14/02/2017

O Pequeno Príncipe

De Antoine de Saint-Exupéry (wtf)
Peguei emprestado de um amigo (oiiii, Danieeel) que tava me devendo ele há meses e com quem me reencontrei esses dias depois da criatura ter sumido do mapa... e finalmente reaparecido.
A informação mais consistente que eu tinha sobre O Pequeno Príncipe era ‘’é o livro das misses’’. Quem ainda não ouviu essa? A frase ficou famosa depois da quantidade de concorrentes de concursos de miss darem o título desse livro, diante das perguntas sobre cultura que fazem nessas competições. Mas como detesto esses concursos babacas, vamos parar por aqui.
Então eu basicamente não sabia o que esperar, e me surpreendi quando recebi o exemplar em mãos. Embora eu tenha ouvido também outra frase ‘’é um livro de crianças que serve também para os adultos’’, aquelas páginas cheias de ilustrações fofinhas (feitas pelo autor, vale constar) e com uma letra enorme me pegaram desprevenida.
Logo comecei a pensar: ‘’como assim um livro de crianças para adultos? Sobre o que é essa bagaça, afinal?’’ E pra quem quer a resposta a essas perguntas, ela é uma só: leia o livro. ;)
Mas vamos ver se consigo responder de outra forma aqui, também.
Logo na primeira página entramos na cabeça de um homem que não sabe desenhar e discorre sobre como, quando criança, os adultos nunca acertavam os desenhos que ele fazia. Logo percebemos o descontentamento desse cara com o universo adulto e a maneira com que ele parece estar em constante desacordo com o universo infantil e com todas as coisas belas e simples que aparentemente só as crianças conseguem ver e eprceber. Depois descobrimos que esse cara se tornou um piloto de avião que tá caído no Saara (pois é) e que, em meio à confusão e desespero de não saber se vai conseguir consertar o aeroplano a tempo de não findar o estoque de comida e água, dá de cara com um menininho pequeno de cabelo dourado em trajes engraçados: O Pequeno Príncipe.
Ele mostra seus desenhos de infância ao principezinho e este de cara acerta o que eles retratam. Sua simpatia por essa criaturinha incógnita começa por aqui.

*Observação: há, na primeira página, o desenho de um...chapéu? (NÃO é um chapéu) que esse homem desenhou e fica exposto no livro. A figura ficou famosa e quem leu jamais vai esquecer (até porque constantemente ele aparece na internet).*

Descobrimos que o Príncipe veio de um planeta distante (o asteroide B612) e minúsculo, onde ele habitava sozinho e onde existiam uma rosa falante e três pequenos vulcões, além de, vez ou outra, árvores enormes, os Baobás, que por terem quase o dobro do tamanho do planetinha, poderiam destruir tudo. O Príncipe se ocupava em proteger sua plantinha do frio, cuidar dos três vulcões, impedir o crescimento do Baobás e ver quantos pores do sol ele quisesse (num planetinha pequeno, bastava andar alguns passos para estar do outro lado) até que resolve sair em exploração por outros planetas. E cai na Terra.
Para mim, o ponto alto do livro é quando ele visita diversos planetas e em cada um deles encontra um adulto diferente demonstrando uma característica específica do ‘’universo adulto’’; há o rei, o vaidoso, o empresário, o bêbado e por aí vai, cada parada recheada de diálogos bonitinhos e inteligentes  que nos fazem sorrir ironizando hábitos, costumes e modelos típicos de ‘’pessoas crescidas’’.
Na história a coisa toda é abordada de uma maneira muito alegórica e engraçada, o que nos faz esquecer que aquelas figuras são reais e MUITO. Estão entre a gente, são a gente. Todo mundo conhece um vaidoso, um bêbado vagabundo ou alguém que se acha rei, porque o universo do livro retrata, em outros planetas, o que existe na Terra.
Além dessa grande excursão do principezinho, os outros trechos do livro trazem diálogos cobertos de divagações acerca do tópico ~vida adulta que se torna tosca ao tentar se afastar da simplicidade da infância~.
Eu sou apaixonada pela psicologia desse assunto, gosto de entrar em devaneios sobre a vida, velhice, morte, infância e tudo mais (42 –pegaram a referência?), e o livro é um prato cheio pra quem gosta de mergulhar nesse tipo de reflexão. Só que, claro, a coisa toda é abordada de maneira bem simplista e singela, em contexto de livro infantil.
Fiquei pensando bastante sobre todas as diferenças que permeiam esses dois mundos, infantil e adulto, e sobre como, em mim, não quero que um se dissocie do outro completamente, jamais. Não tenho vergonha de saber e admitir que boa parte de mim ainda é uma criança, mesmo com quase 19 anos de idade. Corro com elas, brinco de esconde-esconde, subo em árvore e tá tudo bem, isso é bom, é saudável. A doença começa quando começamos a esquecer que já tivemos menos de um metro e trinta, sem emprego e luxos, e éramos felizes assim, na beleza da simplicidade que nem notávamos ser tão simples.

Claramente fiz um ensaio fotográfico com o livro, mas ok.

Sempre me pego observando adultos em conflito com crianças de maneira, olha só que irônico, infantil (infantil de um jeito imaturo, não bonito) e fico tentando imaginar como eles conseguiram esquecer completamente que já foram como esses pequenos, porque uma incompreensão óbvia se estampa em seus rostos barbudos e desenvolvidos e você só não compreende o que não conhece, certo?
Quando os adultos deixam de conhecer a criança que já foram? É nesse ponto que a tristeza da velhice (que não tem razão pra ser triste) começa.

Não vou contar o desfecho do Pequeno Príncipe e do piloto de avião grande; deixo isso pra você descobrir, se quiser.

Dedicatória do autor:
A Léon Werth
Peço perdão à crianças por dedicar esse livro a uma pessoa grande. Tenho um bom motivo: essa pessoa grande é o melhor amigo que possuo. Tenho um outro motivo: essa pessoa grande é capaz de compreender todas as coisas, até mesmo os livros de criança. Tenho ainda um terceiro motivo: essa pessoa grande mora na França e ela tem fome e frio. Ela precisa de consolo. Se todos esses motivos não bastam, eu dedico então esse livro à criança que essa pessoa grande já foi. Todas as pessoas grandes foram um dia crianças -mas poucas se lembram disso. Corrijo, portanto, a dedicatória:
A Léon Werth
quando ele era criança

(Só eu achei isso lindo demais?)

2 comentários:

  1. Sou suspeita para falar deste livro pois ele é um dos meus favoritos da vida. Acho que ele trás uma mensagem tão bonita que a cada nova leitura você tira uma lição diferente.

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    1. Ele é um amorzinho mesmo. Ele não chega a estar entre meus favoritos, mas gosto muito, sim, e seu caráter pedagógico é indiscutível.
      Amei a leveza e a beleza dessa leitura. :)

      Obrigada pelo comentário!

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