Do Stephen King
Uma das minhas metas como leitora é ler todas as obras do Stephen King, há muito um dos meus escritores favoritos da vida. Só que a tarefa vai ser difícil, tendo em vista a carreira prolífica dele, um dos autores contemporâneos mais publicados (com mais de 60 best sellers ele pode muito bem patentear a expressão ''beijinho no ombro''). Sendo assim, eu começo pelos mais notórios mesmo (ou pelo que aparecer na minha frente antes), porque não me preocupo em ser imparcial. Claro que O Iluminado estava nessa leva.Jack é um professor ginasial com manias de escritor que é demitido depois de um surto de raiva em que agrediu um aluno, principalmente levado por seu temperamento explosivo e pelo alcoolismo. Sem perspectiva de sustento e tendo que manter a estabilidade financeira para a esposa, Wendy, e o filho, Danny, ele se agarra à oportunidade de ser zelador temporário de um hotel distante e enorme localizado entre as montanhas do Colorado, o Overlook, durante a temporada de inverno, quando as estadias são interrompidas devido ao intenso fluxo de neve que impossibilita o acesso ao local e confina os hóspedes.
Todo ano a administração do hotel contrata alguém para ocupar a propriedade nesse período e cuidar da manutenção. Pareciam ser as pseudo férias que ele precisava para concluir a peça que está escrevendo, longos e lânguidos meses isolado com a esposa e o filho no meio do nada longe das preocupações do mundo exterior e das tentações da bebida. Mas existem alguns problemas (além dos instintos destrutivos de Jack): o Overlook não é um hotel normal e seu filho Danny não é uma criança normal.
Aos poucos Jack vai descobrindo uma série de eventos grotescos e mórbidos que ocorreram na propriedade, que abrigou pessoas perigosas e foi palco de assassinatos e mortes misteriosas. E o pior: o último zelador teve um surto psicótico em que assassinou sua família e depois cometeu suicídio.
Conforme o inverno vai avançando e eles ficam mais confinados naquele local, o espírito maligno do Overlook começa a se manifestar e percebemos o hotel como uma entidade autônoma e senciente que começa a atormentar a família com todos os tipos de aparições e alucinações perturbadoras. Tudo isso parece ser potencializado pela figura intrigante de Danny, um menininho inocente que contém em si um nível impressionante de paranormalidade, desde pequeno ouvindo e vendo coisas, revelando instintos oniscientes e prevendo o futuro. A mediunidade latente de Danny, essa criatura iluminada que dá título ao livro, parece instigar o Overlook e alimentar todo o seu poder tirânico sobre as vidas cativas nele; o hotel parece desejar o garoto de alguma forma.
E como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco e a arte imita a vida - especialmente auxiliada pela precisão assombrosa com que King transita sobre a psique humana (eu disse que era parcial) -, Jack, esse alcoólatra impulsivo, colérico e inveterado, começa a ceder à pressão do Overlook e a flertar cada vez mais com a insanidade que o hotel incute nele progressivamente, induzindo-o a pensar que a família está tramando contra ele e sua futura-orando-muito carreira de escritor e que para manter o controle sobre sua prole como um macho alfa de verdade deve assegurar ele precisa tomar atitudes radialistas e fazer coisas bem, bem ruins.
E é então que coisas bem, bem perturbadoras começam a acontecer.
Esse livro é um thriller psicológico em sua melhor forma, uma delícia, a pedida certa para aquele momento de lazer em que você só precisa se preocupar em se divertir... De um jeito meio mórbido, claro, mas Stephen King. É fácil devorá-lo em pouco tempo porque apesar das manias narrativas exacerbadas do King (segundo alguns; acho na medida certa porque como ele mesmo já disse sobre si, também tenho um "problema com inchações na escrita", então lê-lo é reconfortante porque atesta que tenho salvação-orando-muito) o livro é muito fluído.
Pra mim o mais interessante é a maneira com que King discorre e desenvolve com propriedade os retratos que faz das mazelas psicológicas humanas em seus personagens (nesse caso o vício alcoólico e a loucura, praticamente codependentes), sempre parecendo ter pleno conhecimento de causa.
"Mas era um alcoólatra emocional tanto quanto físico, ambos, sem dúvida, ligados em algum ponto, em seu interior, onde não se podia ver."
Mesmo tratando-se de personagens fictícios, sempre tenho a impressão de ouvir um semelhante falando sobre suas intempéries e ele me passa a segurança de saber que é alguém com quem eu conversaria sobre meus problemas psicológicos sem receio, medo e me despindo da cautela habitual - e necessária. A imagem que pude emitir do escritor através das leituras que fiz dele, quando o assunto é humanidade pura e simples, é: ele entenderia.
O Iluminado ilustra a transição gradativa de um homem que vai da sanidade frágil à degradação mental completa: vemos de camarote Jack enlouquecer, como qualquer homem ou mulher atipicamente vulnerável naquela situação enlouqueceria impulsionado pela malignidade do Overlook. Isso não ocorre espontaneamente e unicamente por obra da natureza errática do protagonista, porque a atuação do hotel tem muito peso nesse processo de degeneração. Seria a cara do Stephen King fazer um cara pirar como resultado único de suas cadeias emocionais e nada mais, mas não: o Overlook realmente não é um lugar bom.
Mas a questão é que Jack é o único a se perder por completo, apesar de Danny ser o médium que dialoga com o bizarro e o sobrenatural e Wendy estar numa condição de fragilidade e apreensão imensas, vivenciando há anos um casamento oscilante e problemático com um marido alcoólatra.
Mas, como dito, a corda sempre arrebenta do lado mais frágil, e Jack, apesar de ser o homem e, portanto, a força física dominante, é ex-mas-não-tão-ex-alcoólatra, impulsivo, violento, colérico e irreflexivo. É o lado mais fraco naquele cenário.
Assim, O Iluminado é antes um livro sobre como é fácil enlouquecer se seu controle emocional já for dúbio em circunstâncias atenuantes que um livro sobre um hotel assombrado.
E, francamente, embora eu prefira me ver como Wendy com a faca na mão escondida entre o pano de prato ou como Danny tendo visões que podem mudar o rumo da história e garantir salvação, não tem sido muito difícil me ver como Jack, se embriagando com uma cerveja imaginária num balcão abandonado, falando com um bartender que na verdade é uma alucinação e nem está lá, enquanto todo o equilíbrio de sua vida desmorona ao seu redor.
"TODO GRANDE HOTEL TEM UM FANTASMA. POR QUÊ? DIABO, AS PESSOAS VÊM E VÃO..."
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