Da Ryan Graudin
Hak Nam é um lugar sombrio e perigoso que abriga assassinos,
traficantes, ladrões, prostitutas e os piores tipos de criminosos que
vivem na obscuridade às margens da sociedade. É uma cidade murada constituída
somente por prédios decrépitos cujos andares se empilham infinitamente,
obstruindo a passagem da luz do sol e condenando os moradores a uma vida na
escuridão. Um lugar sem lei, abandonado pelo resto do mundo, onde as
autoridades não ousam entrar e em que a ilicitude e a criminalidade são a norma
padrão e qualquer um que não se enquadre nela precisa de muita sorte para
sobreviver e não acabar numa vala.
Mas Jin Ling não tem apenas sorte. Ela sobrevive como menina, num mundo em que mulheres são condenadas à escravidão sexual e maus-tratos, graças à sua astúcia e determinação... Além da velocidade. Jin finge ser um garoto maltrapilho para esconder de todos seu sexo, seu maior segredo entre aqueles muros, e não ser raptada por um dos bordéis horríveis da cidade, comandados pelos chefões do crime, o único destino possível para as mulheres em Hak Nam. Ela sobrevive com o que consegue roubar (geralmente de gangues eternamente em seu encalço) em seus corres. Jin é extremamente veloz e é com essa habilidade que ela permanece sobrevivendo à degradação daquele lugar do qual todos fogem, se mantendo firme em seu único propósito: encontrar a irmã mais velha, Mei Yee, vendida pelo pai aos Ceifadores, que a levaram à Hak Nam para servir de escrava sexual dois anos antes.
O único bordel que ela ainda não tinha vasculhado à procura da irmã era aquele comandado por Longwai, o chefe da Irmandade, o pior de todos os lugares e o mais difícil de acessar. Então Dai, um garoto misterioso, surge propondo-lhe (sem saber que ela é uma menina) um corre de drogas para a Irmandade, em que precisaria de um corredor excepcional como Jin, e a garota vê a oportunidade de finalmente procurar sua irmã naquele lugar tenebroso, apesar de todos os riscos.
Dai é um menino com um passado nebuloso que vamos desvendando aos poucos. Ele tem uma origem rica, quase imperial, e sabemos que está em Hak Nam para tentar cumprir um acordo que limpará seu passado de um evento tenebroso que o condenaria a uma vida sem esperanças. Mas ele sabe que uma ficha limpa não apagará os traumas que carrega consigo, já que o triste destino que seu irmão caçula teve foi em parte responsabilidade sua.
Para concluir sua missão com sucesso e cumprir o acordo feito com autoridades esquecidas naquela terra sem lei, ele precisa, assim como Jin, adentrar a fortaleza da Irmandade, o bordel que esconde os segredos mais obscuros da quadrilha dominante na cidade, e sua única chance é usar como fachada a postura de delinquente juvenil que ajuda no tráfico. Mas além da ajuda de Jin Ling (que não tem pleno conhecimento sobre as intenções do menino), ele descobre que seria essencial ter um contato dentro do próprio bordel, alguém que pudesse lhe fornecer informações que ele não conseguiria acessar de seu posto limitado como ocasional traficante. Alguém como uma das garotas exploradas e enclausuradas ali... Alguém como Mei Yee.
Mei Yee é uma menina muito doce que está perdendo toda a esperança que nutria num futuro em que conquistaria a liberdade e conseguiria fugir do bordel de Longwai, onde passou cada minuto dos seus dias e noites nos últimos dois anos. Ela não sabe mais como se manter forte e lúcida e passa mais tempo do que seria sensato encarando a única janela a que as meninas têm acesso no bordel, que por um privilégio incômodo fica em seu quarto, tentando imaginar quando e se ela poderá sentir o ar que corre do lado de fora em seu rosto novamente, mas sem ter nenhuma grande perspectiva.
Então Dai, esse garoto desconhecido, aparece em sua janela depois de escalar o prédio da Irmandade, com ideias que podem fazer os anseios de liberdade de Mei Yee irem além de meras ponderações.
Ao longo das quase quatrocentas páginas do livro são esses os três protagonistas que acompanhamos em capítulos intercalados em que o eu-lírico ora é um, ora é outro, nos permitindo adotar a perspectiva de cada um deles e assimilar todo o panorama em que se contextualiza a história, com um assombro especial quando sabemos de onde a autora tirou sua inspiração.
Depois de um certo tempo passei a ter receio de apostar em Young Adults, uma consequência natural de não ser mais a Carolina de 13 anos. Mas eu nunca fui burra o suficiente pra achar que YAs são categoricamente ruins ou besteira, e sempre penso no gênero com carinho, quando não com uma necessidade muito gritante de achar algum livro dentro da categoria que embalará algumas horas minhas com uma imersividade boa ao ponto de me distrair de tramas mais intrincadas e me fazer esquecer o quanto é chato tentar ter sempre uma ''mente de adulto''COF COF.
A Cidade Murada é bom o suficiente para isso. Eu o devorei. Tem um enredo inventivo, personagens cativantes, uma trama bem desenvolvida e a dose certa de leveza que não pode faltar a um livro do tipo. Não é bom para um YA, é bom como um YA. Dá pra sacar a diferença?
Apesar dos temas pesadíssimos que aborda, ele mantém a leveza típica de livros voltados a adolescentes, então não espere uma coisa trevosa, bad vibes, suicidal e minha alma está definhando.
É um livro muito bom e a escolha perfeita para aquele interlúdio entre LeItUrAs AdUlTaS que ninguém deveria ser obrigado a enfrentar sem uma pausinha pra respirar e lembrar do quanto é gostoso poder se divertir lendo algo que foi escrito para pessoas com dez anos a menos que você. =]
Não posso concluir essa resenha sem falar que apesar da premissa do livro parecer uma mera distopia bem pensada, a ideia de Hak Nam veio à autora quando ela descobriu a cidade murada de Kowloon, coisa grotesca que realmente existiu em Hong Kong até o início dos anos 90, com uma dinâmica que se encaixa com exatidão no que Ryan Graudin descreve aqui: um lugar sem lei e perdido, dominado por quadrilhas, onde sobrevive o mais forte e dominam os mais cruéis.
Mesmo que o livro não te interesse de nenhuma forma, sugiro que pesquise sobre Kowloon ou pelo menos veja as fotos da área com seus prédios medonhos no google imagens. O absurdo dessa realidade que beirou o surreal não é nada desinteressante, e a perturbação sentida ao imaginarmos quantas Mei Yees, Jin Lings e Dais existiram (a existência dos dois últimos é improvável, eu sei; mas a da primeira certamente ocorreu aos montes) e sofreram de verdade e além das páginas de uma ficção distópica não pode ser ignorada.
O único bordel que ela ainda não tinha vasculhado à procura da irmã era aquele comandado por Longwai, o chefe da Irmandade, o pior de todos os lugares e o mais difícil de acessar. Então Dai, um garoto misterioso, surge propondo-lhe (sem saber que ela é uma menina) um corre de drogas para a Irmandade, em que precisaria de um corredor excepcional como Jin, e a garota vê a oportunidade de finalmente procurar sua irmã naquele lugar tenebroso, apesar de todos os riscos.
Dai é um menino com um passado nebuloso que vamos desvendando aos poucos. Ele tem uma origem rica, quase imperial, e sabemos que está em Hak Nam para tentar cumprir um acordo que limpará seu passado de um evento tenebroso que o condenaria a uma vida sem esperanças. Mas ele sabe que uma ficha limpa não apagará os traumas que carrega consigo, já que o triste destino que seu irmão caçula teve foi em parte responsabilidade sua.
Para concluir sua missão com sucesso e cumprir o acordo feito com autoridades esquecidas naquela terra sem lei, ele precisa, assim como Jin, adentrar a fortaleza da Irmandade, o bordel que esconde os segredos mais obscuros da quadrilha dominante na cidade, e sua única chance é usar como fachada a postura de delinquente juvenil que ajuda no tráfico. Mas além da ajuda de Jin Ling (que não tem pleno conhecimento sobre as intenções do menino), ele descobre que seria essencial ter um contato dentro do próprio bordel, alguém que pudesse lhe fornecer informações que ele não conseguiria acessar de seu posto limitado como ocasional traficante. Alguém como uma das garotas exploradas e enclausuradas ali... Alguém como Mei Yee.
Mei Yee é uma menina muito doce que está perdendo toda a esperança que nutria num futuro em que conquistaria a liberdade e conseguiria fugir do bordel de Longwai, onde passou cada minuto dos seus dias e noites nos últimos dois anos. Ela não sabe mais como se manter forte e lúcida e passa mais tempo do que seria sensato encarando a única janela a que as meninas têm acesso no bordel, que por um privilégio incômodo fica em seu quarto, tentando imaginar quando e se ela poderá sentir o ar que corre do lado de fora em seu rosto novamente, mas sem ter nenhuma grande perspectiva.
Então Dai, esse garoto desconhecido, aparece em sua janela depois de escalar o prédio da Irmandade, com ideias que podem fazer os anseios de liberdade de Mei Yee irem além de meras ponderações.
Ao longo das quase quatrocentas páginas do livro são esses os três protagonistas que acompanhamos em capítulos intercalados em que o eu-lírico ora é um, ora é outro, nos permitindo adotar a perspectiva de cada um deles e assimilar todo o panorama em que se contextualiza a história, com um assombro especial quando sabemos de onde a autora tirou sua inspiração.
Depois de um certo tempo passei a ter receio de apostar em Young Adults, uma consequência natural de não ser mais a Carolina de 13 anos. Mas eu nunca fui burra o suficiente pra achar que YAs são categoricamente ruins ou besteira, e sempre penso no gênero com carinho, quando não com uma necessidade muito gritante de achar algum livro dentro da categoria que embalará algumas horas minhas com uma imersividade boa ao ponto de me distrair de tramas mais intrincadas e me fazer esquecer o quanto é chato tentar ter sempre uma ''mente de adulto''
A Cidade Murada é bom o suficiente para isso. Eu o devorei. Tem um enredo inventivo, personagens cativantes, uma trama bem desenvolvida e a dose certa de leveza que não pode faltar a um livro do tipo. Não é bom para um YA, é bom como um YA. Dá pra sacar a diferença?
Apesar dos temas pesadíssimos que aborda, ele mantém a leveza típica de livros voltados a adolescentes, então não espere uma coisa trevosa, bad vibes, suicidal e minha alma está definhando.
É um livro muito bom e a escolha perfeita para aquele interlúdio entre LeItUrAs AdUlTaS que ninguém deveria ser obrigado a enfrentar sem uma pausinha pra respirar e lembrar do quanto é gostoso poder se divertir lendo algo que foi escrito para pessoas com dez anos a menos que você. =]
Não posso concluir essa resenha sem falar que apesar da premissa do livro parecer uma mera distopia bem pensada, a ideia de Hak Nam veio à autora quando ela descobriu a cidade murada de Kowloon, coisa grotesca que realmente existiu em Hong Kong até o início dos anos 90, com uma dinâmica que se encaixa com exatidão no que Ryan Graudin descreve aqui: um lugar sem lei e perdido, dominado por quadrilhas, onde sobrevive o mais forte e dominam os mais cruéis.
Mesmo que o livro não te interesse de nenhuma forma, sugiro que pesquise sobre Kowloon ou pelo menos veja as fotos da área com seus prédios medonhos no google imagens. O absurdo dessa realidade que beirou o surreal não é nada desinteressante, e a perturbação sentida ao imaginarmos quantas Mei Yees, Jin Lings e Dais existiram (a existência dos dois últimos é improvável, eu sei; mas a da primeira certamente ocorreu aos montes) e sofreram de verdade e além das páginas de uma ficção distópica não pode ser ignorada.
''QUANDO ME ENCAROU, EU SOUBE QUE ELA ERA E NÃO ERA JOVEM AO MESMO TEMPO.''
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