclusive eu, que vivia me debatendo com a ideia de perfeição que projetavam sobre mim e eu sabia ser extremamente errônea.
E quando eu via os episódios, essa coisa idílica ia além da Rory; li muitas frases em que as pessoas diziam se identificar com a série pela maneira com que tudo parecia real, e essa foi outra percepção que não me acometeu na mesma intensidade; as coisas em GG me pareciam bonitas e quadradinhas demais, sabe? Davam certo demais. Stars Hollow já tem todo aquele clima meio lúdico em que todos os vizinhos se conhecem, existem tradições bonitinhas pra unir a comunidade, mesmo as rixas entre os habitantes compilam discussões e momentos fofos, há emoticons de coraçãozinho voando pelos ares ao som da melodia doce que sai do violão do trovador da cidade... Enfim, tudo parecia muito comercial de margarina pra mim.
E quando eu via os episódios, essa coisa idílica ia além da Rory; li muitas frases em que as pessoas diziam se identificar com a série pela maneira com que tudo parecia real, e essa foi outra percepção que não me acometeu na mesma intensidade; as coisas em GG me pareciam bonitas e quadradinhas demais, sabe? Davam certo demais. Stars Hollow já tem todo aquele clima meio lúdico em que todos os vizinhos se conhecem, existem tradições bonitinhas pra unir a comunidade, mesmo as rixas entre os habitantes compilam discussões e momentos fofos, há emoticons de coraçãozinho voando pelos ares ao som da melodia doce que sai do violão do trovador da cidade... Enfim, tudo parecia muito comercial de margarina pra mim.
Não que isso seja necessariamente ruim (não é); a cidade é o que torna o ambiente da série tão aconchegante. Só estou tentando enfatizar como tudo se mostrava tão bucólico aos meus olhos.
Mesmo com dificuldades financeiras, Rory não sofreu nenhuma privação, e embora ela tenha se esforçado por muito do que conquistou com mérito, não podemos negar que várias outras coisas caíram no colo dela - sorte que nem todos os personagens Paris cof cof da série tiveram. Ela fazia parte da sortuda e escassa parcela de privilegiados com recursos no mundo (e ignorava completamente esse fato, como a gente vê no episódio em que ela escreve um artigo ridicularizando "os riquinhos" do universo do Logan, como se ela fosse algo muito distante daquilo - coisa que ela não era); conseguiu a melhor escola, conseguiu ser a oradora da turma, conseguiu a
faculdade que queria (até agora acho meio wtf a Paris não ter conseguido entrar
em Harvard, sendo tão ou mais esforçada quanto Rory; me pareceu uma tentativa
de destacar ainda mais, de maneira gritante e não muito natural, toda a imaculabilidade
da Gilmore), o posto de redatora chefe, etc etc...
Tudo isso, essa perfeição que aos meu olhos aparecia em neon verde
limão com glitter piscando na tela, me fez começar a achar as coisas um pouco toscas e a me cansar da série, contando os segundos para que os 42 minutos de cada episódio passassem logo.
Da promessa de algo que viria a ser uma referência pessoal para mim, Rory se transformou numa personalidade impalatável e fatigante.
Da promessa de algo que viria a ser uma referência pessoal para mim, Rory se transformou numa personalidade impalatável e fatigante.
Tão idealizada, correspondendo tanto às expectativas (com exceção da COMPLETA CAGADA final com o Dean), tão perfeita, tão diferente de mim...
...Até o fim da quinta temporada.
No fim da quinta temporada (o seriado tem 7 ao todo), tudo parece errado, incerto, confuso e falho. Rory levou uma rasteira profissional do chefe no estágio dela (e pai do namorado Logan), que disse que ela, basicamente, não tinha talento pra ser jornalista (O Sonho de sua vida) e que não iria pra frente. Depois de cinco temporadas ouvindo que ela era a número um em tudo, a menina especial e impecável que sempre se destaca, a primeira porta é fechada em sua cara. Obviamente, ela se descontrola, perde as estribeiras, começa a questionar toda a construção que fez de si mesma e do seu futuro, e passa a considerar a possibilidade de não ser tudo isso que todos sempre disseram que ela era - coisa na qual ela acreditou.
No maior nervous breakdown da série, ela larga a faculdade (a ponte para o seu maior sonho), briga sério com a mãe e vai morar na casa dos avós, fazendo parte da sociedade da qual ela e Lorelai sempre quiseram fugir (reuniões do DAR, jantares chiques, chá com senhorinhas ricas, eventos aristocráticos etc), e basicamente mandando um dane-se pra tudo que ela construiu até ali.
No fim da quinta temporada, tudo está errado. Tudo é um grande ?! piscando no mesmo neon verde limão que antes gritava PERFEIÇÃO. Tá tudo uma baderna, um drama, em crise, colapsando.
No maior nervous breakdown da série, ela larga a faculdade (a ponte para o seu maior sonho), briga sério com a mãe e vai morar na casa dos avós, fazendo parte da sociedade da qual ela e Lorelai sempre quiseram fugir (reuniões do DAR, jantares chiques, chá com senhorinhas ricas, eventos aristocráticos etc), e basicamente mandando um dane-se pra tudo que ela construiu até ali.
No fim da quinta temporada, tudo está errado. Tudo é um grande ?! piscando no mesmo neon verde limão que antes gritava PERFEIÇÃO. Tá tudo uma baderna, um drama, em crise, colapsando.
Foi a minha season finale preferida.*
*Até porque tem a cena da Lor pedindo o Luke em casamento depois de um discurso inflamado dele, inconformado com a situação da Rory e planejando sequestrar (!) ela pra levar de volta pra Yale; talvez seja minha cena favorita da série toda.
Eu sei que a vida já é bem complicada e difícil por si só, fora das telas de TV, computador, smartphone ou das páginas de um romance, e que a gente recorre a seriados, filmes e livros pra fugir de toda essa merda que é jogada no ventilador diariamente. Mas, como eu disse, eu não consigo mais comprar a ideia de perfeição (ainda mais quando ela se apresentaria em sete temporadas seguidas, com 22 episódios cada) e isso passou a ser algo incompatível pra mim.
Eu precisava de um pouco de imperfeição, de falha, de crise, de uma mostra de que Rory Gilmore era sim uma semelhante, afinal. E a quinta temporada me deu isso, de forma bem mais contundente que qualquer outra crise já retratada antes.
Quando vi a cena em que Rory vai à casa dos avós, completamente desamparada emocionalmente, encontra o vô, solta umas frases desconexas que diziam basicamente TÁ TUDO ERRADO NÃO SEI MAIS O QUE TÔ FAZENDO SOCORRO, e, enquanto o Richard releva e só diz que está meio atarefado (porque ele ainda não entendeu a gravidade da situação), ela começa a chorar sozinha no meio da sala, escondendo o rosto e pressionando as mãos sobre a barriga num jeito de abraçar o próprio corpo desconsoladamente - porque não tinha ninguém ao lado e ela precisava urgentemente de um abraço -, eu finalmente me vi em Rory Gilmore. Pra caramba.
Naquele abraçar desesperado o próprio corpo, eu me vi tapando o rosto e fazendo o mesmo, plantada sozinha no meio da cozinha da minha casa, com meus pais olhando sem entender nada, quando tive uma crise nervosa que me deixou à beira de um surto psicótico no terceiro ano do ensino médio. Me vi abraçando a mim mesma sentada na sala da orientadora da escola, pedindo lenços de papel pra assoar o nariz enquanto ela dava batidinhas no meu joelho e dizia que ia ficar tudo bem - mesmo depois de eu ter fugido de uma aula de educação física no ginásio, por causa da sensação de carregar um peso terrível ao ver que todos pareciam tão felizes e empolgados com o futuro e eu só conseguia me sentir engolida pelo pavor e pela incerteza. Me vi no meio da sala de uma psiquiatra querida que parou comigo, pegou um papel e uma caneta e começou a desenhar os meus neurônios (sim), explicando tudo o que estava acontecendo na minha cabeça, enquanto eu tentava (e falhava) não me debulhar em lágrimas e ela me perguntava se ela não era uma boa médica (ela era), e dizia que eu poderia ser uma também; tudo isso no 24horas da cidade ao qual meus pais me levaram quando não sabiam mais o que fazer quando a bomba relógio (eu) tinha explodido no colo deles.
Ao ver a Rory ali, daquele jeito, chorando e se abraçando, Gilmore Girls me tocou pela primeira vez, porque além de me parecer real mais do que nunca, me lembrou de mim mais do que nunca.
Eu sei que pode parecer uma visão bem negativista: o momento mais difícil da personagem foi o que mais me fez me reconhecer nela - coisa na qual todas as outras inúmeras características que tínhamos em comumLIIIIIIVROOOOS não foram tão certeiras. Mas eu já passei do tempo de encarar esses conflitos e dramas com realismo, de frente, reconhecendo que eles existiram, aconteceram e fizeram parte do que, pelo menos por um momento, fui eu.
Aquela cena foi um divisor de águas na minha maneira de enxergar a série. Foi o que me reconciliou com Gilmore Girls (depois da ruptura que tinha havido entre nós a partir da segunda temporada, mais ou menos) e fez ela conseguir, finalmente e apesar de várias ressalvas, um espacinho querido dentro do meu coração.
Não é como se de repente eu passasse a ignorar todos os outros aspectos da série que me incomodavam um pouco - muitos dos quais continuaram se repetindo no roteiro, mesmo depois da quinta temporada (e no revival também, inclusive; fica claro que Rory ainda se tem em bem alta conta - mas eu gostei de ver a desconstrução de vários estigmas que encobriam a personagem); não é como se agora eu tivesse sido arrebatada e só soubesse despejar elogios e declamar meu amor; não é como se agora meu coração não estivesse mais dividido (ele está) e meus sentimentos não fossem mais conflituosos ou até meio incoerentes (eles são; esse texto tá aqui pra ilustrar isso, afinal) a respeito da série.
Quando vi a cena em que Rory vai à casa dos avós, completamente desamparada emocionalmente, encontra o vô, solta umas frases desconexas que diziam basicamente TÁ TUDO ERRADO NÃO SEI MAIS O QUE TÔ FAZENDO SOCORRO, e, enquanto o Richard releva e só diz que está meio atarefado (porque ele ainda não entendeu a gravidade da situação), ela começa a chorar sozinha no meio da sala, escondendo o rosto e pressionando as mãos sobre a barriga num jeito de abraçar o próprio corpo desconsoladamente - porque não tinha ninguém ao lado e ela precisava urgentemente de um abraço -, eu finalmente me vi em Rory Gilmore. Pra caramba.
Naquele abraçar desesperado o próprio corpo, eu me vi tapando o rosto e fazendo o mesmo, plantada sozinha no meio da cozinha da minha casa, com meus pais olhando sem entender nada, quando tive uma crise nervosa que me deixou à beira de um surto psicótico no terceiro ano do ensino médio. Me vi abraçando a mim mesma sentada na sala da orientadora da escola, pedindo lenços de papel pra assoar o nariz enquanto ela dava batidinhas no meu joelho e dizia que ia ficar tudo bem - mesmo depois de eu ter fugido de uma aula de educação física no ginásio, por causa da sensação de carregar um peso terrível ao ver que todos pareciam tão felizes e empolgados com o futuro e eu só conseguia me sentir engolida pelo pavor e pela incerteza. Me vi no meio da sala de uma psiquiatra querida que parou comigo, pegou um papel e uma caneta e começou a desenhar os meus neurônios (sim), explicando tudo o que estava acontecendo na minha cabeça, enquanto eu tentava (e falhava) não me debulhar em lágrimas e ela me perguntava se ela não era uma boa médica (ela era), e dizia que eu poderia ser uma também; tudo isso no 24horas da cidade ao qual meus pais me levaram quando não sabiam mais o que fazer quando a bomba relógio (eu) tinha explodido no colo deles.
Ao ver a Rory ali, daquele jeito, chorando e se abraçando, Gilmore Girls me tocou pela primeira vez, porque além de me parecer real mais do que nunca, me lembrou de mim mais do que nunca.
Eu sei que pode parecer uma visão bem negativista: o momento mais difícil da personagem foi o que mais me fez me reconhecer nela - coisa na qual todas as outras inúmeras características que tínhamos em comum
Aquela cena foi um divisor de águas na minha maneira de enxergar a série. Foi o que me reconciliou com Gilmore Girls (depois da ruptura que tinha havido entre nós a partir da segunda temporada, mais ou menos) e fez ela conseguir, finalmente e apesar de várias ressalvas, um espacinho querido dentro do meu coração.
Não é como se de repente eu passasse a ignorar todos os outros aspectos da série que me incomodavam um pouco - muitos dos quais continuaram se repetindo no roteiro, mesmo depois da quinta temporada (e no revival também, inclusive; fica claro que Rory ainda se tem em bem alta conta - mas eu gostei de ver a desconstrução de vários estigmas que encobriam a personagem); não é como se agora eu tivesse sido arrebatada e só soubesse despejar elogios e declamar meu amor; não é como se agora meu coração não estivesse mais dividido (ele está) e meus sentimentos não fossem mais conflituosos ou até meio incoerentes (eles são; esse texto tá aqui pra ilustrar isso, afinal) a respeito da série.
Não penso nela como aquela produção confortável que eu vou colocar na tela pra ficar olhando até adormecer, porque a perspectiva de encarar vários episódios ainda me remete a um cansaço sem sono.
Mas depois do que estava passando a ser quase uma antipatia (embora, durante todo esse tempo, eu ainda reconhecesse a série como a ótima produção que ela é), Gilmore Girls se transformou em algo que verdadeiramente falou comigo, e que conquistou um espaço em mim.
Entre tapas e beijos (às vezes mais tapas, às vezes mais beijos), nos entendemos.
A série não é perfeita para mim; mas, como eu fiz questão de frisar várias vezes nesse texto, eu não consigo comprar a ideia de perfeição. Nessa última frase, esse conceito é aplicado de diferentes formas: em uma, diz respeito à qualidade; em outra, a uma representação duvidosa. Mas, abrindo mão da semântica aqui e abraçando toda a enorme confusão e incoerência desse texto (sério, alguém entendeu o que eu quis dizer?), finjo que é tudo a mesma coisa e digo que talvez justamente por ser imperfeita é que eu acabo, no fim, conseguindo comprar Gilmore Girls e ter ela um pouquinho pra mim também.
Mas depois do que estava passando a ser quase uma antipatia (embora, durante todo esse tempo, eu ainda reconhecesse a série como a ótima produção que ela é), Gilmore Girls se transformou em algo que verdadeiramente falou comigo, e que conquistou um espaço em mim.
Entre tapas e beijos (às vezes mais tapas, às vezes mais beijos), nos entendemos.
A série não é perfeita para mim; mas, como eu fiz questão de frisar várias vezes nesse texto, eu não consigo comprar a ideia de perfeição. Nessa última frase, esse conceito é aplicado de diferentes formas: em uma, diz respeito à qualidade; em outra, a uma representação duvidosa. Mas, abrindo mão da semântica aqui e abraçando toda a enorme confusão e incoerência desse texto (sério, alguém entendeu o que eu quis dizer?), finjo que é tudo a mesma coisa e digo que talvez justamente por ser imperfeita é que eu acabo, no fim, conseguindo comprar Gilmore Girls e ter ela um pouquinho pra mim também.
'*'*'*'*'*'*'
Foi meio complicado escrever e publicar
esse texto (ele tá há semanas nos rascunhos), porque é uma tarefa delicada
falar (nem em todos os momentos de forma lisonjeira) de uma produção tão
significativa pra muita gente (A Série da Vida não é pouca coisa, não). Mas seria
injusto me eximir de escrever sobre (ainda mais quando a escrita tem cumprido
uma função tão terápica pra mim) por receio de como ele vai ser recebido
por algumas pessoas.
Mas enfim, a despeito dos meus dramas,
reforço aqui que Gilmore Girls é muito boa, merece ser vista, tá no meu coração com
carinho etc e tal.
Não sei se deu pra entender. Por via das
dúvidas, assista à série... Mas não prometo que isso vai ajudar a interpretar
corretamente esse meu monólogo interminável (desculpa por isso, a propósito).
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