09/01/2017

O Grupo

De Mary McCarthy
Ainda não sei bem dizer se gostei ou não do livro. Ele certamente é bem escrito, com personagens bem construídos e um enredo elaborado. Mas ao fim (366 páginas) fiquei com um sentimento vago de...???...Não sei dizer. Não tenho certeza se a mensagem que a autora queria transmitir conseguiu ser assimilada por mim, daquele jeito sutil e incalculado que um leitor absorve e incorpora no âmago de si mesmo o livro que lê, entendem? Mas, de um jeito bem impreciso e abstrato, essa leitura conseguiu um espacinho carinhoso em minhas memórias de leitora. Mas a verdade é que eu não sei bem o que falar sobre ela, e sempre gosto de extrair um aprendizado pessoal dos livros, que exponho nas resenhas. Mas vamos lá, vejamos o que sai aqui.
Somos apresentados a um grupo de oito meninas (longe de mim lembrar o nome de todas elas agora) bem apessoadas, de boas famílias e que cresceram no ambiante privilegiado daqueles que nascem em berço de ouro, com boas posses. O livro começa com o casamento de uma delas, Kay, logo após o octeto ter se formado numa das mais ilustres universidades dos Estados Unidos, Vassar. 
A partir de então, cada uma segue sua vida nesse mundo novo de responsabilidades próprias que se descortinam diante delas. Num intervalo de cerca de 7 anos que antecede um acontecimento fatídico que obviamente não revelarei aqui, vemos as iniciações das moças (cujo protagonismo é intercalado entre capítulos -uma hora lemos sobre uma, depois outra e outra, assim vai) em diversas situações e condições com que elas não haviam tido ocasião de se deparar antes: as primeiras experiências sexuais, a busca por emprego e estabilidade, as relações amorosas, o casamento, as traições, o desequilíbrio, as doenças e depressões, a maternidade, desilusões e morte. Enfim, várias das coisas que, ocasionalmente, todo mundo enfrenta.
Todo mundo passa por uma (ou muitas) dessas coisas. Todos nós já enfrentamos ou morte, ou doenças, ou desilusões etc. Tanto que já estamos acostumados a isso; é a vida, acontece e chega um momento em que passa a ser natural.
E acho que o trunfo do livro é podermos observar, nessas personagens, os primeiros momentos de desventura, quando ser traída, perder alguém, não ter sustento e passar por desilusões é novidade para elas. Não natural, como é pra nós, eu e você, que está lendo isso. Entende?
Elas são ''virgens'' para o mundo, e o que vemos no livro é a ''perda de virgindade'' (sejamos metafóricos agora, por favor) diante da vida.(Não gosto de fazer analogias com sexo, muito menos virgindade, mas vamos adiante e me desculpem por isso.) Porque nunca tiveram que passar pelas coisas que, ao longo do livro, precisam enfrentar.
Ao longo de extensa narrativa vemos correr o desenvolvimento da vida dessas moças, cujo cotidiano sofre transformações desde aquele dia do casamento de Kay, quando recém haviam saído de Vassar.
O interessante do livro (observar vidas sendo vividas da maneira naturalmente problemática que ocorre a todos) também cabe como seu fator entendiante, afinal de contas, o que há de novo em ver que a vida, às vezes sempre, não é fácil?
Sobre o volume em si, ele é extremamente denso. Páginas e mais páginas de pura narrativa sem nenhum diálogo. Ele é massivo e corre o risco de, por isso, ser maçante. Mas consigui fazer fluir, sim. Foi meu primeiro livro do ano. :) As páginas são de tamanho médio mas o que as torna, à primeira vista, difíceis de encarar, é o tamanho minúsculo das letras, que cobrem aquela folha quadrada quase até a extremidade das bordas.
Um ponto negativo que observei é que, em trezentas e tantas páginas, a autora poderia ter se aprofundado mais nas histórias narradas, fazendo com que a narrativa fosse menos impessoal. Os dramas poderiam ter sido mais explorados e esmiuçados...Ou talvez tenham sido, mas não consegui mergulhar tanto neles porque a escrita não foi tão envolvente para mim (embora apreciável e digna, a seu modo). Me pareceu muito imparcial, entendem? E por isso foi mais difícil para mim poder tomar partido também. Mas essa foi a forma com que a autora decidiu desenvolver o romance e respeito muito isso; vejo que não deixa o livro aquém de diversas expectativas. De fato, ele foi muito renomado e louvado nos meios literários.
Uma observação interessante que a autora ressaltou em dado momento, foi a possibilidade de aquela educação requintada, superestimada, cheia de cuidados, luxos e exclusividade que as personagens receberam no início de sua vida e formação, ter causado danos no resto de seu desenvolvimento em idade adulta, em meio à sociedade e ''vida real''. Elas foram cercadas por privilégios que não as acompanhariam pelo resto da vida. E após ficar anos tendo esses cuidados como parte integrante de seus dias, como sobreviver sem eles, quando as responsabilidades e a necessidade de crescer batessem à porta?
Acho esse um assunto muito interessante: pessoas mimadas e onde habitam quão diferente da realidade são suas vidas.
Mas enfim, pra isso aqui não acabar virando uma análise psicológica básica, vamos pro trechinho final, e declaro encerrada essa resenha. ;]

''-VOCÊ REALMENTE ACHA QUE NOSSA EDUCAÇÃO FOI ERRADA? - PERGUNTOU PRISS, APREENSIVA. [...]
-OH, COMPLETAMENTE - RESPONDEU NORINE -PELO MEU LADO, TORNOU-ME NUMA ESPÉCIE DE ALEIJADA PARA O RESTO DA VIDA.''

2 comentários:

  1. Talvez a autora pudesse ter se aprofundado mais se não fossem 8 personagens? Às vezes isso acaba obrigando a autora a fazer tipo um "malabarismo" pra poder dar conta de todas as histórias das personagens ao mesmo tempo, até porque como todas se conhece, provavelmente mesmo depois de adultas as vidas delas devem se intercalar.

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    1. Tu tá certa, esse certamente computa entre os motivos de algumas vezes a narrativa ter dado aquela impressão de ''foi passando por cima''. OITO pessoinhas não é fácil de administrar, haha.
      Ademais, como eu disse, algo no livro me fez gostar dele. =)

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